segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Polvo assado à galega

Frio que se farta !!  Como desta vez não vim muito preparado cá para o Maciço Central temos que ir improvisando com o que se encontra nas prateleiras dos supermercados da zona.

Pensei num polvito assado no forno à moda da Galicia, com os seus sabores a pimentão doce.

Dois polvos limpos e amanhados que chegados a casa são batidos a malho numa tábua para eliminar a rijeza natural dos tecidos . Numa panela colocamos uma cebola grande e água apenas para cobrir metade dos polvos, Sem sal. Depois da água a ferver introduzem-se os polvos que estarão cozidos quando a cebola o estiver. Mais ou menos 45 minutos.

Entretanto assamos as batatas da terra num tabuleiro, apenas com azeite, alho esmagado, cebolas às rodelas  e sal. Cerca de uma hora no forno quente.

Quando o polvo estiver cozido passa-se para um outro tabuleiro de forno, rega-se com azeite, colorau e borrifa-se com sal. Já sabem o truque: Polvo para cima e tabuleiro das batatas (mais adiantadas) para baixo. Depois de cozido estará assado e tostadinho por cima em apenas 20 minutos.

Metade das  batatas assadas e um dos polvos aconchegam-se num dos tabuleiros que vai assim à mesa. O segundo polvo coloca-se no outro tabuleiro, junto das batatas que sobraram, e aguarda a sua vez dentro do forno apagado. Assim temos sempre  a comidinha quente!

Abrimos duas garrafitas de Dão Quinta da Falorca de 2003. Estava ainda muito bom.

A Noite Longa

Vi o "Discurso do Rei" e o "Cisne Negro" ultimamente, e antes já tinha também visto "Inception -A Origem".

Falta-me o filme sobre as Redes Sociais e o Western dos Cohen, ambos vencidos na noite de ontem.

Nada a dizer sobre Natalie Portman e Colin Firth, mas acho que o Argumento de "Inception - A Origem" merecia mais. Este filme que muito me impressionou pela novidade da história acabou por ganhar (como se esperava) a maioria dos Oscares técnicos.

Vejam aqui a lista toda se quiserem:

http://www.oscars.org/awards/academyawards/83/nominees.html

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Para Descansar a Vista

É Sexta Feira, já se sabe que sai Poema.  Hoje dedicado à Palavra. Não à Palavra que comunica sabedoria e magia, mas sim à Palavra verbo de encher, flatulenta, enganosa e traiçoeira. A Palavra dos maus políticos e dos falsos profetas (no fim de contas é tudo "feijão do mesmo saco"...)


Vejam como Sophia  recriou há anos atrás um dos principais pecados da nossa era, a demagogia da Palavra que engana os tolos, subverte as escolhas e se perpetua no poder à custa dela própria:

Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Anda tudo Maluco, mas alguns abusam...

Nota Introdutória: Meti uma semana de férias para tratar da saúde aqui em Lisboa. Depois do sustozito que tive em Outubro estou a verificar o estado das minhas canalizações e dado que a "rede de abastecimento" deve ser (penso eu) proporcional ao tamanho da besta, isto está a dar algum trabalho aos médicos...

Depois vou para Seia para ver se resolvemos mais uns problemas burocráticos com registos e conservatórias, pelo que regressarei ao trabalho na próxima 4ªFeira. Mas acho que irei "publicando" todos os dias. Se falhar algum já sabem porquê.

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O Mundo anda doido desde que foi Criado, acho eu. Mas a partir de certa  altura, do dia 1 do macaco em pé, tenho a impressão que tem vindo a piorar.

Tal como a progressão da modernidade e das respectivas influências na vida de todos os dias parece ser uma progressão geométrica desde a 1ª Grande Guerra, assim, tal e qual, acontecerá com a dispersão da loucura social pelo mundo fora...

Então a partir do dia em que os "Defensores da Liberdade" , a" Liga dos Heróis", começou a utilizar a tortura de prisioneiros e a prisão sem provas, em Guantánamo e sabe-lá onde mais, fiquei mesmo descrente da sanidade mental do Planeta.

Antigamente existiam os "Bons", nós. E os "Maus", eles.  Nós e Eles são termos aqui convencionados está claro. Variam com quem escreve a História...

Mas essa teoria ficou um bocado baralhada depois (ou mesmo um pouco antes) da Conferência de Ialta. O  Sr Hitler era "Mau como as Cobras", o Sr. Churchill  era um "Gajo Porreiro". Tudo se complicava se tentássemos continuar a aplicar este maniqueísmo básico ao mesmo acontecimento. Ora vejam: os adversários do Sr Hitler, por analogia, deviam ser também "Gajos Porreiros e à Maneira"! Por exemplo o José... O José Estaline...

Oh Diacho!!

Estão a ver?

Aqui e agora, neste mundo onde assistimos à maior revolução de sempre nos Estados totalitários de confissão muçulmana, estamos perante acontecimentos deste tipo. Completamente Loucos!

O Khadafi era "amigo" de alguns ocidentais (os quais acabaram por lhe  perdoar aquele devaneio de juventude, quando se pôs a brincar com um avianito da PAN AM) . Agora está a matar o seu povo a tiro e à bomba. Fala-se de mais de 10,000 mortos. E os mesmos ocidentais já rosnam para que se pire do País e deixe a porta aberta à Democracia...

Até aqui, e dando de barato os contornos da "real politik" e a fome ocidental pelas matérias primas energéticas, ainda se poderia compreender alguma coisa desta crise.

 Afinal um gajo que dorme ( e vive) numa tenda - sem ser , tanto quanto sei, sócio do Clube de Campismo de Almada, cá no nosso deserto - cuja guarda pessoal são mulheres (algumas com suiças na face do tamanho das da Dª Gabriela de Sendim, sempre lembrada com amor por causa da Posta Mirandesa, e que faziam inveja aos sargentos da Guarda Republicana que por ali se aventuravam),um gajo que chama ao seu povo "Cães" e que os espanta à bomba e à bazucada, deve ser mesmo Maluco, daqueles certificados que têm de ser vigiados 24h por dia.

Agora, quando se começa a saber que é a Al- Qaeda  a força organizadora do protesto popular a Khadafi, através das suas ligações às organizações muçumanas que aparecem à frente das manifestações, corremos ainda o risco de... ver o Obama aí numa Genebra qualquer, a apertar a mão ao Bin Laden defronte de umas chávenas de chá...Chá de menta para um e chá preto para o outro (salvo seja carago!!)...

Não Amigos, Assim não dá mais! Internem essa gente quanto antes! Em Marte, onde parece que a atmosfera é um tanto rarefeita. Não sei se chegará o Planeta irmão para os albergar.

Ou, em alternativa sempre de considerar, arranjem por aí algum lugarejo onde os "outros" , os "normais",  se possam esconder e observar com calma (e vinto tinto de qualidade)  o Fim do Mundo tal como o conhecemos..

Talvez nas Maldivas... Isso é que era.

O problema é que as Maldivas deviam ser grandes de mais para tão pouca gente "normal"... Ali as Ilhas Selvagens deviam ser suficientes, embora - para o meu gosto -   demasiado chegadas a um foco (mais um) de insanidade militante.

Nota: Na imagem um dos últimos humanos comprovadamente bom da cabeça que foi possível encontrar. Estima-se que terá vivido para  aí uns 100 000 anos atrás. Qualquer semelhança com o Colega Arménio (El Exilado) antes deste ter  rapado o piaçaba facial,  será mera coincidência...

