Todos temos em casa caixas de papelão antigas com fotografias e papéis, caixas de cartão com livros que não cabem nas prateleiras (este é o meu caso mais gritante), caixas cheias de brinquedos antigos e de roupas que já não nos servem, mas que segundo a tendência optimista de cada um de nós, "ainda podem vir a servir".
Na última "rabanada" de vento que dei a estas antiguidades foi possível dar muitas coisas (roupas e brinquedos) a organizações de solidariedade social. Mas quando chega a questão dos velhos livros parece que cai o Carmo e a Trindade.
Os livros não são para dar? Teóricamente concordo com isso. Mas quando se aproxima a data de fazer a escolha? Nem pensar. Volta tudo outra vez para a caixa de onde saíu...
Tanto eu como o "senhorio" temos paixões assolapadas pelos nossos livros. E como somos nesse aspecto compradores compulsivos e obsessivos, é bem de ver que já não há espaço linear de parede para tanto livro, e começa a faltar espaço volumétrico para os 15 caixotes de 70x70x70 que se equilibram (mal) em cima uns dos outros na cave.
Quando tiramos do pó do esquecimento algum livro é normal que traga consigo memórias da 1ª vez que se leu, das circunstâncias dessa primeira leitura , e por aí fora. Qualquer livro se transforma desta maneira numa espécie de repositório do passado do seu dono. E isto - pelo menos para mim - é difícil deitar fora.
A possibilidade de começar a armazenar os livros novos em formato e-book foi uma grande lufada de ar fresco que entrou por aquela casa. Temos já uma biblioteca razoável, com mais de 200 títulos nesse formato. O único problema é que usamos o IPad mais novo para armazenar a biblioteca que é comum a ambos... E isso pode dar faísca às vezes.
Há que comprar outro IPad e segregar as "livrarias". Mas já repararam quantas obras em formato e-book se podem comprar pelo preço de um IPad?? Difícil decisão, até porque o e-book não se cheira nem se apalpa... Mas necessária.
Forçado pela inevitabilidade da escassez do espaço - a casa na quinta é bem maior, mas os livros podem estranhar estar afastados dos donos, e podem ainda por cima passar frio lá na serra - dou comigo a perguntar se não estou (estamos) a transformar-nos naquela criatura com problemas mentais a que chamam na literatura da especialidade um "Hoarder" (acumulador patológico)?
A Clínica Mayo descreve esta condição:
Hoarding disorder is a persistent difficulty discarding or parting with possessions because of a perceived need to save them. A person with hoarding disorder experiences distress at the thought of getting rid of the items. Excessive accumulation of items, regardless of actual value, occurs.
Pode ser que ainda não esteja a chegar aí, a esse extremo, mas deve haver qualquer coisa estranha em mim no que diz respeito aos livros e à sua posse.
Como é que alguém - como eu - que normalmente "dá tudo a toda a gente" e é geralmente conhecido como "um mãos largas", se pode transformar em "tio patinhas das encadernações", sejam elas de capa dura, tecido ou cartolina barata?
Mistério...
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