O nosso Amigo Américo recorda, a propósito da "língua" um poema que talvez poucos leitores conheçam:
Lembro, a propósito, o poeta brasileiro Gilberto Mendonça Teles e o seu poema ‘Língua’ que aborda a origem e evolução da língua portuguesa, referindo-se ao seu dinamismo e expansão à medida que é levada para outros países:
Língua
Esta língua é como um elástico
que espicharam pelo mundo.
No início era tensa,
de tão clássica.
Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas.
Um elástico que já não se pode
mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte.
Um elástico assim como é a vida
que nunca volta ao ponto de partida.
[Gilberto Mendonça Teles, poeta brasileiro]
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Um comentário:
Ainda do Brasil, agora um soneto de um clássico da sua rica literatura,
A Camões
Quando n'alma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e de beleza.
Gênio purificado na desgraça,
Te resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado… Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.
E enquanto o fero canto ecoar na mente
Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,
Não morrerá, sem poetas nem soldados,
A língua que cantaste rudemente
As armas e os barões assinalados.
[Manuel Bandeira (1886-1968), Antologia poética]
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