O universo "bloguista" tem coisas engraçadas. Entre elas, passa hoje por ser o universo dos especialistas nas generalidades! Daqueles que opinam sobre tudo o que mexe. Seja cão, ave, lagarto ou alcabroz! Será o triunfo das criaturas que falam de tudo e sobre tudo dão palpites.
Mas é engraçado verificar que nos MCS mainstream também muita gente parece "saber" de quase tudo - mania talvez começada pelo Dr. Nuno Rogeiro, que descorria sobre política nacional e internacional, balística e estratégia militar, intérpretes musicais e novos discos chegados ao mercado, filmes e livros, restaurantes e vinhos.
Nesta continuidade de raciocínio dei por mim a ler nos jornais de referência vários impetrantes a falar de comidas e bebidas sem que para tal exibissem outras credenciais a não ser aquelas que o comum dos mortais também ostenta: comem e bebem.
Alguns - como o sempre amigo Miguel Esteves Cardoso - têm graça. Embora a cultura anglo-saxónica das suas origens o traia, como na edição da Fugas deste sábado, onde, aqui em Portugal, aconselhava uma receita para comer salmão... E do mal o menos , que poderia ser carpa...
Meu mestre Quitério e o David de boníssima e saudosa memória, passavam a vida a ler e a estudar. A provar e a discutir as práticas com os melhores cozinheiros. Dissecavam as receitas, procuravam as incongruências, iam atrás na história para encontrar antecedentes, etc, etc... E a Dona Maria de Lourdes Modesto fazia o mesmo , todos os dias. Porventura numa vertente mais prática , em frente aos fogões.
Depois de conviver com a Fátima Moura e de ler os livros do Fortunato da Câmara entendo que esta nova geração de estudiosos do tema está muito bem lançada. Obviamente que também na vereda do honesto estudo e do trabalho árduo. Deixem-nos brilhar e dêm-lhes tempo e dinheiro (invistam neles!) para todos ganharmos com isso.
Agora, diletantes - onde me incluo - a dar bocas sobre estas coisas tão sérias só se admitem na óptica do "utilizador", daquela criatura que, de guardanapo entalado (ou não) e de talheres na mão, dirá depois de provar o que achou da festança. E aqui, no veredicto da prova gustativa, olfativa e estética, entendo também que é quem paga e é "o" cliente que pode e deve falar.
Feitas estas contas iniciais e dado que o Homem é por sua natureza volátil , incerto, inconstante e volúvel, não me irei embora sem deixar aqui ficar mais uma receita do meu cardápio.
Não lhe chamarei "Tabuleiro de Carne à Preguiçoso" porque era um plágio descarado do MEC. Mas aqui fica o "Tabuleiro de Carne à Minha Moda".
E com muita sorte estão por hoje não me pôr aqui a falar também da Síria e das últimas sondagens para as Europeias aqui em Portugal (ficam para amanhã).
Tabuleiro de Cachaço de Porco no forno
Para 4 Pessoas: 1,8 kg de cachaço de porco, 2 alheiras de Vinhais, 12 batatas médias cortadas em cubos, cebola, louro, salsa, alho, sal e massa de pimentão q.b. Um copo de Vinho branco e dois bons golpes de Azeite. Pimenta preta moída na altura ou malagueta ( a gosto)
Peçam no talho 1,8 kg de cachaço cortado como se fosse para rojões. Temperem de véspera com alho, massa de pimentão, salsa, vinho branco e louro. Não deitem sal de véspera que secam a carne.
Num fundo de um tabuleiro de ir ao forno coloquem azeite do melhor e por cima desfaçam o interior de duas alheiras de boa qualidade, em crú, às quais tiraram a pele. Depois ponham uma cebola e meia picada fina, uma mão cheia de sal marinho e alho também picado. Com uma colher de pau misturem bem tudo.
Deitem as batatas cortadas e os bocados do cachaço com todo o tempero da véspera e voltem a misturar bem com o que está no fundo do tabuleiro. Depois de tudo bem misturado em crú deitem pimenta preta (ou malagueta) a gosto, moída na altura , e mais um bom golpe de azeite por cima.
Vai ao forno quente por cerca de 2 horas, tendo o cuidado de ir virando as batatas com um garfo grande, para que o conteúdo asse de forma uniforme e fique bem louro por cima.
Logo antes de ir para a mesa polvilhem com salsa cortada.
Podem acompanhar com um tinto novo e vigoroso, com taninos ainda bem evidentes. Porque não um Bairrada Quinta da Dona 2009?
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