Inevitavelmente
este Post vai debruçar-se sobre o desaparecimento do Eusébio.
Não
porque o futebol deva dominar as nossas vidas , mas sim porque a importância da
personagem ultrapassa os limites das linhas do campo onde se joga, abrangendo
outros campos e outras dimensões.
Já
por aqui escrevi diversas vezes que, nos tempos em que apertava o regime
totalitário e poucos momentos de alegria existiam para a grande maioria dos
portugueses, era aquele génio que às 4as Feiras e aos Domingos enchia o peito
dos Tugas de orgulho. Fosse no Benfica ou fosse na Seleção.
Conheci-o
pessoalmente num programa de TV (acho que era o Programa da Manhã da RTP) onde
estivemos juntos, eu para falar de selos e ele para falar já nem me lembro bem
de quê. Nos intervalos e enquanto esperávamos pela chamada à entrevista lá
íamos trocando umas palavras. Eu um bocado encolhido por estar ali o
"Senhor Eusébio" ao lado. E ele como todos diziam que era sempre,
modesto e até humilde no trato, quase a pedir desculpa de ali estar a
"incomodar"...
Mais
tarde, sempre que o via na Tia Matilde - se estava sozinho ou apenas com o Tio
Emílio - nunca deixei de lhe falar.
A
última vez que lhe falei foi para trocarmos umas impressões depois do almoço,
sobre o jogo que o Benfica perderia por 1 a 0 com os gregos do Olympiakos nessa
noite de 5 de Novembro.
Já
o achei muito em baixo, agarrado a uma bengala. E até comentei o assunto com o
Diogo.
Quando
foi o Coreia do Norte-Portugal (tinha eu 11 anos) estava a enervar tanto o meu
Pai com os comentários que fazia ao desenrolar do resultado que este me mandou
sair da sala onde víamos na RTP o encontro e ir jogar à bola para a rua com os meus
amigos. E só me chamou outra vez depois dos 4 a 3... Ainda hoje me lembro das
lágrimas a correr pelo rosto do meu velhote quando o jogo acabou. E das
palavras do meu Tio Fernando, benfiquista ferrenho e já nessa altura
proprietário de duas ou três mercearias ali no Estoril e em Cascais, portanto
um homem mais "da situação" : -"
Ah Ganda Preto! Para isto é que fomos para África! Foi para te ir buscar cara
linda!"
O
Eusébio era assim. Punha a chorar a malta mais da esquerda - como o meu Pai - e
fazia dar vivas ao cunhado dele, que achava que o Salazar era um Anjo que Deus
Nosso Senhor mandara a Portugal para nos salvar...
Boa
Viagem Senhor Eusébio! Deve lá estar à sua espera em cima uma cópia da Tia
Matilde onde todos os dias possa almoçar e jantar com os Amigos. Sem esquecer o
"escocês" da praxe...
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