segunda-feira, março 05, 2007

Ainda os CTT face à Privatização e tendo como pano de fundo a defunta OPA



Alguns Amigos , neste fim de semana, criticaram a minha forma um pouco atávica de entender a derrota da OPA da SONAE.COM e, pelo contrário, bradaram aos céus contra este Governo e este País que nunca mais se modernizam, defendendo neste século XXI ainda a continuidade do mercado fechado, dos compadrios e a manutenção do Corporativismo...

Começo por dizer que até pode ser verdade, mas para quem pensa que somos os únicos não há nada como convencê-los a ver o que se passa aqui mesmo ao lado, em Espanha...

Tentem lá ir abrir um Banco em Madrid... Ou entrar no Mercado espanhol das Comunicações...

A verdade é esta: nesta altura em que as vantagens competitivas se medem ao milimetro e já não ao centimetro (quanto mais ao metro...) é natural que um Governo queira manter dentro das suas opções estratégicas um Sector tão importante com o das Telecomunicações, pois com ele terá mais "alavanca" para orientar os caminhos de desenvolvimento do País.

É certo que os adeptos da livre concorrência absoluta e do neo-liberalismo (ouviram ou leram os comentários da Autoridade da Concorrência a esta OPA?) desejariam mais liberdade de acção para os capitais - nacionais ou estrangeiros - temendo que este "chumbo" não deixe de dar um sinal negativo ao Investimento estrangeiro de que o País tanto necessita.

Parece-me assim estar estabelecido um paradoxo do qual o País terá dificuldade em fugir:

- A necessidade de desenvolvimento que passa pela atracção do Investimento
- O temor atávico de se perder controlo dos rumos da Economia se deixada ao livre arbítrio do Mercado.

Governos de Centro-Direita teriam orientado a CGD noutro sentido de voto? Teriam exercido o seu Direito de Veto? Talvez não... A atracção pelo controlo do Poder será tão grande em José Sócrates como em Marques Mendes.

A questão - em minha opinião - não é essa, mas sim saber o que seria melhor para o País...

E nesse sentido acho que o melhor para o País seria dizer Sim à primeira opção (voto da CGD a favor da OPA) e não à segunda (Veto do Estado).

Sim à primeira opção seria o que este Governo talvez também devesse ter feito. Numa análise hipócrita ex-post já sabemos que - independentemente do voto da CGD - a OPA nunca passaria e o Governo daria um sinal de apoio ao tal Investimento estrangeiro...

Não à segunda opção ( a do Veto) obviamente para demonstrar publicamente a Portugal e ao Mundo que a tal Golden Share não passa de um "tigre de papel" (não acreditem!!!)

Mas não foi feito assim.

Em 2009 - poderá ser um pouco mais tarde, veremos como as duas Presidências Alemã e Portuguesa da União vão adiantar ou atrasar esta fase da liberalização dos Serviços Postais - os Correios entram teoricamente em concorrência perfeita no mercado das Cartas (que ainda hoje representa uma % das mais significativas da sua Receita).

Os eventuais interessados no nosso mercado de Correio de Cidade (obviamente o único apetecível) vão ter de pensar se se justifica entrar de novo ou antes comprar quem já cá esteja...

As duas hipóteses são possíveis. Mão de Obra relativamente ávida de mudança (reparem que eu poderia DIZER O CONTRÁRIO...) abundará mesmo dentro dos CTT para constituir a (s) nova(s) empresas. E mesmo ( ou sobretudo) ao nível das chefias...

O mito da fidelidade e do amor à camisola não é mais do que isso mesmo: um Mito.

Quando o Capital dos CTT-Correios for aberto aos privados (reparem que já não digo "se"...) é óbvio que o investidor se vai querer livrar do Serviço Universal obrigatório, sendo infinitamente mais atraente começar por comprar a CTTExpresso que a ele não está obrigada. Para mais, com essa compra (para além das competências e da máquina de Tratamento dos grossos) adquire também rede e tecnologia de distribuição de "finos"...

Restará então aos velhos CTT "aguentarem-se à bronca" com a sua tecnologia de Tratamento de finos e com a distribuição excêntrica, tentando, por um lado, alugar a bom preço os seus centros de tratamento ao "inimigo" e, por outro lado, negociar o melhor possível o Last Mile regional junto dos outros operadores.

Na prática em que é que isto será assim tão diferente do acesso às redes da PT? Só se for pelo Volume de Negócios... E já não será pouco.

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