Mas depois desta noite só um deles ficará na África do Sul, o outro vem de férias para a Península Ibérica.
Embora eu tenha a maior simpatia pelo Jamón de cerdo ibérico, de bolota, com uma cura especiosa de ar das montanhas que dure nunca menos de 48 meses, o certo é que casei na Beira Alta , e com estas coisas do Queijo da Serra não se brinca naqueles locais, sob pena de apanhares com uma sacholada em cima dos c****.
Sou amigo há longos anos do excelente Sr Almeida do Méson Andaluz, e foi com ele que me iniciei na religião da perna do porco (com vossa licença). Muita coisa me contou o Sr Almeida sobre a forma como começou a comprar Jamóns , lá para os inícios dos 70. Ora leiam sff:
Saberão os mais entendidos nestas matérias que, muito antes da abertura das fronteiras e dos espaços "Shengen" , havia grande quantidade de melómanos em Portugal, os quais muitas "guitarras" importavam de Espanha, à conta dos seus projectos culturais. Essas "guitarras" vinham dentro das competentes caixas, de cartão ou de madeira, as quais quase nunca eram abertas na fronteira, nem que o "músico" tivesse de esperar algumas horas pela mudança de turno da Guarda Fiscal lá do posto ... Há que dizer que certos guardas fiscais também - porventura por imitação - desenvolveram nessas alturas anseios melódicos pelos Fados e Guitarradas, motivo pelo qual algumas das guitarras (uma percentagem acertada) acabava por ficar lá mesmo em Ficalho ou Vilar Formoso...
Depois desses anos malditos a " malta" cansou-se da música, a pouca vergonhice veio completamente ao de cima e os verdadeiros Jamóns desataram a entrar pelas fronteiras adentro com a impunidade merecida. Mas parece que quando eram "clandestinos" sabiam até melhor, dizem os especialistas. saudosos do "sabor a pecado" de que se queixava a Princessa italiana numa tarde de Agosto, a comer um sorvete numa esplanada de Veneza...
Mas se Don Jamón é uma religião, que direi de Sua Exª o Queijo da Serra? Muito simplesmente que faz parte da Santa Trindade das divindades serranas, juntamente com o Borrego da Estrela e a aguardente de Zimbro.
Cuidado com a forma como tratam o nosso Queijo! Atenção aos maltrapilhos que o provem sem um pensamento para o trabalho que deu, para o suor do Pastor e da sua Mulher. Morte lenta e eterna danação para os infelizes que o adulterem com leites de cabra ou de vaca! Ou então atire-se-lhes a ASAE às canelas, que é mais ou menos a mesma coisa!
Não se brinca com coisas sérias e , lá para as fráguas de Gouveia, entre os pastos da Arrifana ou por entre as giestas da Aldeia da Serra , não deve haver nada de tão sério como este Queijo de Janeiro, feito à mão, virado todos os dias, até estar digno de enfeitar uma mesa de Reis.
Respeito portanto!
Logo à noite se saberá se foi o Jamón ou o Queijo da Serra que "levou a Taça".
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