Problemas de serviço afastaram-me ontem deste convívio. Regresso hoje para relatar - a pedido de amigos que me instaram a explicar porque motivo tenho sempre este joelho de baixa - o episódio que bem pode ser descrito como " A guerra dos dois tractores".
Pensei até noutro título mais sonante: "A chega de Bois na Beira Alta", mas tive medo de insultar o tractor lá da quinta, e sem ele acabavam-se as batatas da terra (cujos sacos ultimamente me perseguem, independentemente da origem). E nem todos - excepto a malta de Montalegre - saberão o que é uma chega de bois.
O caso se deu - forma idiomática dos velhos serranos começarem as suas estórias - há talvez uns 4 anos, quando eu e o meu cunhado decidimos lavrar um bocado de terra depois do almoço.
Terra essa que, por falta de chuva, parecia asfalto de auto-estrada, daquelas vias socráticas muito pouco amassadas onde só passam carros das urgências ou dos senhores jogadores de futebol.
Não sei se já lhes disse que a empreitada se realizava "depois do almoço"?
Uns anos antes tinha-se comprado lá para a quintarola um tractor. Não foi dos grandes porque não havia dinheiro para tal, nem sequer dos médios. O que, bem vistas as coisas, foi uma sorte, como depois verão. Tratava-se portanto de um tractor pequeno.
Se estivéssemos numa tourada aquilo nem de perto nem de longe seria um Miura destravado. Quanto muito ficaria acima de vaca brava, um novilho e basta.
As nossas desventuras começaram - acho eu - porque baptizámos como "Triquinaites" aquela espécie de moto-cultivador , coisa que o gajo nunca nos deve ter perdoado.
Oram bem, depois desse almoço montou-se o meu cunhado na fera - porque era o único que tinha experiência em tal condução - ficando eu de fora a dar instruções , o que normalmente faço bastante bem, chegando até a cansar a voz nessa importante e mal compreendida tarefa.
Mas a terra estava empedernida, teimosa que se fartava. O arado (ou lá como se chama aquilo) não entrava e os gritos (meus e do condutor) já começavam a secar-nos a garganta, motivo pelo qual foi mister ir bebendo uma ou duas cervejitas "minis", ao mesmo tempo que se enxugava o suor.
Depois de me fartar de tanta incompetência achei que era melhor ser eu a passar à acção: Armado de grande determinação e não pouca valentia fui directo à roda direita da besta, pus todo o meu peso em cima dela com o intuito de ajudar a enterrar as lâminas do arado.
Ofendido com a agressão o Tractor não esteve de modas, olhou para o lado, resfolegou e caiu-me em cima. Caiu em cima do meu joelho direito, para ser mais preciso.
Para sair lá de baixo levou algum tempo. O boi, digo, o tractor, ajudava pouco e o pouco que ajudava não servia para nada. O outro, quero dizer, o meu cunhado, lá me ia puxando de um lado e do outro, agravando sem saber a tal famosa rotura dos ligamentos que me aflige até hoje.
Moral da história: Tractores são para latifundiários, inimigos do povo e grandes agrários. A enxada (que eu saiba) nunca se virou contra o dono. E ainda por cima podia o dono virá-la contra algum meliante que passasse.
Nunca mais cheguei perto do estábulo, curral, curro, garagem ou lá como quiserem chamar ao local onde se acomoda o tractor lá da quinta.
Grande C**** de Triquinaites! Nem para bifes serves!
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Um comentário:
Aí menino Raul....o q eu me ri com essa estória do tractor....tb temos cá uma coisa dessas , mas acho que depois de ler estás façanhas , nem nunca me vou atrever a trepar para cima do bicho!!!! Lol :-)
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