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

O Virar de uma Página

Vitorino Nemésio, o grande erudito que nos apareceu aqui um dia vindo da sua “Querida Ilha Terceira” , iniciou a sua última lição, proferida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 9 de Dezembro de 1971, com estas palavras:

“ Dou a minha última lição de professor na efectividade e em exercício, segundo a lei. Claro que a lei só tira o exercício ao funcionário: o homem exerce enquanto vive."

Sábia tirada, como seria de esperar de semelhante personagem. De facto o Sr Professor Doutor Vitorino Nemésio continuou a exercer a sua arte até que morreu, em 20 de Fevereiro de 1978.

O nosso Luiz Duran vai-se embora dos CTT no 1º de Março deste ano de 2011.

Ficam para trás 33 anos de trabalho, sempre na Área de Design da Filatelia dos CTT Correios de Portugal.

Privou com o Mestre Martins Barata. Depois trabalhou e aprendeu com seu filho, o Arqº José Pedro Martins Barata. Nos anos 80, já sozinho, levantou asas e voou.
De entre as centenas de selos que fez, e de entre os milhares que coordenou e fez emitir, sem esquecer os Livros, resultaram vários prémios internacionais que a Filatelia de Portugal conquistou nos últimos 20 anos e que não teriam sido possíveis sem a sua presença:

- O de "Melhor Selo do Mundo" por duas vezes ("Quiosque do Tivoli" e “Évora Patrimonio Mundial” de Maluda ).
 O Grande Prémio ASIAGO da Associação Internacional para a Arte Filatélica (patrocinado pelo Presidente da República de Itália) e o Grande Prémio São Gabriel para Temas de Carácter Religioso, da União Mundial S. Gabriel de Viena de Áustria, foram por nós recebidos várias vezes desde 1977, quando o Mestre Martins Barata ganhou o primeiro (“Planície Alentejana”).
As últimas vezes em que fomos galardoados com o Prémio ASIAGO – Tema “Ambiente” da Presidência da República Italiana -  foi em 2007 com a Emissão dedicada à “Água um Bem a preservar” do Prof. João Machado.
E em 2010, Tema “Turismo” , com o selo da Emissão dedicada aos “Selos e os Sentidos” também da autoria do Prof. João Machado.
- A Filatelia de Portugal teve ainda a Medalha Olímpica de Ouro concedida pelo COI pela série dos Jogos Olímpicos de Atenas.
Recebemos , também e por duas vezes, em 1989 e em 2009, o Grande Prémio de Prestígio da Presidência da República Francesa para a Actividade Filatélica (Prémio de Carreira).

Vários dos nossos Livros foram galardoados, quer com o 1º Prémio de Qualidade de Impressão da APEL, quer ainda com Prémios científicos sobre o respectivo conteúdo:
Traineiras da Costa Portuguesa” do Arquitecto Lixa Felgueiras - Prémio APEL
“Padre António Veira” de Aníbal Pinto de Castro - Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários
“5º Centenário do Hospital Real de Todos os Santos” de Irisalva Moita – Prémio Municipal Júlio de Castilho de Olissipografia
"Santo António de Lisboa" de Luis Krus e Arlindo Caldeira, Coordenação de José Mattoso - Prémio da APEL e Prémio da Academia Portuguesa de História.
"S. Francisco Xavier" , de Miguel Corrêa Monteiro, ganhou em 2006 o Prémio Francisco da Gama Caeiro, atribuído pela Academia Portuguesa da História a obras de carácter religioso;
"A Herança Filipina em Portugal" , de Carlos Margaça Veiga, ganhou em 2006 o Prémio Presença de Portugal no Mundo, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Tal quantidade de galardões bem demonstram a fama que o Luiz teve em  todos os Operadores Postais Designados: a de ser um dos melhores, se não mesmo o "Melhor Director de Arte das Filatelias de todo o Mundo"

Luiz “ficará sem exercício” a partir de 1 de Março – na expressão paradigmática de Nemésio – mas tal como ele , “nunca deixará de exercer”…

Apesar do apelo das bolas…(de golfe).

terça-feira, fevereiro 22, 2011

O Segredo das Segundas Feiras

Manda a justiça que aqui fale das minhas andanças aos almoços das Segundas Feiras, sempre que estou por Lisboa.

Nas Segundas feiras - e seguindo um costume antiquíssimo que devia ter sido originado nos tempos em que o Peixinho servido em todos os restaurantes era mesmo fresco, do dia anterior, e por isso mesmo à Segunda feira não o havia - comia-se Bacalhau nas Tascas, Tasquinhas, Casas de Pasto e Restaurantes da capital do Império.
Hoje em dia há sempre peixe fresco - se não do Mar pelo menos do frigorífico - mas existem locais onde a mania do bacalhau das Segundas ainda se mantêm viva , para deleite e consolo de quem ama o fiel Amigo.

São bons exemplos: A Adega dos Macacos, à Ribeira;  o Jockey no Hipódromo do Campo Grande, o Funil e o Polícia das Avenidas Novas, etc...

Mas há já algum tempo (mais de 2 anos) que aqui o vosso Blogger passa as Segundas feiras almoçadeiras noutro local.

Restaurante "A Tertúlia do Paço"
Rua Fernando Lopes Graça 13 - A
1600-067 LISBOA

Telefone - 217581456

Já aqui falei dele há algum tempo, em 2008, quando preparávamos a PORTUGAL 2010.  Levei lá a jantar o Board da FIP. E correu muito bem. Mas o que hoje traz de novo à colação a Tertúlia é a sua condição de paradeiro simpático e acolhedor de pessoas normais, no dia-a-dia dos seus afazeres , enquanto que ainda podem dispender alguns euritos para almoçar dignamente ( e é cada vez mais difícil fazê-lo com regularidade).

O Bacalhau Cozido com Grão das Segundas Feiras é um portento de simplicidade e de sensatez. Simplicidade porque o Chef apenas trata o Bacalhau (do melhor,  seco e demolhado à maneira de antigamente) como as nossas Mães faziam lá em casa quando nos tocava o mesmo prato. Sensatez, porque este Bacalhau nada tem a ver com aquelas "coisas pré-demolhadas e ultra congeladas" que hoje em dia nos querem fazer passar por "bacalhau" em muitas e até muito boas casas de restauração.

Para além do Bacalhau das 2as, a Tertúlia apresenta também um conjunto de pratos do dia,  típicamente portugueses,  muito bem feitos e a preços relativamente módicos: o Cozido à Portuguesa, a Feijoada com todos, a Cabidela de Galo pica no chão, o Borrego Assado (aos Sábados).

Tem peixe do Mar (a preços normais, ou seja, caros como em todo o lado...Garoupa, Robalo, Dourada e Pregado) e ainda por lá aparecem a Canilha , o Camarão de Espinho e até a Gamba fresca da nossa costa. Mas se formos por aí há que contar com alguma "densidade" da carteira pagante. Com vinho branco de entrada (por exemplo um Lisa da Península de Setúbal) e um tinto médio (alentejano) poderemos ter que ir até aos 180-190 euros - 4 pessoas comendo peixe mesmo do mar e entrando pela canilha ou pelo paio do lombo ou Jamón  aqui do país do lado..

