Um dos meus Amigos - empresário - tinha alturas da vida em que tudo lhe parecia um bocado entupido, farto de aturar Clientes que refilavam por refilar e só pediam descontos, e Bancários armados em Banqueiros, sempre a fazerem-se difíceis para extorquir mais uns trocos. E a quem (ainda por cima) tinha de pagar almoços e jantares caros.
Por isso costumava dizer que, depois de tudo visto e analisado, "Não há Cliente nem Bancário que não seja uma Função Densidade de Probabilidade!"
(Lembram-se do "petit nom" que usavamos na faculdade para chamar estas?)
E terminava o desabafo com um grito de alma: "Eu um dia ainda hei-de ser livre !!"
Pouca gente percebia porque é que um homem tão bem na vida, proprietário de várias casas, andares e empresas, quintas e quintinhas e que circulava com um automóvel topo de gama que mudava de dois em dois anos, "não era livre" e ainda se queixava de quem lhe pagava os luxos e lhe emprestava o dinheiro para os investimentos...
Mas eu, que na altura era gestor de grandes contas (aturava os 50 maiores Clientes aqui da casa onde hoje ainda estou) e por isso tinha também de almoçar algumas vezes por mês com pessoas que pouco ou nada me diziam, compreendia bem.
Nada é tão difícil de fazer como compor um grande sorriso e fazer a parte do anfitrião amável e desejoso de agradar quando nada , mesmo nada, nos "puxa" para o convívio com a pessoa em causa. Às vezes muito pelo contrário...
Ossos do ofício? Sim, mas não deixam de chatear.
Tal como a mim me chateia ainda não ter posto o guardanapo no colo quando já um solícito empregado de mesa se apressa a inquirir se "está tudo bom?" , e se "estamos a gostar?".
Meu mestre Quitério ia mandando um destes fogosos empregados passear quando este o interpelou também logo no início da refeição:
-"Está tudo óptimo?"
-"Oh Homem! Então eu ainda não meti à boca para ver se está razoável e de acordo com o que pedi, como pode estar óptimo??!! Olha que pôrra!!"
Uma proprietária de um restaurante (já encerrou, por isso estou à vontade para falar) onde às vezes costumávamos ir era mesmo chata... Perguntava com uma voz de cana rachada se "Estava gostosinho?" e se "as papinhas eram bem feitinhas ali na casinha dela?"
E o marido era quase igual... Esse, em vez de usar aquelas tiradas à bimba tinha outro defeito: quando a conversa entre os comensais o interessava, vinha para a cabeceira da mesa, punha as mãos em cima da dita e...não arredava dali até que pagassem a conta...
E ia mandando bitaites sobre tudo o que ouvia!...
Coitado, que a terra lhe seja leve.
Porque é que aturávamos aquilo? Era a gula amigos... Comia-se ali muito bem e o "jagunço" (como lhe chamavamos carinhosamente), quando ia para a cozinha, no intervalo daquelas cenas macacas, sabia tratar por tu tachos e panelas. E tinha sempre os melhores vinhos, muitas vezes antes destes sairem para as prateleiras comerciais.
Para terminar, e já que estamos "à mesa" e a falar da "pinga", sempre lhes digo que me aborrece sobremaneira o serviço de vinhos de algumas casas. Nem deixam as garrafas nas mesas para o cliente se servir à vontade, nem têm um número de empregados de mesa suficientes para cumprir eficazmente com as funções de atendimento.
Quando falo nestas coisas vem-me à memória o Senhor Manuel Pinto de Azevedo - grande republicano, no seu tempo o maior contribuinte líquido português, sócio do Banco Borges&Irmão e da Companhia Portuguesa do Cobre, sócio de muitas das hidro-eléctricas acima do Vouga, director do jornal "1º de Janeiro" , dono da EFANOR ( a maior empresa têxtil do país), etc, etc... - que quase todos os dias tinha mesa no célebre restaurante de luxo Escondidinho na cidade do Porto.
Nota: Ainda hoje existe e continua a servir bem, mas já sem a auréola dos outros tempos.
Um dia, já farto de esperar pela sua garrafa de tinto (normalmente bebia Sousão, da Quinta do Côtto) levantou-se e foi à mesa de apoio buscar o vinho.
Logo vieram dois empregados de mesa e o chefe de sala atrás dele a correr:
"- V. Exª, Sr. Director , por favor não se levante! Isto ainda não é uma tasca..."
E levaram logo com a resposta do Director do 1º de Janeiro:
"-Tasca não será por causa dos preços, mas o serviço é pior do que o de muitas tascas!"
E eu não o diria melhor...
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