sexta-feira, outubro 30, 2009

Para Descansar a Vista


















De Luiza Neto Jorge dois poemas nesta Sexta feira de nevoeiro aqui por Lisboa,

Palavras fortes e sentidas de uma Mulher admirável, que nas palavras dos seus Editores foi uma:
"Consciência feminina da escrita e inventora de uma poesia crua em que o corpo da linguagem se confunde com o corpo do sujeito poético"

Minibiografia

Não me quero com o tempo nem com a moda
Olho como um deus para tudo de alto
Mas zás! do motor corpo o mau ressalto
Me faz a todo o passo errar a coda.

Porque envelheço, adoeço, esqueço
Quanto a vida é gesto e amor é foda;
Diferente me concebo e só do avesso
O formato mulher se me acomoda

E se nave vier do fundo espaço
Cedo raptar-me, assassinar-me, cedo:
Logo me leve, subirei sem medo
À cena do mais árduo e do mais escasso.

Um poema deixo, ao retardador:
Meia palavra a bom entendedor.

Venho de dentro, abriu-se a porta...

Venho de dentro, abriu-se a porta:
nem todas as horas do dia e da noite
me darão para olhar de nascente
a poente e pelo meio as ilhas.

Há um jogo de relâmpagos sobre o mundo
de só imaginá-la a luz fulmina-me,
na outra face ainda é sombra
Banhos de sol
nas primeiras areias da manhã
Mansidões na pele e do labirinto só
a convulsa circunvolução do corpo.

Luiza Neto Jorge
A Lume
Poesia -organização e prefácio de
Fernando Cabral Martins
Assírio & Alvim

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