De Eugénio de Castro e Almeida, nosso poeta maior, introdutor do Simbolismo em Portugal, deixo um soneto publicado no seu livro "Depois da Ceifa" (1901):
Em que emprego o meu tempo? Vou e venho,
Sem dar conta de mim nem dos pastores,
Que deixam de cantar os seus amores,
Quando passo e lhes mostro a dor que tenho.
É de tristezas o torrão que amanho,
Amasso o negro pão com dissabores,
Em ribeiros de pranto pesco dores,
E guardo de saudades um rebanho.
Meu coração à doce paz resiste
E, embora fiqueis crendo que motejo,
Alegre vivo por viver tão triste!
Amor se mostra nesta dor que abrigo:
Quero triste viver, pois vos não vejo,
Nem sequer muito ao longe vos lobrigo.
Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944)
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