Mas  se formos pelos pratos do dia (em média roçando os 12 euros) e bebendo o mesmo, raramente a continha vai além dos 30 euros por cabeça,  ainda com direito às entradas citadas...

E por isto tudo, mas também pela amizade , muito nos tem custado verificar como alguns manducantes, como nós apreciadores da casa e da sua filosofia, espaçam agora bem mais as suas aparições ...

P*** da Crise!

Em Resumo: Boa comida burguesa, sólida e bem feita. Sem mariquices de Nouvelle Cuisine à la Mode da Porcalhota, como hoje em dia e infelizmente muito nos aparece em certas "maisons" a armar ao pingarelho e a fazer charme aos pretensos críticos de gastronomia que por aí agora proliferam... Não há revista de moda que não tenha o seu "gastrónome résident", sempre a recomendar as "Fusões"  e os "Sushis\Sashimis" às jovens de 43 anos anoréxicas,  equilibrando-se em cima dos seus "manolos".

Proliferam os "Polifemos" -  brutos cíclopes só com um olho, comedores de mareantes,  a quem Ulisses, em boa hora, tratou da saúdinha ...

E diríamos: Volta Ulisses! Aqui tens outra vez trabalho (ou "boulot" para não fugir à senda deste Post...)

Em Portugal, e por enquanto, Críticos só há dois: O Quitério e o David.

O resto são"arremedos"...  São "mininos" a brincar às coisas dos  Homens. Tal como eu...

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

A Saudade dos Cheiros e dos Sabores

Ontem à noite - e já um bocado farto de ouvir o "Professor Martelo" e os seus lugares-comuns - virei a proa para a RTP2 e deliciei-me com um programa da "Fado Filmes" sobre a Arte Contemporânea Portuguesa, passado em casa do Manuel de Brito e convocando vários grandes pintores nacionais que por lá estão pendurados nas paredes do Manuel, para falarem sobre aqueles quadros e a sua vida artística: Pomar, Paula Rego, a neta da Menez , etc...

Para além da inveja ( tanta coisa boa mostrada que deixaria qualquer amante de arte salivando pelos cantos) ainda me encantei com as "estórias"  que Manuel de Brito contava à volta dos quadros e da sua aquisição.

Uma delas, que envolveu José Escada em Paris durante o seu exílio, chamo-a aqui hoje para tema deste Post.

José Escada recebeu nesse dia  dos anos 60 Manuel de Brito e um outro Amigo, do qual não se falou no programa. Estes Amigos vinham de Lisboa com a incumbência de organizarem em casa do Zé  uma ...caldeirada!  Tais eram as saudades que o pobre sentia dos sabores lusos.

Contava Manuel de Brito que o Zé passava o pão em redor do tacho rescendente e  chorava desalmadamente, queixando-se aos outros  do picante da Caldeirada, mas em boa verdade chorando  de saudades de Portugal, da sua família, das suas paisagens, dos seus gostos e sabores. E Paris , que nos parece hoje aqui tão perto, quase um jardim nas traseiras da casa, parecer-lhe-ia a ele, naquelas circunstâncias do exílio, uma Antárctica distante .

Têm destas coisas o gosto e o cheiro.... São sentidos muito evocadores das memórias profundas que trazemos dentro de nós, muitas vezes até sem que estejam disponíveis no dia-a-dia das nossas recordações  e  apenas venham à tona quando os tais sentidos as provocam.

Por exemplo, e no meu caso, não posso sentir o odor bom e os sabores aconchegantes dum "Cozido à Portuguesa"  sem que a memória me leve para perto do meu Pai e da sua presença na cozinha domingueira, nos Invernos antigos.

Também o gosto e o sabor do Cabrito a sair do forno me levam ainda para S. Martinho de Seia, e para os Almoços de festa, rodeado pela família.

"Bacalhau assado com batata a murro "  do bom, daquele de cura amarela seco em centeio, que lasca de forma contundente e mantêm as suas saborosas gelatinas naturais mesmo depois de sair do "auto-de-fé" , lembra-me sempre os Amigos Maias, e o velho Restaurante Casais do Jardim de S. Lázaro na grande Cidade Invicta.

Os orégão, poejos  e os coentros de uma simples açorda de pescada são, para mim também, sinónimos dos Fialhos de Évora e recordação feliz do Encontro de Agentes Internacionais que por lá fizémos na Cidade, em 1991, com sucesso absoluto...

E por aí fora.

Mesmo os perfumes têm destas "bagagens" consigo... O Fahrenheit de homem traz-me sempre à memória o Rio de Janeiro do início dos anos 80, onde o usei pela primeira vez , e recorda-me as peripécias dessa deslocação interessante onde, com uma colega minha,  fui  assaltado num Omnibus.
Fui eu e o autocarro inteiro, à moda do Far West, ali no Aterro do Flamengo. E com alguns milhares de Dólares da receita da semana dentro de um saco plástico, em papéis de jornais, o qual  por muita sorte e protecção da Senhora de Fátima, foi ignorado pelo bando dos "Jesse James" locais.

E o "Obsession" de Calvin Klein - hoje fora de moda na paleta do costureiro-perfumista - tem para mim tantas e tão esplendorosas memórias que durante muito tempo mantive uma amostra em casa apenas para me deleitar com essas lembranças...

Que querem? Nem só de Pão vive o Homem.

Embora eu não recomende que se alimentem apenas de cheiros, experimentem comer com o nariz tapado e verão que emagrecem....

Nota:  Quadro de José Escada "O meu Strof", 1979, acrílico s/tela, 34,5 x 43,5 cms .

Notas biográficas por cortesia de "Infopédia": Pintor português, José Jorge da Silva Escada nasceu em 1934, em Lisboa, falecendo na mesma cidade em 1980. Estudou na Escola António Arroio e obteve o diploma em Pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Em 1955, juntamente com os artistas Lurdes de Castro, René Bertholo, João Vieira e Gonçalo Duarte, constitui o Grupo KWY, ao qual se ligaram posteriormente Costa Pinheiro, Jan Voss e Christo Javacheff.

Desde as suas primeiras realizações pictóricas, José Escada desenvolveu uma estética pessoal que caracterizou a sua obra futura: a utilização da linha como contorno, com ritmo definido, combinada com a acentuação de contrastes provocados por diferentes níveis de luminosidade.

Nos anos 50, os mesmos valores são aplicados a uma pintura não figurativa, evoluindo, dez anos mais tarde, para o total informalismo que se aproxima de uma expressão caligráfica.

Em meados da década de 60, José Escada retoma o trabalho a partir da linha, gerando pequenos elementos simétricos criados a partir de colagens e dobragens de papel. É evidente a influência de Matisse e da sua valorização do processo criativo, de carácter gestual e manual. O trabalho no campo do relevo abstracto orientou José Escada para a pesquisa dos elementos decorativos tradicionais portugueses.

Nas composições dos anos 70, combina a abstracção e a figuração em quadros que reflectem uma visão do seu mundo pessoal, no qual homem e natureza se fundem

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Para Descansar a Vista

Nesta Sexta Feira de todos os perigos,  a sombra da intervenção estrangeira em Portugal torna a entrar nas discussões, vejam aqui sff :


Faz-nos falta Atitude e mais Amor!  Chamo à liça a grande Poetisa brasileira Cecília Meireles, que nos deu dois belos poemas sobre esses temas.

















