sexta-feira, julho 26, 2013

A Privatização dos CTT

No 1º Conselho de Ministros do Governo remodelado foi aprovado o Decreto-Lei que consagra a Privatização dos CTT. Assim que seja publicado no Diário da República está o assunto encerrado. Pelo menos no que diz respeito a esta legislatura.

Esta Casa teve  atividade organizada em Portugal desde 1520, sendo Luis Homem o 1º Correio-Mor. Era "do Estado" aqui representado pelo Senhor Rei D. Manuel I. E assim se manteve até 1584 (ou por aí, cito de memória). Nessa altura o Rei Filipe encontrou Portugal falido (outra vez...) e vai de vender o cargo de Correio-Mor. Foi a 1ª Privatização. O comprador era Luis Gomes da Mata, descendente de riquíssimos banqueiros espanhóis judeus, depois cristãos novos  muito ligados a Fernando e Isabel, Reis Católicos.

Ficou a atividade postal nas mãos destes privados ( que trabalharam bem) até ao reinado da Senhora Rainha D. Maria I ( cognominada "a louca"). Nessa altura o ofício de Correio-Mor foi outra vez comprado pela coroa, e dentro do "cabaz" de privilégios concedidos à família Gomes da Mata (então já Sousa Coutinho) estava o título de Conde de Penafiel.

Em consequência da  remodelação que foi imediatamente feita dos serviços da Posta foi nomeado o 1º Superintendente Geral de Correios, Telégrafos e Estradas (o "Duarte Pacheco" desses tempos) José Diogo Mascarenhas Neto,  um licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra.

Os Gomes da Mata Sousa Coutinho, ainda mais ricos,  construiram o palácio Penafiel, em Lisboa, eles que já eram proprietários do Palácio do Correio-Mor, em Loures, comprado às freiras de Odivelas por volta de 1450.

Daí existirem no País os dois Palácios do Correio-Mor, o velho (de Loures) e o novo (na Rua de S. Mamede).

Este último acabou por ser comprado pelo Estado em 1919 (depois do terramoto tinha ficado em ruínas) e cedido - vejam lá as coincidências - ao Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações ,  entidade tutelar dos Correios em Portugal.

Como se observa o mundo é mesmo redondo...

 Qual a moral desta história?  A  história ensina-nos que existem alcatruzes nas noras e que estes não param de girar. O que é vermelho passa a verde, e o que é verde passará depois a vermelho. A história também nos ensina que não é a "propriedade" do ofício que o faz ser bem ou mal gerido, mas  sim a qualidade das pessoas escolhidas para o gerirem.

Tudo bem e siga a Marinha!

 Mas então porque é que a notícia de ontem à tarde me deixou um mal estar e um amargo de boca que ainda hoje se manifesta?

Mistérios da vida... Ao fim de 33 anos de serviço pensamos que "isto" é já um bocado nosso...E, como diziam os velhos lá na quinta:
"Quem vende o que tem fica com ele vendido, quem guarda acha"

Um comentário:

Anônimo disse...

Recomendo vivamente a leitura do artigo de Daniel Oliveira sobre o assunto, disponível no site do Expresso em:
http://expresso.sapo.pt/privatizacao-dos-ctt-um-crime-sem-perdao=f822805