Tenho andado a pensar no que vou dizer aos leitores por ocasião deste Post 3500. Adiei a escrita para que o Post 3500 coincidisse com uma Sexta Feira, esperando deixar aqui poema adequado, Também o farei. Mas manda o bom senso que não se limite a isso.
3500 mensagens representam quase 10 anos de alimentação diária deste canto de conversa, que me serve sobretudo de momento "zen" (já tenho saudades do Jon Stewart), um local onde exorcisar as minhas apoquentações.
No início o Blog era mais voltado para a política pura e dura, análise e previsão de resultados eleitorais, crítica política , etc... Depois começou a desenvolver com maior frequência a crítica gastronómica e de costumes. E hoje?
Bem, hoje escrevo de acordo com o que me dá na gana ao acordar. Substituo com gosto as drogas ditas de tratamento e prevenção da ansiedade e da depressão por este exercício diário.
Às vezes sai melhor, outras sai pior...
O Post mais lido, desde sempre, foi o que dediquei aos palavrões caídos em desuso ("trigo limpo, farinha Amparo") com cerca de 3000 visualizações. Foi seguido de perto por outro que dediquei ao "cozido à portuguesa". E ambos bem acompanhados geralmente pelos posts onde me refiro a restaurantes. De assinalar as crónicas sobre a "Casa da Pega" e sobre as "Dona Julia e Julinha" que também ultrapassaram os dois milhares de leituras.
O menos lido? Foi durante o Verão, nas férias do pessoal leitor, e dizia respeito a um dos habituais poemas das sextas feiras. Não chegou às 80 visualizações.
Tendo eu muito estudado marketing na minha juventude, mal estaria se não concluísse que o meu mercado real é constituído por:
"Gandas burgessos que só gostam de falar mal e de enfardar à mesa . E pouco dados às coisas do espírito, esses gandas ignaros! Uns abrutalhados sempre prontos a meter a colher na sopa e o copo de três na boca. E tiram o casaco à mesa e penduram o guardanapo no colarinho, à moda do Don Corleone!"
Evidentemente que esta constatação de carácter primário é errada e malévola. Os leitores que me aturam são pessoas afáveis, amáveis e atenciosas, homens e mulheres simpáticos, sociáveis, sofisticados e urbanos. Autênticos "gourmets" que apreciam a boa mesa e a boa companhia, sabem respeitar um grande vinho e amam a boa poesia, lendo-a em qualquer das línguas civilizadas do mundo ocidental.
Enfim, gente lhana, polida e de grande refinamento,
Nota: ia-me f***** lá atrás, mas consegui emendar o pé....
A todos esses Ilustres Leitores, sem os quais eu viveria bem pior (...enfim...) aqui dedico o habitual Poema das Sextas. E para comemorar o Post número 3500 tinha que ser alguma coisa especial.
Um dos meus poemas curtos preferidos é em português. Um soneto do cearense José Albano (1882\1923), o "louco de Deus" como lhe chamava Manuel Bandeira. Um visionário que, sustentando-se de donativos por essa Europa fora, gastava tudo o que lhe tinham dado numa única refeição em Paris, comentando " se o mundo fosse justo todo o Poeta teria direito ao néctar!"
Muito influenciado pelo nosso Luis de Camões ( seu herói predilecto) aqui vos deixo o Soneto I deste grande e pouco conhecido poeta:
Soneto I
Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.
Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noute e dia
E só com saudades me atormento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
José Albano in Rimas (recolha de Manuel Bandeira)