Atitude

Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

Cecília Meireles, in 'Viagem'


Não te Fies do Tempo nem da Eternidade

Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...

Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo...

Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'

Biografia por cortesia de "RELEITURAS"

Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides.

Foi Professora , Escritora e Jornalista. Depois de uma vida cheia de publicações (sobretudo poesia lírica e ensaios) e de honrarias Falece no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura.

Há uma rua com o seu nome em São Domingos de Benfica, uma freguesia da cidade de Lisboa. Na cidade de Ponta Delgada, capital do arquipélago dos Açores, há uma avenida com o nome da escritora, que era neta de açorianos.

Traduziu peças teatrais de Federico Garcia Lorca, Rabindranath Tagore, Rainer Rilke e Virginia Wolf.

Sua poesia, traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindu e urdu, e musicada por Alceu Bocchino, Luis Cosme, Letícia Figueiredo, Ênio Freitas, Camargo Guarnieri, Francisco Mingnone, Lamartine Babo, Bacharat, Norman Frazer, Ernest Widma e Fagner, foi assim julgada pelo crítico Paulo Rónai:
"Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo...A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea."

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Livro "Epopeia do Bacalhau" na RTP

Ontem , em Ílhavo, demos de caras  (de bacalhau) com o Chef  Hélio Loureiro, preparando dentro do Museu Marítimo mais alguns dos seus programas de culinária para a RTP, aqui dedicados obviamente ao bacalhau e a Ílhavo...

Logo se lhe ofereceu um dos primeiros exemplares do nosso Livro "A Epopeia do Bacalhau"... E o Prof Álvaro Garrido aproveitou para lhe dedicar algum tempo da sua entrevista no Programa "Gostos e Sabores".

 «Gostos e Sabores» é um programa de culinária da RTPN apresentado pelo Chefe Hélio Loureiro, Chefe Executivo do Hotel Porto Palácio e Chefe da Selecção Nacional de Futebol.

«Gostos e Sabores» é emitido na RTPN aos sábados, em versão original, às 17h30 e repete no domingo, às 7h30, e na segunda-feira, às 14h30. É também emitido na RTP Internacional, RTP Açores, RTP Madeira, RTP África e nos comboios Alfa (CP).

Restaurante Anti-Crise

Haverá (ainda) disso? Perguntarão os Leitores...

Eu acho que sim - estive lá ontem , num desses - mas também me parece que a "moda" está cada vez mais a pegar...Ou  os restauradores baixam os preços ou afundam-se,  neste País em recessão económica (de facto e formalmente só daqui a 3 meses podemos dizer, depois de 2 trimestres seguidos de quebra no PIB, mas todas as expectativas são essas).

Com o desembolso forçado da carteira dos cidadãos contribuintes cada vez haverá menos dinheiro para os "bifes" fora de casa... E mesmo lá dentro das casas é de esperar o advento do reino de El-Rei Frango de Aviário, personalidade que costuma "subir ao poder" sempre que as dificuldades se avolumam na gestão dos orçamentos familiares. E, aqui para mim, este nefando soberano é bem capaz de vir a reinar nas mesas pátrias por muitos e maus anos... A ver vamos.

Pois ontem, em Ílhavo, lá fomos espreitar o já conhecido e aqui recenseado:

Restaurante D. Coutinho
Rua Malhada , Ílhavo
3830-141 ÍLHAVO
Telefone - 234 321 832

O D. Coutinho é o oásis do bacalhau. Em terras de marinheiros, capitães , salgas e secas do fiel amigo, nada melhor do que lhe prestar preito e homenagem,  fazendo uma refeição toda ela construída em torno da "múmia pisciforme" (na lapidar observação de meu Mestre Quitério).

Assim fizémos. Quatro cristãos sentaram-se à mesa e "aviaram":

Ovas de bacalhau em salada; salada fria de lascas de bacalhau assado; Línguas de bacalhau fritas; Bacalhau guizado com pimentos e massinhas; Bacalhau assado com broa.

De sobremesa fugiu-se à bacalhoal ditadura, e sorveram-se: Pêra bêbeda, crepes de frutos silvestres (2); uma manga.

Bebeu-se um Espumante Bruto da Bairrada  (Aliança) e um Tinto Vallado de 2008 (soberbo e a propósito).

4 cafés e a conta (ou melhor dito, a continha)...

70 Eurinhos...   E esta Hein?

Mesmo admitindo que as linguas vinham sem acompanhamento e que o bacalhau guizado e o bacalhau em broa seriam apenas 2 doses...

Ah ganda Coutinho!  Se não te enganaste nas contas tens clientes! Quase que dá a mecha para o sebo, ou seja, a factura maneirinha compensaria o Diesel gasto na viagem.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Amanhã em Ílhavo

Não passo por aqui amanhã. Vamos a Ílhavo preparar o lançamento do nosso último Livro "Epopeia do Bacalhau".

Lindo de morrer, com textos de Álvaro Garrido, estudioso da matéria e Director do Museu de Ílhavo, e do nosso Amigo David Lopes Ramos, que faz uma extraordinária viagem sobre os motivos do apego luso a tão estranho alimento, obviamente que complementada com as Receitas do "fiel amigo", as tradicionais e as novas interpretações das mesmas pelo Chef Aimé Barroyer.

A paginação e desenvolvimento artístico são do Atelier Acácio Santos, nosso companheiro de muitas jornadas. E os selos que estão lá dentro, de 2000, são do  Luiz Duran.

Para prefaciar quem melhor do que o Prof. Mário Ruivo? Lenda viva da biologia marítima, Pai da moderna Oceanografia portuguesa, um dos mais respeitados cientistas do mar em todo o mundo.

Dentro de dias numa Estação de Correios perto de si.  Não percam porque só pudémos fazer 5,000 exs... Não havia mais selos da Emissão Comemorativa de 2000 que dedicámos exactamente à Pesca do Bacalhau.

Biografia do Professor Doutor Mário Ruivo (por cortesia de BioTerra)

Biólogo, especializou-se em oceanografia biológica e recursos marinhos na Universidade de Sorbonne. É atualmente membro e coordenador da Comissão Mundial Independente para os oceanos, presidente do comitê português para a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, representante de Portugal no Conselho Executivo da COI. No período de 1980 a 1988, foi secretário da COI em Paris. Outro organismo internacional em que atuou é a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO, tendo sido por mais de 10 anos diretor da divisão de Recursos Aquáticos e Ambiente do departamento de Pescas. Preside a comissão oceanográfica intersectorial do Ministério da Ciência e Tecnologia de Portugal, a Federação Portuguesa das Associações e Sociedades Científicas e o Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Atuou como conselheiro científico da Exp ´98, cujo tema foi "Os Oceanos - um Patrimônio para o Futuro". Foi membro do Board of Trustees do International Ocean Institute e vice-presidente da Associação Européia da Ciência e Tecnologia do Mar. Exerceu inúmeros outros cargos e funções relevantes no governo português, tendo sido Secretário de Estado das Pescas e Ministro dos Negócios Estrangeiros no período 1974/1975. Chefe da Delegação Portuguesa à Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar no período 1974/1978. Presidente da Comissão Nacional da FAO de 1974 a 1980. Diretor-geral da Investigação e da Proteção dos Recursos do Meio Aquático (Ministério da Agricultura e Pescas no período 1974/1979). Secretário da Comissão Oceanográfica Intergovernamental - COI, da UNESCO no periodo 1980/1988. Membro do Conselho Coordenador da Comissão nacional da UNESCO de 1989 a 1995. Membro do Conselho Consultivo da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica - SFCT no período 1986/1995. No âmbito do MCT, coordenou de 1996 a 1997: i) a Avaliação das Unidades de Investigação em Ciências do Mar; ii) o Painel de Ciências do Mar (Praxis XXI); iii) a Comissão de Acompanhamento dos Laboratórios do Estado (IPIMAR e IH). Presidente da Comissão de Avaliação e Controle Independente - Projeto COMBO, MEPAT de 1996 a 1997. Coordenador da Equipe de Missão para o Programa Dinamizador em Ciências e Tecnologia do Mar - PDCTM no período 1998/2000 assim como do respectivo Painel de Avaliação de 1999 a 2000. Conselheiro Consultivo da EXPO'98 "Os Oceanos - Um Patrimônio para o Futuro". Membro e Coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos de 1995 a 1998. Além de numerosas publicações científicas no campo da oceanografia biológica e gestão de pesca, é autor de estudos, ensaios e artigos sobre política e gestão dos oceanos, ciência, sociedade e ética, aspectos institucionais da cooperação internacional em assuntos do mar e ambiente

