quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Recordações

É triste que sejam cerimónias fúnebres - neste caso o enterro da Anabela, querida amiga e colega do ISCTE - que nos façam vir à memória casos passados dignos de evocação.

Mas como me ensinaram quando passei por semelhante fado que nada exorcisa tanto a perda de um ente querido como recordá-la nas boas situações que passámos juntos, tomo a liberdade de fazer esta crónica  como se fosse  mais um grande abraço que dou ao Joaquim Vicente Rodrigues.

O ISCTE abriu oficialmente as portas em 1972. Em DEZ desse ano saíu o decreto oficial que lançou a primeira pedra. Eu, junto com a Anabela e o Joaquim, fazíamos parte dos 66 alunos inscritos no Curso (novinho em folha) de Organização e Gestão de Empresas. Havia, para a escola toda, cerca de 300 alunos, 4 professores catedráticos (Sedas Nunes; J.J.Laginha; Mário Murteira; Alfredo de Sousa) e uns 15 a 16 assistentes.  Entre os hoje mais conhecidos, Vasco Pulido Valente, Filomena Mónica, Rui Machete...

As primeiras aulas foram num velho edifício (antigo palacete em frente ao Lago do Campo Grande  e ao Centro Comercial Caleidoscópio). Quem se lembra que quando estreou "O Exorcista" em Portugal foi naquele cinema? E que, por causa disso, tinha sempre à porta uma ambulância, para levar a malta que tinha "xeliques" durante a exibição?

Nesse edifício fiquei conhecido como figura de "esquerda "  e "personagem contra a situação" porque - dadas já então as minhas manias de acordar cedo - era dos primeiros a chegar (com a minha querida amiga Teresa Pais, hoje Teresa Zambujo) e abria o portão da Universidade sem ter autorização para tal...

A "Gabriela" estava na RTP, e toda a gente já integrava no vocabulário popular os termos respectivos: "Olha-me este Jagunço!"; " Oh Colega, vai na janela ou quê?"; "Bebes tanto comó Dr. Ezequiel!!"

Os funcionários administrativos  eram geniais... O Sr. Belinha (que era contínuo residente, com apartamento no edifício), o Sr. Vitor, a DªCarmelita...

Dada a precariedade das instalações fomos todos ter aulas para um Pavilhão da Feira Popular até que se fizessem umas obras lá mais para cima, em frente ao "castelinho" da Faculdade de Farmácia. Grande sítio para "viver", já que o curso de Farmácia era conhecido por ter muito mais mulheres do que homens... e nós não saíamos lá do Bar...

Logo o comércio da zona da feira popular se alvoroçou: "No Restaurante O Machado não se dá a machadada! Faz-se um bom preço a toda a estudantada!"

Tínhamos as sardinhas (uma vez por semana, ou menos, que o dinheiro não abundava) tinhamos a zona dos jogos (matraquilhos, porque não havia videogames!!). Foi muito engraçado!

E foi também ali que nos encontrámos com a Liberdade! O que foi ainda mais engraçado!

Quando o "tal" Edifício novo foi inaugurado, talvez em 1978, já a minha "malta" do 1º curso se tinha licenciado e estava toda a trabalhar (bons e velhos tempos!!).  O Joaquim rapidamente começou a trabalhar nos CTT, na então DRCL.   E foi ele que me convidou mais tarde (1980) para eu ser também trabalhador da mesma casa.

Como alguns de V. sabem, fiquei depois de acabar o curso lá na Escola (como naquela altura toda a gente lhe chamava) por mais 30 anos, acabando a carreira como Professor Auxiliar em 2008.

Todo este percurso foi acompanhado pela Anabela e pelo Joaquim. Estiveram no início e estiveram também no fim. Foram dos primeiros alunos e (o Joaquim) foi também professor meu colega.

E se este desenrolar de memórias o fez sorrir já me dou por satisfeito...

Um Grande Beijo Ana! Boa Viagem!

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