Ontem estivemos em Coimbra, falando com a Fundação Bissaya Barreto (conhecida pelo Portugal dos Pequeninos, mas que mantém uma obra admirável no capítulo da assistência materno-infantil) e também com o promotor da emissão e livro "Cafés Históricos de PortugaL", no clássico café de Santa Cruz que compartilha a parede com a Igreja e Convento que já foi dos frades crúzios, onde repousa o nosso "Primeiro".
Descansa em paz Afonso e vai tendo paciência com os tempos que correm, amigo...
Sabiam que quando se fez a espectacular remodelação do "Santa Cruz" (1920) o projecto tinha escrito na fachada "Cervejaria" e não "Café"? O que se passou a seguir foi que a autarquia, já farta dos excessos estudantis em volta da "loirinha", mandou dizer que "cervejarias, em Coimbra já havia demais!" pelo que indeferiu o pedido, tendo-se os proprietários resignado a gerir um "café" (onde havia também cerveja. O mundo não é perfeito e enganar a Câmara era habitual...).
Manda a tradição que quando se vai à velha cidade dos doutores se preste homenagem ao famoso "Pica", o rei da boémia de Coimbra nos anos 30 e 40, e que veio a ser o senhor Dr. Felisberto Pico. (médico). "Veio a ser" uns bons anitos depois, e no Porto, porque de Coimbra logrou apenas ser expulso , decisão única nos anais universitários de Coimbra e que apenas tem paralelo no degredo que impuseram a Luis de Camões!
"...a fundamental e decisiva razão que ditou o insucesso escolar do Pica deve-se ao inusitado facto, de ter sido institucionalmente expulso da Comarca de Coimbra ( numa área de 5O Km quadrados) a que foi condenado pelo tribunal, porque o seu número de prisões por pequenos delitos( originados pelas "farras"), excedera o montante previsto na lei, o que motivou em boa hora,a sua transferência para o Porto, onde com notável mérito, acabou a sua formatura em Medicina."
Fonte: António Curado.
Consta que o Pica, ao ouvir a cruel sentença, terá dito em alta voz:
-" Exilado? Oh meu Deus! Só eu e Luis de Camões! Também ficarei para a história!"
E ficou.
Em louvor da boémia fomos almoçar à Taberna. Restaurante que já aqui referenciei mas onde regresso sempre de alma leve e antecipando (sobretudo) os grandes vinhos bairradinos de antanho que por ali ainda se acolhem. Têm é de falar delicadamente e pedir com jeitinho, porque as preciosidades desta cave não são para meros "turistas".
Podem ler aqui os contactos e mais informação sobre esta notável casa coimbrã de bem servir comida tradicional das Beiras:
http://www.restauranteataberna.com/
Ontem calhou-nos um menu de provas (éramos quatro) que envolveu atum fresco braseado com ervas aromáticas, polvo assado nas brasas, posta de vitela (admirável de tenra) e cabrito assado no forno de lenha. E bebemos (...suspense...) um branco Principal Reserva de 2009 (lindo de morrer) e um tinto Bageiras Reserva de 2009 também. Admirável.
Na revista de vinhos diz-se o seguinte sobre estes dois monumentos:
Bágeiras tinto 2009: Com Baga e Touriga Nacional, é um vinho intenso e fresco, com notas vegetais, especiarias, amoras e flores silvestres. O carácter forte da Bairrada está todo aqui, mas suavizado por uma imprevista elegância. Muito bom.
Principal Reserva 2009: Complexo e elegante no aroma, muito fino, com notas minerais, casca de lima, apontamentos florais e suaves fumados. Cremoso e envolvente.
E já que não podíamos beber aquilo à saúde do Pica, bebemos à saúde de Mestre José Quitério (Prémio Universidade de Coimbra 2015) e à memória de Felisberto Pico (o grande Pica)!
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