Pensamento Positivo pôrra!!

Levei na cabeça de alguns dos meus fiéis leitores, pelo tom cinzento do último Post...Parece que aqui o gordo terá sempre de obedecer aos estereótipos convencionais da "classe": bonacheirão que baste, bem disposto na tristeza e na alegria, sempre pronto a assumir o papel de "animador" de serviço, para levantar a alma dos leitores.

Pois sim, a maioria das vezes  assim fiz, faço e farei. Mas de quando em vez faz bem à alma um pouco de tristeza a cheirar a nostalgia...

Se todos os dias bebêssemos Barca Velha às refeições estou certo que havia de chegar o dia em que o famoso néctar nos seria quase insuportável. Apesar de ser quem é...

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Sobre a Solidão

No Dia dos Namorados falar sobre a Solidão é mórbido, típico de uma mente retorcida e magoada...Dirão alguns.

Ou talvez não.... Nem sempre a solidão, o estar sózinho, é um opróbio... Por vezes faz parte da escolha consciente de um indivíduo estar sózinho, e em paz resolver os seus derradeiros assuntos. Com Deus e com os Homens.

Discorrer um pouco sobre a  Solidão veio-me  à memória com aquelas histórias dos velhinhos que morrem em suas casas, secretamente, sem família nem amigos que testemunhem a "passagem" e lhes dêem algum conforto nos últimos instantes de vida.

Estes relatos são obviamente dolorosos e trazem para a praça pública todos os pecados modernos deste século XXI: o abandono dos doentes e velhos, a estratégia das "Casas de Repouso", dos "Lares" , muitas vezes transformados em "olvidos" , naqueles buracos  para onde se deitavam os incómodos politicamente activos mas que não se podiam matar,  na Idade Média, de forma a que toda a gente se esquecesse deles.

Por mim preferia mil vezes morrer sózinho, no meio dos meus livros, do que ser obrigado a viver os meus derradeiros dias num desses estabelecimentos, a interagir com quem não escolhi e a perder, dia a dia, o que restasse da minha dignidade.

O verdadeiro pesadelo, pelo menos para mim, não é morrer em casa, sózinho, mas sim  ver chegar o dia em que não sou já senhor das minhas decisões para poder opor-me a  qualquer um desses tipos de "transferências"...

Um Homem sózinho em casa tem vantagens. Já aqui o disse, num dos Posts mais comentados na história deste Blogue... Não só do ponto de vista da independência moral,  mas também em termos do domínio que passa a ter sobre o seu "habitat", sobre o seu ambiente.

As palavras "viver casualmente"  são importantes, como sinónimo de uma vida sossegada, sem pressões de nenhuma espécie. Os "códigos de vestuário" perfeitamente adaptados ao conforto e já não às exigências da sociedade, os horários feitos em termos de si próprio e nunca à medida dos outros, o supremo luxo que é escolher o que vamos fazer sem outras limitações que não sejam as que decorrem do dinheiro disponível ou dos níveis de  saúde ainda em reserva.

Por isso direi, neste Dia do Amor e dos Apaixonados: Amem-se muito e,  se puderem, vivam Felizes para sempre. Como o Amor não escolhe idades, isto tanto é possível para quem tem 20 anos como para quem tem 70...

Mas se tiverem o azar de estarem  sózinhos neste mundo - mesmo que entre duas relações, temporariamente -  não esmoreçam. Há ainda muita coisa para fazer , muito livro para ler, muito filme para ver e muita maravilha para descobrir.... Algumas até do sexo oposto.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Para Descansar a Vista

Nesta Sexta Feira 11 de Fevereiro ficam bem Poemas de Amor, para celebrar o Dia dos Namorados que está a chegar.


Começamos com uma pérola do amigo Mega Ferreira:

Esquece-te de mim, Amor,
das delícias que vivemos
na penumbra daquela casa,
Esquece-te.

Faz por esquecer
o momento em que chegámos,
assim como eu esqueço
que partiste,
mal chegámos,
para te esqueceres de mim,
esquecido já
de alguma vez
termos chegado.

António Mega Ferreira, in “Os Princípios do Fim

E continuamos com meu Mestre Jorge Luis Borges. Bem sei que este poema é repetido aqui no Blog, mas como é um dos meus “mais amados” não me importo mesmo nada. E cá vai disto:

O Apaixonado

Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.

Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.

Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.

Devo fingir que há outros.
É mentira.
Só tu existes. Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.

Jorge Luis Borges, in "História da Noite"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral


Termino com  Luis Vaz. E não podia terminar melhor. Deixo-vos o Príncipe dos Poetas:

Busque Amor…

Busque Amor novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Pois não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde;
Vem não sei como; e dói não sei porquê.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Vem aí o Dia 13!!!

A minha Santa cá de baixo faz anos a 13 de Fevereiro... Parece que nasceu - segundo dizia o meu Pai que devia saber do que estava a falar - numa Sexta feira 13!

Fará 81,  ou 82 ou mesmo 83 anos... Parece-me que serão 82,  mas o número exacto também não interessa nada. O que interessa é que já não há bolo que aguente com essas velas todas em cima. Nem ela as quer no bolo, porque tinha de dizer a idade certa...

Esta efeméride complica sobremaneira a harmonia familiar, e também  porque calha este ano a um Domingo.



Há que diplomaticamente saber o que lhe vai apetecer comer, tratar das Prendas (do neto e da minha, diga-se, porque o Senhorio costuma cinicamente atribiuir-me essa incumbência), saber se deseja convidar a irmã ou as sobrinhas, etc...

Não é fácil porque desde o fim de semana passado, como é costume, vem dizendo que  "no próximo Domingo não saio de casa ouviram? Fico na cama todo o dia porque já não tenho idade nem paciência para Festas! Nem à Missa eu vou!"

Não acreditem por Favor!

O incauto que acreditasse nisso,  chegava o Domingo e levava uma "rabecada" das antigas se não tivesse tudo preparado e nos "trinques", desde a mesa posta até ao bolo (sem velas) e às prendinhas...

