É Sexta Feira, já se sabe que sai Poema. Hoje dedicado à Palavra. Não à Palavra que comunica sabedoria e magia, mas sim à Palavra verbo de encher, flatulenta, enganosa e traiçoeira. A Palavra dos maus políticos e dos falsos profetas (no fim de contas é tudo "feijão do mesmo saco"...)
Vejam como Sophia recriou há anos atrás um dos principais pecados da nossa era, a demagogia da Palavra que engana os tolos, subverte as escolhas e se perpetua no poder à custa dela própria:
Com Fúria e Raiva
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
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