Nunca gostei muito de listas.
Já nasci anafado e as listas horizontais faziam-me parecer (ainda) mais gordo. E quanto às listas verticais, sempre me pareceu serem mais dignas dos filmes de gansters, daqueles senhores que usavam camisa cinzenta de risca preta com gravata preta, por baixo de fatos pretos de três peças.
Tolerava as listas das clássicas gravatas regimentais britânicas, na altura em que estavam na moda. Hoje, já nem por isso.
E sobre as "outras" listas? As de nomes, moradas e outros detalhes?
Chegada a tarde da vida (melhor dito, o "depois do almoço", o início da digestão) a memória já não é o que era, pelo que admito precisar de auxílio para manter a "lista" dos meus contactos vivinha da silva. Fora essa, que me faz falta embora não seja obrigado a amá-la, confesso que não ligo a mais "lista" nenhuma.
Por isso esta questão da "Lista das Finanças" me apanhou um bocado de surpresa.
Eu sempre admiti - se calhar sem razão nenhuma - que um dos fringe benefits da malta que trabalhava a mexer na informação dos outros era exactamente poder coscuvilhar a vida dos outros...
O gerente da nossa conta no banco, o fiscal das finanças, o merceeiro que sabe o que compramos, até o médico que deve ter - depois dos 50 anos dos doentes - ficheiros sobre as nossas partes privadas que dariam um livro (ou dois). Para não falar do farmacêutico que "avia" o viagra, ou as pílulas do dia seguinte. Com ou sem receita médica.
Estamos a enganar quem? Neste mundo lusitano e provinciano saber da vida dos outros é um "must". Pode-se fingir que não se sabe e que até é imoral, pouco ético ou fora da lei meter o nariz nessas coisas. Mas que há quem lá meta o nariz, desde sempre, isso não duvido.
Leiam o Eça. Leiam o Camilo. Pouco ou nada mudámos.
Recordo-me do velho amigo Américo (do Sagres) que se habituou a espalhar o dinheiro que tinha ( e que não seria pouco) por vários bancos. E quando questionado pelos colegas da profissão sobre esta "idiotice" que não lhe dava músculo ("leverage" como diriam os banqueiros) com nenhum banco, apenas respondia:
- "Da minha vida sei eu! Não é o gerente de um banco que me vai contar os trocos todos."
Porque é que haveríamos de ser todos iguais perante a Autoridade Tributária e Aduaneira? Apenas porque está lá escrito na Constituição?
Também está lá escrito que somos todos iguais perante a Justiça , a Educação, a Doença, ou o Bem Estar . E nesse aspecto não somos nada iguais mesmo... Depende da carteira.
Depende cada vez mais do peso da carteira.
Esta situação desculpa a "estória das listas da AT"? Não. Nunca.
Tal como não se desculparia se descobríssemos que uma lista de doentes à espera de quimioterapia num hospital do estado fosse "politicamente" orientada... Primeiro a malta com cartão do SLB, depois a do SCP... Ou ao contrário.
Uma coisa é a prática diária da desbunda nacional. Outra coisa é a desbunda ser oficial e garantida em papel passado e com selo branco.
E aí, por enquanto, ainda não chegámos! (Acho eu, que prefiro quadradinhos às listas...)
segunda-feira, março 23, 2015
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