A pessoa em causa ainda por cima tem ultimamente tomado atitudes cada vez mais estranhas (mesmo para ela).

Revelou-se adepta do Futebol, anda sempre a perguntar ao neto em que canal dá o Jogo do Benfica (vá lá , vá lá , que podia ser pior...)  e já uma vez ou duas me confidenciou que "O Fabião está a jogar muito bem!". (Depois de muito pensar lá concluí que o "Fabião" seria o Fábio Coentrão...).

Quando  casou,  o meu Pai era Guarda-Redes (suplente) no Estoril-Praia de saudosa memória , daquela equipa maravilha que tinha um húngaro por treinador e que chegou à final da taça de Portugal em 1944 ou 45. Mas fora isso e apesar de toda a família ser conhecida na Rua das Tílias pelo seu benfiquismo (excepto o meu senhorio que entendeu ir pastar para Alvalade, vá-se lá saber porquê...) nunca mais lhe reconheci ímpetos desportivos senão agora. Deve ser o Alzheimer.

Para além disso revelou também no Sábado passado que "tinha mandado furar as orelhas...!!"

Ora eu, que não percebo nem muito nem pouco disso, mesmo assim penso que os 82 anos serão uma idade um pouco tardia para tomar essa decisão... A não ser  -  como disse a irmã, a quem questionei de imediato com medo da arterosclerose galopante que poderia estar a desenrolar-se - que as orelhas já tivessem sido furadas lá para trás, no século passado e , por terem fechado os buracos, necessitassem agora de  recauchutagem.

Mesmo assim é esquisito...

A prenda de todos os anos é sempre igual: Perfume do Netinho (l'Air du temps , sempre o mesmo) e Creme facial do Filhinho (Lancôme) tudo pago pelo mesmo corno, está claro!

Mas este ano já começou a Senhora a falar de brincos e que "só pode usar ouro por causa das alergias"...

(Aqui é igual a mim...Também só  posso comer Peixe e  Marisco do nosso, fresco ,  por causa das alergias...Deve ser doença de família)

Estou mesmo a ver que tenho de puxar dos cordões à bolsa e ir ao amigo Francisco, da Ourivesaria da Estefânia, ver o que para lá existirá para pendurar nas orelhas, de ouro e a preços módicos...

Do que me lembrei foi que o Neto daria o brinco da orelha esquerda e eu o da orelha direita... mas ela  é capaz de não achar graça nenhuma ...Mesmo apesar da Crise...

Só me arranjam preocupações...

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Ruminações...

Ando a dormir mal.

Desde que apanhei um "susto neurológico" depois da (e causado pela ) PORTUGAL2010, acordo muitas vezes de noite a reflectir na precariedade daquilo que todos nós damos por  adquirido: o almoço com os Amigos, os bons tempos passados lá para Abrantes na cavaqueira com o clâ Alves, os petiscos da  nossa Serra, alguma boa música que se vai ouvindo.

Esta noite, porém, dei por mim a macaquear na política caseira.  E pareceu-me finalmente compreender porque motivo é que o PCP levantou este Fantasma da Moção de Censura  ao Governo,  da possibilidade de apoiar a da Direita ou de  fazer a sua própria,  esperando que a mesma Direita a vote favoravelmente.

O Tio Jerónimo, que de Política conhece  tudo e sobra-lhe ainda tempo  para ensinar a estes miúdos rabinos que por aí se atravessam agora, sabe muito bem que o seu Partido tenderá a desaparecer do Plenário caso seja aprovada a redução do número de Deputados, tal como o PSD quer e já sugeriu ao PS (ficaríamos com uns 180 deputados, ao contrário dos 230 que temos hoje).

Por isso mesmo convém-lhe ter uma moeda de troca cara e que não se pode ignorar: Aprovar a Moção de Censura dos outros ou avançar com a sua Moção.

O próprio PS - pela intervenção arguta e a tempo do Sr Ministro para os Assuntos Parlamentares Jorge Lacão  - também não foi por acaso que introduziu esta questão da discussão do número de Deputados exactamente agora, quando aparece no horizonte a nuvem da dita cuja Moção...

Ou seja: Se o PCP avançar com a Moção ( sua ou viabilizando a dos outros) é certo e sabido que o PS se vinga, acordando com o PSD a diminuição dos Deputados. E lá se vai PCP ( e Bloco, e CDS\PP) para as urtigas, parlamentarmente falando.

O resultado deste imbroglio  parece estar dependente do timing e das jogadas de bastidores: Ou Tudo : Moção + Diminuição dos Deputados - ou Nada (e ficamos como estamos).

Consequências do Tudo - Cai o Governo. Nas próximas Legislativas os pequenos Partidos ficariam contentes se conseguissem eleger 4 ou 5 Deputados cada um. Ou menos...

Consequências do Nada - Nada mesmo... Para cair Sócrates lá tinha o PR que se atravessar na jogada.

Nota Final: sabendo tudo isto (ou suspeitando) será que Paulo Portas dará a mão ao PSD votando favoravelmente a Moção de Censura? Para ele será mais importante um Ministério no próximo Governo ou manter um grupo parlamentar com alguma dimensão?

Muito difícil de responder ...

terça-feira, fevereiro 08, 2011

"estórias curtas" para dispor bem. Enfim, menos mal...

Algumas já os Leitores conhecerão... Outras não. Bom proveito lhes façam !

1) Andava o Elefante pela selva sossegado quando deu com o Leão a chorar junto a um riacho. E quis consolá-lo:
- "Deixa lá que o Liedson também já tinha alguma idade... Outro aparecerá!"
- "Não é nada disso gordo trombudo! Vejo-me aqui no riacho e parece que tenho o pêlo a escurecer..."

2) O que é um piolho em cima da cabeça do antigo árbitro Pierluigi Collina? Mais um Sem-Abrigo, coitado!

3) Tradução mais ou menos livre de "Bicicleta de Montanha" em dialecto japonês da região de  Hokaido : "Quasimota"

4) O filho do Manoel de Oliveira telefona para o TM do grande realizador:
-"Pai, tem cuidado! Estão aqui a dizer na radio que anda um automóvel em contra-mão na auto-estrada onde tu estás!"
- "Só um carro!!?? Mas eles são às dezenas carago!" 

5) Pinto da Costa diversificou a actividade, tendo adquirido para a actual namorada uma Sapataria de renome na Invicta. A jovem atende uma chamada ao balcão da sua loja:
 -" Está Lá? De onde fala?"
-"É da Sapataria Verão Azul"
- "Desculpe, foi engano no número..."
-" Não faz mal! Passe por cá que nós trocamos na hora!"

6) Entra a Mãe com a criancinha para a Galeria da Assembleia da República em S. Bento.
"-Querida, agora não faças barulho ouviste?"
-" Porquê mamã? É para não acordar os senhores que estão ali a dormir?"

7) Se um dos nossos Ministros apanhasse Febre Aftosa seria necessário abater toda a manada?

8) Qual a diferença entre o antigo Presidente Yeltsin e um Camelo?
O Camelo pode trabalhar  vários dias sem nunca beber. O Presidente Yeltsin  podia beber vários dias sem nunca trabalhar...

9) O Advogado tenta aliciar o Réu:
-" O Senhor vai agora explicar-me bem explicadinho como arrombou esse cofre."
-" Olha , Olha...Ajudar a concorrência? Nem pensar!"

E por fim uma "alentejanada" , com pedidos de desculpa aos meus amigos lá de baixo, seguida do obrigatório "contraditório":

10) Como se reconhece um Pirata Alentejano no meio dos outros Piratas?
É o que tem pala nos dois olhos...

11) Um Lisboeta dizia mal da aldeia onde passava férias, lá ao pé da Amarreleja. E não se calava com a falta das coisas mais básicas. É que nem um supermercado aquela terreola tinha! Farto de o ouvir o compadre alentejano não se conteve:
-"Vocemecê não sabe qual o único sítio deste mundo onde o carro anda à frente dos bois Compadre?"
-"Não senhor!"
-"Pois é exactamente lá nos seus supermercados..."

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

O Morto e o Coveiro

"O Governo está Morto! Só falta passar o Atestado de Óbito!".

Esta foi a maior "boutade" do conhecidíssimo Professor Marcelo na sua habitual crónica das noites de Domingo, ontem. Quem o viu e ouviu - directo de Luanda - preterindo assim a transmisão do V. Setúbal-Benfica (ganhámos por 2-0, 15 jogos, 15 vitórias. Toma lá e embrulha!) terá ficado elucidado pelo raciocínio:
-" É o PCP - Jerónimo de Sousa - que tem este Governo na mão,  ao declarar que votará qualquer Moção de Censura ao lado do PSD e do CDS\PP,  e cabe a Pedro Passos Coelho a decisão sobre quando irá apresentar uma..."

Se bem me lembro de ter ouvido o Amigo Jerónimo, este não disse exactamente aquilo que o Professor afirmou. Disse antes que "o PCP poderia apresentar uma Moção de Censura a este Governo" , o que não é bem a mesma coisa...

Mas dando de barato que o PCP avalizaria a Moção da Direita - sobre isso tenho muitas dúvidas, as mesmas que teria se me dissessem que o PSD e o CDS\PP  votariam a favor da Moção do PCP - é certo e sabido que o novíssimo PR  ( na sua segunda encarnação) teria o maior prazer em mandar José Sócrates exercer o seu "húmus pastoral" para outro lado qualquer...

E se tudo isto fosse feito Antes do Congresso do PS, já me inclino para que apareçam mais concorrentes ao lugar de Secretário Geral, em vez desta tristeza Estalinista da "Lista Única"...

A figura da Moção de Censura, desde que apoiada por toda a oposição, aparece agora - na altura em que o FMI terá a contra-gosto mandado desfazer as malas que já se encontravam no hall dos seus especialistas, com destino a Lisboa - como uma esperança para a mudança de Regime.

 Mudança de Regime dentro do PS e mudança de Regime dentro do país. Ambas são  possíveis, embora - e com muita pena minha - seja a segunda bem mais provável que a primeira...

A não ser que as Comadres desavindas se entendam rapidamente e dêem as mãos para passar a Moção de Censura ANTES do tal Congresso do PS ..  Era bonito de se ver, até para fazer história parlamentar... Mas como já disse, tenho muitas dúvidas sobre isso.

Será que a ânsia de poder da direita será suficiente para votar a favor da Moção do PCP?  E, sabendo isso, será que o PCP a apresenta?

Ou, por outro lado, que garantias, que contra-parttidas,  irá o nosso Tio Jerónimo exigir da mesma Direita para votar a favor da Moção "deles":
Um Ministério ? Impossível!
Garantias na Política Laboral, reposição do ordenado do Sector Empresarial do Estado? Lá se ia o Orçamento e o Déficit...

Para irmos acompanhando.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Para Descansar a Vista

Porque hoje é Sexta feira, porque o Sol de Inverno brilha esplendoroso sobre o Tejo e os 7,5 graus com que saio de casa parecem tornar ainda mais límpido  este magnífico céu de Lisboa, por isso tudo, mas também para levantar a alma e os ânimos, aqui vai Poema de  Alegria. Pelo grande Pessoa, referência lisboeta da poesia tal como Botelho o é na pintura.


Feliz Dia para quem é

Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ter
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Inconsciente e sem querer passar.

Ah, a ironia
De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Comentário sobre os "Gastos"

Uma Alma Gémea comenta o último Post:

O meu aplauso para este post.
Muita confusão faz a esta gente os mercedes dos outros, as motas, as viagens, a roupa, a vida, até os aparelhos dentários na boca dos miudos dos outros..
A receita é simples: Lutem, estudem, trabalhem, especializem-se, despeçam-se, façam-se à vida que a morte é certa e sobretudo vejam-se ao espelho...Portugal tal qual a melhor maçã do pomar hospeda bicho - Os Portugueses!!!!

Comentário ao Comentário: Fale assim até que a voz lhe doa amigo leitor!

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Oh "Facista" ! Vai mas é gastar pr'ó Camões!

Alguns leitores criticaram com alguma veemência a "extravagância" do almoçinho no Degrau L.

-"Em tempos de crise?!! Este gajo é maluco ou saíu-lhe o EuroMilhões?"
-" A gozar com quem trabalha! Malandro!"

E por aí fora...

Vamos lá explicar racionalmente:

Um Kg de Pregado legítimo, de Mar, não custa menos de 40 euros. Para 4 pessoas contem com um "bicho" de 2 kg ou mesmo um pouco mais... Por quanto acham que um restaurante o vende? A resposta é simples, a própria autoridade fiscal admite, por defeito e para cálculo do IRC, que será vendido com 100% de margem. Logo aqui temos..., 160 Euros (ou mais...). Juntem-lhe mais um kg de Camarão vivo, da nossa costa... Mais uns 70 euros...  Vinhos, entradas , sobremesas...

Está explicado?

Claro que há mais barato... Mas para quem quer peixe de viveiro e marisco congelado de Moçambique.

Eu não. Por enquanto...

Há pessoas que andam a poupar o ano inteiro para fazerem umas férias em grande.  Há outros que fazem sacrifícios para mudar de carro de 4 em 4 anos. Outros ainda não passam sem renovar o guarda-roupa de acordo com as flutuações da moda...Por fim, também existem os "freaks" da tecnologia, que têm que ter imediatamente o IPAD ou o Iphone que acabou de sair...

Eu,  não sou "pipi" das lojas , nem "metrosexual" dos centros comerciais, para mim  um par de sapatos dura até que alguém mo tira do armário por atentado à higiene pública,uso as calças até se rasgarem, idem para as camisas,  passo as minhas férias em casa de família, e  tenho apenas 2 ou 3 velhas TV  de cinescópio (se ainda trabalham porque é que se há-de mudar??!!)

 Em  contra-partida disto tudo...gosto de comer bem! De vez em quando...

Capisce? E se não "capisce" é para o lado onde durmo melhor.
E deito a língua de fora aos críticos.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Degraus há muitos...mas Degrau L só há um!

Em Leça havia um restaurante de qualidade -  Degrau do Castelo - onde o V. Blogger se abrigou muitas vezes para fugir aos "bons  e aos maus ladrões"  restaurativos  que rodeavam o largo da fortaleza na mesma povoação.

Mestre Rui estava na Sala, sua Mulher junto dos fogões. Acolitados por gente boa de tacho enchiam de mimos os passantes com o que nos punham na mesa. A filosofia era simples: Peixe fresco e marisco da nossa costa ainda a mexer. Depois os acompanhamentos (onde avultava a célebre açorda  de coentros ovada,  da mulher do Rui, ou os arrozes a gosto do Cliente). O peixe era apresentado como o passante desejava. Cozido, frito, grelhado ou no forno, dependendo da pressa, e da vontade do momento.

