Na minha opinião o grande facto político da tarde de ontem nem foi a demissão de Vitor Gaspar ou a nomeação de Maria Luis Albuquerque, mas sim a famosa carta deixada em testamento pelo Ministro de saída e que ainda fará correr baldes de tinta...
Leiam aqui a tal missiva sff:
http://downloads.sol.pt/pdf/Cartade01072013.pdf
Na prática Vitor Gaspar pôe em cheque a liderança de Pedro Passos Coelho, queixa-se amargamente da falta de coesão no interior do Governo (leia-se, da oposição de Paulo Portas) e no meio disto tudo admite que a política que apadrinhou de austeridade sem olhar à economia falhou redondamente.
Devia ter começado pela Reforma do Estado e não pelos cortes no rendimento disponível dos portugueses. Devia ter começado por racionalizar as despesas , em vez de ter decidido aumentar as receitas à custa da classe média. E o resultado está à vista: a pior recessão dos últimos 60 anos, a queda abrupta do consumo individual, e a quebra significativa nas receitas fiscais.
Depois deste testemunho - que só peca por tardio - o que devemos esperar?
Infelizmente por nada de bom. A Srª Ministra que o substitui parece ter sido uma escolha imposta por Bruxelas (ou , em alternativa, a única escolha possível nas circunstâncias atuais) e não vai alterar o rumo das políticas financeiras.
Claro que vem aí o Congresso do CDS, e as moções a votar são todas de apoio à economia e de repúdio aparente da continuidade da tal política de austeridade cega...
Como se vai "compaginar" a moção ganhadora com a estratégia de Passos Coelho\Maria Luis Albuquerque?
Se tudo correr bem, o 1º Ministro vê-se obrigado a dar espaço governativo à "oposição interna". Se tudo correr mal, teremos eleições no início do ano que vem, ou melhor, daqui a um anito.
E a Troika ainda à espera que lhe expliquem como se vão cortar os 1700 milhões de euritos que foram acordados por carta do PM, e que constam do OE para 2014...
Cá para mim é melhor esperar sentada...
Claro que restam algumas pequenas questões para resolver, as quais passo a enumerar:
- Saber como - sem a Troika alegre e contente - Portugal irá receber os maravedis que faltam para pagar as pensões, os ordenados da Função Pública e etc...
- E ainda, saber de que forma os "Mercados" (essa nebulosa entidade todo-poderosa) vão reagir à saída do Feitor de Berlim do nosso governo... E como as taxas de juro dos nossos financiamentos se vão comportar por causa disso...
- E, finalmente, quanto tempo vai resistir a nova Ministra ao impacto do escândalo das SWAPS em que se encontra envolvida?
Mas, como dizia o mestre mocho aos animais da floresta reunidos em convenção:
- " Eu sou consultor! E nós não nos preocupamos com esses detalhes!"
E alguém lhe respondeu:
- "O Diabo está nos detalhes..."
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