Pertinácia
é Excesso de obstinação ou persistência;
teimosia; Contumácia
é a recusa de um acusado em comparecer a juízo quando obrigado. Perspicácia é a capacidade de perceber claramente
complexidades e subtilezas,
Falácia é um raciocínio errado com aparência de ser verdadeiro e Verbigrácia é “por exemplo” na
horrorosa aliteração á la mode de Copacabana do latim verbi gratia (v.g.)…
Nos tempos que correm é possível (mas não
desejável) construir uma frase com estes palavrões:
O
pertinaz réu , culpado de abjeta contumácia, utilizou a falácia na defesa que
fez da sua posição. Mas a perspicácia do Juiz de Direito cedo o encostou às
cordas, verbigrácia na altura em que exibiu o falso atestado de óbito com que o
suspeito andava há já alguns anos a enganar a Segurança Social.
Uma
“gíria” ou melhor, “linguagem especial” por demais conhecida é a do
futebol, que alguns alcunham de “futebolês”. São termos como: garrinchear
(driblar) , pelada (mau futebol), folha-seca (pontapé com efeito
que muda a direção da bola), arquibaldos , geraldinos, zona
do agrião (grande área), domingada, ripa na chulipa (remate à baliza), pimba na
gorduchinha (remate), telegrafar a jogada.
O grande Osmar Santos, "O Pai da Matéria", o maior cronista de futebol relatado do mundo estabeleceu a primazia nesta linguagem típica e reconhecida por todos os torcedores.
Vejamos agora a
“fala” do atual Governo, traduzida para o calão futebolês, na véspera das
eleições autárquicas.
Diz o nosso
Primeiro Ministro: Os meus jogadores estão muito
motivados e a derrota sofrida na última jornada em nada afectou o rendimento. A
vitória está ao nosso alcance.
E depois das
ditas eleições:
Logo
a seguir ao jogo aí estão de novo os intérpretes com novas e retumbantes
declarações, desta vez o Capitão da equipa (digo, o
Vice Primeiro Ministro) : Temos que reconhecer que a
equipa adversária não se superiorizou mas o árbitro deu-lhe uma ajuda ao não marcar
uma grande penalidade a nosso favor. Ganhámos moralmente e em jogo jogado fomos superiores. Só quem não viu o jogo pode pensar de outra maneira!
E a palavra da
oposição vencedora:
Vem
depois o treinador vencedor, estimo que seja
António José Seguro (mas não juro nem aposto) :
Ninguém pode ter dúvidas que mostrámos uma
grande coesão; o árbitro teve alguns deslizes mas que não afetaram o
resultado, como foi público e notório.A haver um vencedor tinha de ser este PS!
O árbitro, todos sabemos já quem é...
O que nem todos sabem é alguns dos nomes mais criativos que se chamam ao Árbitro na vida real:
"A sua mãe tá na zona!" ; "filho, mamãe é p*** e isso não impede de te amar."; Tens mais cornos que um prato de caracóis, meu grande FDP!" ; Marra bezerro, marra no vermelho ganda cab***!"
E o mais completo insulto já ouvido mas acho que nunca publicado na imprensa regional desportiva, segundo parece gritado por um benfiquista, não fosse a inexplicável referência final aos "pneus":
"filho da p*** de um ganda c*****, boi preto capado! De quanto é o cheque careca? palhaço vai para a c*** da tua mãe corrupto de m**** preto de m**** parte-lhe a perna c***** ladrao pinto da costa vai para o c******* pinto da costa faz-me um b*** porto é m**** lagartos nojentos tripeiros nojentos treinador de m**** este vale tudo é um ladrao kadhafi dos pneus boi nojento cornudo!!"
Até mete respeito caraças!
E depois de tanta linguagem vernácula, português do mais puro antes do Acordo Ortográfico, acabamos com um comentário erudito, mais de acordo com o espírito deste Blog:
E depois de tanta linguagem vernácula, português do mais puro antes do Acordo Ortográfico, acabamos com um comentário erudito, mais de acordo com o espírito deste Blog:
Nota sobre a diferença entre a Gíria e a Linguagem especial, da autoria do Professor Mattoso: Em sentido estrito, uma linguagem fundamentada num
"vocabulário parasita que empregam os membros de um grupo ou categoria
social com a preocupação de se distinguirem da massa dos sujeitos
falantes" (Marrouzeau, 1943: 36), o que corresponde ao que também se chama
JARGÃO. Os vocábulos da gíria ou jargão coexistem ao lado dos vocábulos comuns
da língua: "a gíria só se torna tal porque se projeta num fundo de tela
que não é gíria" (Krapp, 1927: 64); ela abrange o vocabulário propriamente
dito e a fraseologia. A origem pode estar em: - a) derivações anômalas (ex.: bestialógico,
da gíria dos estudantes), b) deformação de vocábulos usuais (ex.: brilharetur,
idem), c) metáforas ou metonímias (ex.: burro, idem, para um texto grego ou
latino com tradução literal), d) especialmente digna de nota a gíria dos
malfeitores, designada como calão. Há gírias em classes e profissões não só
populares, mas também cultas, sem qualquer intenção de chiste e petulância, que
comumente caracteriza as primeiras; mas em todas há uma atitude estilística.
Quando se trata de mero vocabulário técnico, sem essa atitude, tem-se a LÍNGUA
ESPECIAL, como a dos médicos baseada em helenismos técnicos. Em sentido lato, a
gíria é o conjunto de termos que, provenientes das diversas gírias em sentido
estrito, se generalizam e assinalam o estilo na linguagem coloquial popular,
correspondendo aí ao papel da língua literária na linguagem poética. Amplia-se
com o uso de termos obscenos ou pelo menos grosseiros para a expressão de uma
violenta linguagem afetiva.