Vários MCS deste fim de semana ( e o Editorial do "Público" de hoje) referem-se aos estudos que têm sido feitos pelo Governo para preparar a tomada de decisões políticas e, sobretudo, ao facto de muitos desses estudos terem sido adjudicados sem concursos a várias empresas do ramo, como seria natural e até muitas vezes obrigatório no enquadramento legal onde trabalhamos.
Para quê a proliferação dos ditos "Estudos"? Serão assim necessários tantos? E vários sobre o mesmo assunto (veja-se a OTA....)?
Na minha experiência de Designer de Market Research muitas vezes me deparei com situações destas. A Empresa Cliente que fazia apelo aos nossos serviços tinha dúvidas sobre a melhor decisão a tomar sobre determinado assunto. Quanto maior fosse o investimento associado a essa decisão mais complicada era a vida do Gestor, que queria ter todas as garantias que não iria cometer erros que lhe podiam custar muito dinheiro e até a carreira...
Daí o recurso a Gabinetes de estudos de mercado que lhe pudessem "sossegar a alma" e dar as garantias de êxito possíveis. Estive até metido em situações (de grande volume de investimento) onde se fazia apelo a mais do que um estudo independente (sem contar portanto com os que tinham sido previamente feitos pela própria Empresa Cliente) só para ver se as conclusões de uns e outros coincidiam nos resultados apresentados. Sobre esta metodologia nada há a dizer de negativo, faz parte de uma gestão cautelosa dos dinheiros (ou públicos ou privados) que não são do gestor , normalmente apenas um trabalhador por conta de outrém.
Mas outras variáveis entravam muitas vezes neste "jogo". É engraçado (agora posso dizê-lo sem quebra deontológica) referir que muitas vezes os Gabinetes de estudos de mercado preparavam de propósito designs de research mais complexos (e caros) do que seria necessário, apenas para que o gestor cliente pudesse justificar "a posteriori " o insucesso do projecto se assim fosse o caso: - "Correu mal mas não tinha poupado nos estudos" - ou seja - " a culpa não era dele..."
É um pouco a questão da família de fracos recursos do Portugal antigo, que desconfia quando o médico receita ao doente remédios baratos... Quanto mais caro e mais esforço familiar fosse necessário para o comprar mais eficaz seria o remédio... (leiam Fernando Namora, leiam Júlio Dinis).
Esta filosofia de se servirem da investigação para bode expiatório do fracasso (mas NÃO para alavanca do sucesso!!) tem proliferado em Portugal e no Mundo e parece estar associada a uma certa forma de gerir "sacudindo a água do capote" : Ninguém quer estar ligado(a) a um falhanço que possa lançar manchas sobre uma carreira que se pretende ascendente e límpida.
Como resultado (mas isto sou só eu que digo) temos andado muitas vezes a gerir "águas mortas e estagnadas" ao invés de fazer evoluir o navio empresarial por mar profundo e com vento forte.
"O medo é que guarda a vinha" mas dá cabo (é a antítese) do espírito empresarial...
Ora , voltando ao Governo, para quê tanto "estudo" sobre as mesmas coisas? Um, ou no máximo dois, não chegariam? E às vezes apenas para justificar medidas que já estariam politicamente tomadas mas que não houve coragem para serem assumidas publicamente sem os tais "estudos"?
Dirão que - nomeadamente sobre a questão do novo Aeroporto - cada Estudo tem dado a sua resposta, de acordo com quem o paga...
Mas esse é um problema de quem os encomenda, e não dos estudos em si, não acham?
Ou o Cliente quer saber a verdade ou então quer apenas que lhe digam o que (pensa) que já sabe. Os analistas lá estão para lhe fazerem a vontade. No fim de contas o Cliente tem sempre razão...
Haja é dinheiro para lhes pagarem.
Quando for grande quero ser dono de uma empresa de estudos bem vista pelo Governo (seja ele qual for) e num País (seja ele qual for) onde o Tribunal de Contas ladre mas não morda...
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