quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Roncos

Durmo sozinho há 17 anos. Por norma, está claro, pois houve algumas e honrosas excepções nesse período de celibato.

De forma que ignoro se ressono muito, pouco, ou nada. Não tenho (feliz ou infelizmente, dependendo das interpretações) quem me acorde para protestar contra a sirene de nevoeiro caso esta se manifeste.

Todavia admito que dê ao ronco com regularidade, embora não tenha provas físicas  dessa infracção que possam ser admissíveis em tribunal.

A minha desconfiança vem do facto de já terem existido algumas noites em que a própria criatura ressonante se acordou a ela própria. Para além disso temos a memória histórica. Existem  relatos da antiguidade que me dão como sendo "in illo tempore" criatura roncante de hábitos noturnos.

As vantagens de dormir sozinho não são muitas. Conto apenas esta da liberalização do ressono, e talvez ainda o facto do édredon e colchão não serem partilhados.

As (poucas, muito poucas) parceiras que tive nos ultimos tempos até se queixavam desses hábitos de "capitalista rico e açambarcador":
-"Vê-se logo que estás habituado a dormir sozinho!"

No Verão ressona-se menos (dizem os entendidos) e dá-se menos pela falta de aconchego. Nas noites mais quentes até admito que se possa esparramar em cima do metro e sessenta de largura do colchão uma certa liberdade de "esticanço dos pernis" que não deixa de ser agradável.

Num Inverno profundo como tem sido este (e lá em cima na Serra nem vos digo nada) começamos a pensar se não valerá a pena investir num artefacto que nos conforte. Entre os quais: um cobertor eléctrico, uma velha botija de água quente ou, em desespero de causa, um animal de peluche...

Obviamente que a consideração de seres vivos não me passou pela cabeça, já que não me parece bem considerar um animal de companhia ( há cães bem felpudos que podiam dormir em cima dos nossos pés!!) ou muito menos uma amiga e companheira  como um investimento sazonal.

Chegavam as primeiras noites amenas da Primavera e o que fazíamos? Despíamos o "casaco" ao desgraçado do Serra da Estrela? Mandávamos a amiga para casa da mãe?

Isto se quer o cão quer a senhora não tivessem já decidido bazar antes, espantados e afugentados pelos sons da corneta que (alegadamente)  o gordo sopraria todas as santas noites...

Alegadamente!

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