Comemoram-se em 2014 os 8 séculos da Língua Portuguesa.
Dizemos "8 séculos" e não "800 anos" porque falando em séculos estamos um pouco mais à vontade com os puristas que definem os documentos mais antigos até hoje encontrados na nossa língua.
De facto, se formos ver rigorosamente, o 1º documento de que existe registo escrito em português foi uma "notícia" (diríamos hoje um "anúncio público" ) com uma descrição de dívidas de um nosso antecessor, o "compadre" Pelágio Romeu... Tinha que ser!!! Desgraçado país que já nasceste torto . E data-se de 1175 essa Notícia de Fiadores.
Para não parecer mal, os historiadores convencionaram então que o 1º documento digno desse nome em português seria o Testamento de D. Afonso II, datado de 1214. Esse sim, tem alguma narrativa e entendo bem porque foi geralmente entendido ser o documento matricial da lusa escrita.
Vamos fazer uma série de selos para comemorar esta efeméride. E tenho o maior gosto em confirmar que todos os países de língua portuguesa se associarão a Portugal nessa emissão filatélica conjunta! A sair em 5 de Maio deste ano, com a pompa e circunstância que merece.
Para saberem mais coisas sobre este assunto vão aqui sff:
http://8seculoslinguaportuguesa.blogspot.pt/
Falando de língua era inevitável que este vosso amigo saltasse de imediato para a desbunda, evocando o papel da "língua na gastronomia". E temos muitas: a língua da sogra; a língua de gato; a língua de vitela (mais tenra que a da vaca); a língua de bacalhau.
Já não falo das línguas de rouxinol e de flamingo que terão feito as delícias dos velhos romanos lá para o fórum imperial, hoje em desuso por motivos óbvios.
Recuperando uma recente visita a um restaurante na Mealhada (agraciado pela Revista de Vinhos como o Melhor Restaurante de cozinha tradicional de 2013), onde comi umas superlativas línguas de bacalhau com arroz malandrinho de grelos, aqui deixo a minha receita para um "Arroz de Línguas de Bacalhau à moda de Cascais".
Recordo que nesse Restaurante - "Rei dos Leitões" - para além de uma cozinha acima de qualquer suspeita e muito para além do nome que lhe deu fama, encontrei também uma das mais bem feitas e completas carta de vinhos de que me recordo... Recomendo muito seriamente que por lá abanquem sem preconceitos e ainda que, se puderem, evitem a gula do leitãozinho para experimentarem outras coisas.
Já agora, antes da receita, lembro ainda o sempre amado restaurante de Ílhavo - D. Joaquim. Onde se comem as línguas de bacalhau panadas com arroz de pimentos ou de tomate... e, a pedido, onde se encontra o melhor bacalhau para assar ou para cozer que já comi em minha vida, com dois anos de cura!
Arroz de Línguas à moda de Cascais
Para 4 pessoas que comam bem comprem dois "baldinhos" de línguas que podem pôr a dessalgar tal como se fosse bacalhau.
Comprem meio kg de gambas de Cascais - daquelas que nunca viram o interior de uma arca frigorífica. Cozam apenas com água e sal de forma a ficarem durinhas. Tirem as cabeças e as "cascas" e guardem o caldo .
Num almofariz moam as cabeças com um pouco da água de cozer, passem por um passador e juntem ao caldo .
Fazemos uma puxadinha ligeira com cebola, alho, bom azeite , vinho moscatel (meio copo) e uma mão de sal (atenção às línguas para estarem bem escorridas do sal). Deitamos ainda na puxada malagueta a gosto e um bom tomate maduro, limpo de peles e de sementes e cortado aos pedacinhos. Se estiver muito maduro espremam-no grosseiramente com as mãos para dentro do tacho.
Em estando a cebola a começar a alourar deitamos as línguas e o miolo das gambas e deixamos tomar o gosto por dois minutos, mexendo sempre. Logo de seguida deitamos o arroz, uma chávena almoçadeira e meia de arroz vaporizado. Deixamos de novo o arroz a fritar mais um minuto.
Por fim o caldo de cozer as gambas, acrescentado de água se necessário, de forma a fazer a proporção: duas vezes e meia a três vezes o arroz.
Provem para testar o sal e deixem cozer o arroz. Antes de estar cozido fica sempre bem uma mão cheia de coentros frescos partidos aos bocadinhos para dentro do tacho..
O Tacho deve vir para a mesa assim que estiver cozido o arroz, a "correr" pelos pratos.
Recomendo para acompanhar um branco do Dão, de Encruzado. O da Quinta dos Roques ou o da Quinta dos Carvalhais (Sogrape) são sempre boas escolhas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Lembro, a propósito, o poeta brasileiro Gilberto Mendonça Teles e o seu poema ‘Língua’ que aborda a origem e evolução da língua portuguesa, referindo-se ao seu dinamismo e expansão à medida que é levada para outros países:
Língua
Esta língua é como um elástico
que espicharam pelo mundo.
No início era tensa,
de tão clássica.
Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas.
Um elástico que já não se pode
mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte.
Um elástico assim como é a vida
que nunca volta ao ponto de partida.
[Gilberto Mendonça Teles, poeta brasileiro]
Olá , grande blog, além de me fazer salivar faz-me rir até mais não...Já copiei as receitas, que delícia!!!! bjocas, Maria
Postar um comentário