Em louvor, preito e homenagem sentida, dedicamos hoje o habitual poema das Sextas Feiras ao João Bénard
Fui Pedir um Sonho ao Jardim dos Mortos
Fui pedir um sonho ao jardim dos mortos.
Quis pedi-lo, aos vivos.
Disseram-me que não.
Os mortos não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se enfeitam os meus braços tortos.
Os mortos dormiam...
Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes tudo, tudo quanto pude;
Páginas intactas — um livro fechado
Em cada ataúde.
Ai as pedras raras!
As pedras preciosas!
Relâmpagos verdes por baixo do mar!
A sombra, o perfume dos cravos, das rosas
Que os dedos, já hirtos, teimavam guardar!
Minha alma é um cadáver pálido, desfeito.
As suas ossadas
Quem sabe onde estão?
Trago as mãos cruzadas,
Pesam-me no peito.
Quem sabe se a lama onde hoje me deito
Dará flor aos vivos que dizem que não?
Pedro Homem de Mello, in "Príncipe Perfeito"
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