segunda-feira, março 02, 2015

Rescaldo do Prémio Universidade de Coimbra

O  dia  de ontem foi bem passado. Sempre em Coimbra.

Meteu almoço na "Taberna", meteu dois grandes vinhos (Bairrada branco Principal de 2009 e Luis Pato Baga de 1988), e obviamente que meteu a sessão de homenagem ao amigo José Quitério.

Algumas notas interessantes sobre momentos desse dia:

 - Quando o Sr. António Quitério,  Pai do Zé,  estava à espera para se inscrever em Direito na UC achou que a fila era muito longa. Por esse motivo inscreveu-se antes em Matemática (que, vá-se lá saber porquê, tinha a fila mais curta)... Cinco anos depois, já licenciado em Matemática,  tirou o curso de Direito. Bons tempos ...
Esta historinha foi contada pelo homenageado, ao dedicar com alguma emoção o prémio recebido à memória de seu Pai.

- Já antes o Dr. António Arnault, aluno do Pai Quitério em Tomar, tinha recordado a figura de pai e filho, relatando pormenores muito engraçados da vida que partilhou com ambos.

- O Engº José Bento dos Santos falou sobre a figura do José Quitério. Foi uma palestra muito interessante, discorrendo sobre a noção do "gosto" na vida moderna.  A palavra "gosto" vem da gastronomia e pela sua abrangência de sentido viu a respectiva utilização ultrapassar em muito os limites da cozinha e dos paladares. Quando alguém decora uma casa com qualidade diz-se que "teve muito bom gosto", não se diz que "teve boa vista"...

- E recordo bem a propósito Zé Quitério no seu melhor:  um dos mais conceituados chefs do mundo afirmara que, a partir de agora, o gosto passa a ser secundário, o que interessa são as texturas e as suas ligações. Eu, perante isto, além de exclamar impropérios, digo: querem seguir por esse caminho? À vontade! Mas não comigo e com pessoas, talvez a maioria, para quem o gosto é o fundamental!

- O texto escolhido para demonstrar a "sapiência" do homenageado foi (tinha que ser ) o canónico "Um Adeus Português". A famosa elegia ao bacalhau que David Lopes Ramos - entre outros - considerava o mais perfeito texto da língua portuguesa sobre o "fiel amigo". Quem ainda não o conhece pode começar já a preparar os "maravedis" para comprar o próximo livro do Zé onde será este texto magnífico reeditado.  Sairá em Março. Sim, neste Março.

E termino com uma referência (cortesia wine.pt) ao Luis Pato do ano de 1988 na Bairrada. Para alguns considerado o melhor ano do século XX para aqueles vinhos.

"Um tinto mítico de uma das grandes colheitas da Bairrada, o primeiro grande vinho de Luis Pato, o tinto que o catapultou para o cume da hierarquia nacional. Uma vintena de anos em estágio agora emancipados, no momento certo, no ponto ideal de consumo!

Em prova cega, seria impossível dar-lhe vinte anos. O vinho parece muito mais jovem, ainda desinquieto e turbulento, ainda vibrante e tenso. Mas o passar de tempo acrescentou-lhe a sabedoria que só a idade pode proporcionar, complexidade e harmonia difíceis de igualar, uma paz de espírito notável que lhe sobrepôs uma elegância pouco habitual. E pensar que este era o vinho mais simples de Luis Pato, o vinho de entrada de gama, isto, claro, numa altura em que ainda não existiam nenhum dos posteriores rótulos especiais. São estas as sensações que mais nos cativam no mundo do vinho, a descoberta das pequenas diferenças, das subtilezas, das nuances e ornamentos, dos pequenos detalhes que transformam um vinho maduro numa experiência de vida tão perfeita."

Nota: Fotografia de José Quitério  retirada da reportagem do Expresso , Revista "E", de 10 Janeiro de 2015


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