Vem à memória aquela anedota atribuída a Brecht, segundo a qual (e mais ou menos cito de cor) : Quando o vizinho viu (na Alemanha Nazi) virem as SS prender os Judeus, assobiou para o lado porque não era Judeu. Quando viu deportarem os ciganos, calou-se porque não era cigano. Quando deu conta que lhe cortavam a ele mesmo as liberdades essenciais, já era demasiado tarde para protestar...
A crise imediata sobre o Chipre parece ter sido resolvida in extremis.
Leiam aqui sff:
http://www.nytimes.com/2013/03/25/business/global/cyprus-and-europe-officials-agree-on-outlines-of-a-bailout.html?emc=na
Mas o certo é que este episódio incrível nos deve ensinar alguma coisa.
a) Por um lado, é que não estamos a salvo de nada. Ninguém, nesta Europa que já não existe como bloco político ou económico, estará a salvo de alguma indigestão que aconteça lá para os lados de Bona. Se quando a América se constipava a Europa adoecia, neste momento bastará a Srª Alemanha ficar ligeiramente obstipada de tanta choucoute para que os países do Sul tenham de encarar alguma colonoscopia com urgência...
b) E por outro lado, constata-se que quem deixámos que mandasse neste pequeno mundo não tem categoria para tal. Foi quase grotesca a forma como as cabecinhas pensadoras europeias se deixaram arrastar por um caminho que só destruiria a confiança geral no sistema bancário. E, exceto o Luxemburgo, que se doeu ele também com as dores cipriotas, parece que as outras ovelhas foram todas a fazer "mé-mé" para o lado da pastora tedesca, com medo do cajado.
Não é que os bancos sejam flores que se cheirem nestes tempos de golpes e contragolpes ao incauto cidadão. Mas se nem lá pudermos depositar os trocos com alguma segurança, onde o devemos fazer? Dentro de um vaso no quintal?
E quando quem manda avisa que se deve travar o consumo de todas as formas (ideia que eu repudio, como sabem) , este susto que se pregou ao dinheiro poupado não é uma espécie de grito geral: "Às compras Camaradas! Porque aquilo que se comprar hoje já ninguém nos tira amanhã!"??!!
Que raio de mundo estranho é este que tem de ser observado por uns óculos de cristal da Boémia para poder ser entendido...
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