quinta-feira, junho 18, 2009

O Problema de mudar de Rumo


Penso que foi Lampedusa - na sua obra fundamental "Il Gattopardo" - que pôs na boca do Principe de Salinas (grande, enorme, Burt Lancaster , já velhinho, no imortal filme de Visconti que se fez sobre o Livro) a conhecida frase:

" - Por vezes é preciso que as coisas mudem para que tudo fique na mesma..."

O PS e o seu Secretário Geral José Sócrates querem mudar de rumo. A 4 ou 5 meses das Legislativas - o famoso Exame Final de cada Partido, em qualquer País - existem dúvidas sobre se essa mudança será ainda possível...

Mesmo que, à moda da Itália antiga de Verdi, Garibaldi e de Victor Emanuel retratada no "Il Gattopardo" , a mudança seja apenas para "os olhos do Povão" , perpetuando-se de facto e por detrás da cortina de fumo mediática, o "anterior regime" com as suas querelas, vícios e desmandas.

O Leopardo tem muita dificuldade em perder as pintas. O Lobo , mesmo vestido em pele de cordeiro, mostra sempre a sua verdadeira natureza. E ainda bem. O que é, deve ser mesmo assim.

José Sócrates, para o bem e para o mal, tem uma maneira de estar na política, uma determinação e uma teimosia que foram reconhecidas pelo País.

Deu-lhe votos essa maneira de ser. Hoje custar-lhe-á também os mesmos votos. Há que aprender a viver com estas realidades. É a Vida...

Mas apresentar-se perante a massa dos eleitores como uma transfiguração do seu antecessor Engº António Guterres - manso e meio preparado para os consensos que por aí terão de aparecer - parece pouco sério e , sobretudo, fará desconfiar o mesmo Povo que lhe deu a maioria absoluta.

Mudar as políticas, arrepiar caminho reconhecendo que certas coisas se poderiam ter feito de outra forma, tudo bem. É inteligente e demonstra que o Governo ouviu o protesto das Europeias.

Mas querer, ao mesmo tempo, mudar radicalmente a imagem do Líder com um qualquer "banho de boutique" preparado pelos inefáveis consultores de MKT político do PS (coitados...Devem ter agora o Complexo de Pigmaleão) não é sensato, provocará risadas e comentários pouco abonatórios e, na minha opinião , fará ainda mais o PS perder votos.

Tudo isto a propósito da entrevista do 1º Ministro de ontem na SIC e da sua anterior apresentação na AR para ouvir a magra e esquálida moção de censura do CDS\PP.

Apareceu-nos um José Sócrates cansado, sem o zelo nem a chama que - mesmo quando esta nos parecia demasiado "fundamentalista" - dava para acreditar na sua crença profunda de que aquilo que nos dizia era o melhor para o País e para os portugueses.

A Demagogia pode ganhar no curto prazo, mas nunca nas corridas de fundo. Reparem como Sir Winston Churchil, herói nacional , foi imediatamente apeado do poder depois da 2ª Guerra Mundial... Dizia-se que o seu temperamento, a sua maneira de ser , a sua teimosia e crença inabalável na sua própria verdade, eram boas para as crises e más para a reconstrução de um País que necessitava, sobretudo, de diálogo e de reconciliação.

José Sócrates não é Sir Winston Churchil, mas não lhe faria mal ler a sua história e aprender. O velho "Bulldog" nunca, mas nunca mesmo, até morrer, deixou de arreganhar os dentes quando necessário. E por isso era respeitado... Embora nem sempre fosse eleito...

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