sexta-feira, junho 26, 2009

Para descansar a Vista


De Eugénio de Castro e Almeida, nosso poeta maior, introdutor do Simbolismo em Portugal, deixo um soneto publicado no seu livro "Depois da Ceifa" (1901):

Em que emprego o meu tempo? Vou e venho,
Sem dar conta de mim nem dos pastores,
Que deixam de cantar os seus amores,
Quando passo e lhes mostro a dor que tenho.

É de tristezas o torrão que amanho,
Amasso o negro pão com dissabores,
Em ribeiros de pranto pesco dores,
E guardo de saudades um rebanho.

Meu coração à doce paz resiste
E, embora fiqueis crendo que motejo,
Alegre vivo por viver tão triste!

Amor se mostra nesta dor que abrigo:
Quero triste viver, pois vos não vejo,
Nem sequer muito ao longe vos lobrigo.

Eugénio de Castro e Almeida (1869-1944)

Nenhum comentário: