O ano novo chinês (ontem comemorado) trouxe-nos o signo da "Cabra".
Pelas contas que se fazem é este o "meu" signo chinês. Mais precisamente, como sou da colheita de 1955, serei um "Cabra-Madeira". O que é um (salvo seja) "Cabra Madeira"? Aqui vai:
Um nativo de
cabra pensativo, bem humorado, preocupado com os desejos das outras pessoas. É
sentimental e gosta de agradar; com a madeira como seu elemento será impedido de
ser demasiado esquisito. A sua natureza será mais constante e mais generosa e
ele terá princípios morais mais elevados.
Fiquei satisfeito. À parte aquela referência ao "esquisitismo"...
Aqui no ocidente chamar a uma senhora "cabra" não é de bom tom. Uma "gaja cabra" é sinónimo de "vadia", "vagabunda", "muito dada ao convívio", um verdadeiro "raiozinho de sol" (que quando nasce é para todos...). Não é pois um adjectivo simpático para a fêmea da espécie (pelo menos em Portugal).
E se for para o homem? No país-irmão do Brasil um homem "cabra" é macho valente, bom de briga e danado para a porrada. O "Cabra da Festa" é o bouncer, o segurança que guarda a porta e se ocupa de manter os ânimos pouco exaltados dentro das discotecas e bares.
De João Cabral de Melo Neto (1920-1999), grande poeta brasileiro, Consul Geral do Brasil no Porto, e Prémio Camões, aqui deixo duas estrofes do seu poema : A Cabra.
A cabra é negra. Mas seu negro
não é o negro do ébano douto
(que é quase azul) ou o negro rico
do jacarandá (mais bem roxo).
O negro da cabra é o negro
do preto, do pobre, do pouco.
Negro da poeira, que é cinzento.
Negro da ferrugem, que é fosco.
Negro do feio, às vezes branco.
Ou o negro do pardo, que é pardo.
disso que não chega a ter cor
ou perdeu toda cor no gasto.
É o negro da segunda classe.
Do inferior (que é sempre opaco).
Disso que não pode ter cor
porque em negro sai mais barato.Se o negro quer dizer noturno
o negro da cabra é solar.
Não é o da cabra o negro noite.
É o negro de sol. Luminar.
Será o negro do queimado
mais que o negro da escuridão.
Negra é do sol que acumulou.
É o negro mais bem do carvão.
Não é o negro do macabro.
Negro funeral. Nem do luto.
Tampouco é o negro do mistério,
de braços cruzados, eunuco.
É mesmo o negro do carvão.
O negro da hulha. Do coque.
Negro que pode haver na pólvora:
negro de vida, não de morte.
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