Pois Mestre Rui abandonou o Norte e instalou-se aqui, pertinho de nós! Abriu recentemente o

Degrau L (de Lisboa)
Praça Guilherme Gomes Fernandes, 3\5
2770-077 PAÇO de ARCOS
telefone - 91 252 3598
Telefone fixo - 21 01 103 12

Para lá chegar é muito fácil: tomem a Marginal no sentido Lisboa-Cascais. Entrem por Paço de Arcos, pela velha estrada empedrada onde se encontra o restaurante "Os Arcos". Logo que deixem esse restaurante à V esquerda enfiem na próxima rua, tambem à esquerda. Estão no Largo Guilherme Gomes Fernandes. Arranjem estacionamento nas várias hipóteses disponíveis (com moedinhas...). O DEGRAU L fica em frente ao Mar, em situação esplendorosa, em edifício pequeno pintado de vermelho.

Para garantir a  mesma forma de trabalhar -  em equipa vencedora não se deve mexer - vieram com a equipa da cozinha do Degrau do Castelo os fornecedores de peixe e marisco lá do Norte, onde Rui continua a deslocar-se para nos trazer os rodovalhos, os linguados ,  os robalos,  a pescada poveira, o  camarão da costa, as lagostas  e por aí fora.
Rui também já se convenceu que aqui em baixo existe material a não menosprezar: os chernes, gorazes e pargos de Peniche, os sargos de Cascais...  Os incomparáveis Salmonetes! Com o tempo ainda o havemos de converter à qualidade da moirama náutica!

O restaurante não é "barato" como nenhum restaurante que trabalhe com peixes e mariscos ao Kg  pode ser "barato". Mas onde alcança nota máxima é na qualidade da confecção e da matéria-prima..

 Já se sabe que a especialidade é Peixe ,  mas tal como no antecessor de Leça, há sempre a possibilidade de comer,  por encomenda, o cabrito excepcional assado no forno (3,5kg no máximo!) , a costela de vitela mendinha, a caldeirada , ou o galo, em cabidela ou não.

Um destes dias, e depois de na véspera,  com muita pena,  nos ter sido dito que a casa estava reservada para uma das grandes firmas de Advogados da nossa Praça lisboeta, lá conseguimos uma mesa.

O Degrau L apresenta-se em duas salas. A do rés-do-chão, onde se sentarão 20 pessoas, e a do 1º Andar, onde há lugar para mais umas 12. Esta  sala pode ser  utilizada para apoio de bar (em aperitivos pré-prandiais ) no caso das reservas  o sugerirem.  Boa nota também para panejamentos, pratos, copos e talheres.

Já se vê que com a pequena dimensão devemos RESERVAR!

4 mortais no dia em causa começaram por se entreter com as lulas fritas a estrelicar, os croquetes da avó (receita de casa do Rui), as ovas gradas em alho e o camarão de Espinho, sublime de frescura.

Depois veio o Rodovalho grelhado, peixe de bela dimensão e rijo a sério, nada que se compare com as "molezas" avárias. Acompanhado por grelos salteados e a tal açorda de ovas, aqui enriquecida com  belíssimos camarões frescos.  De comer e chorar por mais.

Para "postre" o famoso leite-creme do Degrau, feito e queimado na altura. Com três garrafas de branco - verde Quinta de Azevedo e maduro (2) Quinta do Crasto  -  e 4 cafés, ficou esta aventura por mais ou menos 70 euritos (por cabeça...)

Barato não é. Mas a qualidade é excepcional ! Ao nível de um Porto de Santa Maria ( de saudosa memória, agora que mudou de gerência); de um Beira Mar, de um Gigi, de um Chanquinhas.

Aprovadíssimo! Para ir de vez em quando e com o objectivo de nunca esquecer que ainda há coisas no mundo pelas quais vale a pena lutar, apesar da Crise.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Para que servem as Empresas Públicas que dão prejuízo?

O Dr. Passos Coelho  ameaçou poder vir a "exterminar" essas malandras das EP's que só dão prejuízos ao Estado: as CP's, as Refer's, as Estradas de Portugal e por aí fora...

Embora hoje o seu Partido, face à  tolice do "menino-rei" , tenha vindo a público apaziguar as hostes, o certo é que o que fica na orelha do cidadão pagante de impostos é o "sound bite" do Coelho (Passos).

E o tal cidadão pagante dirá:
-" Este gajo até tem razão pôrra! Se as Empresas dão prejuízo porque é que se continuam a manter , pagas por todos nós, com os nossos impostos??!!"

Convém dizer a esse Cidadão - e já agora aos outros - que se forem extintas essas Empresas e se a respectiva actividade fosse tomada por Terceiros privados, estes teriam que orientar os seus preçários na óptica da cobertura dos  custos de exploração. Como consequência o Zé Pagante teria que pagar não uma vez e meia, talvez não apenas duas vezes mais, mas tanto como quase 2,5 vezes acima do que está a pagar neste momento por "Passes e Bilhetes"... E o que dizer das Estradas de Portugal? Se alguma " BRISA" viesse a tomar conta da ocorrência, lá teríamos que pagar portagem nas estradas Nacionais, nas Distritais, nos Caminhos e Carreiros deste Portugal, alcatroados ou não... Até as velhas Pontes Romanas que ainda existem seriam portajadas, à conta do custo da respectiva manutenção.

E as Empresas Privadas sabem disso:  Convém-lhes que os seus trabalhadores cheguem a tempo e horas ao emprego. Convém-lhes que não gastem demasiado dinheiro nos transportes, para que não venham reclamar aumentos de ordenado!

Uma coisa é exigir Gestão racional e rigorosa em tudo o que mexer com os dinheiros públicos. Outra coisa é ignorar que ser Estado e ser Governo acarreta Custos Sociais. Por isso é que existem Impostos.

Fez-se - . penso que foi no Reino Unido, há já algum tempo - uma análise sobre aquilo que o cidadão teria de pagar se fosse o seu dinheiro privado a ter de cobrir as despesas de saúde a custos reais. O valor era tão alto que se questionaram as razões desses "Custos Reais". A grande maioria estava ligada ao custo dos equipamentos hospitalares e ao preço\hora da mão de obra especializada (Cirurgiões, técnicos de saúde, enfermeiros, etc...). A resposta para tudo isto parece então ser a solução cubana:  Profissionais de saúde pagos a preço\hora da mão-de-obra especializada industrial (serralheiro mecânico, ou carpinteiro) . Hospitais construídos e projectados por Empresas de Construção Civil  controladas pelo Estado onde o preço da construção seria igual ao custo da mesma.

Se assim fosse em todo o lado, eu diria Óptimo! Mas como não é, quantos neurocirurgiões acham os Leitores que ficariam em Portugal se fossem pagos como os pedreiros (salvo seja e com respeito pela classe)?  Ficam em Cuba porque (ainda) não se podem pirar...

E mesmo assim , se for necessário importar (por ex) algum aparelho de Ressonância Magnética - que não se fabrica em Cuba - o Estado tem de abrir os cordões à bolsa... E lá se vão os "Custos Reais" por aí acima.