Não sou medievalista e por isso podem ficar descansados porque não vou escrever sobre esse período relativamente obscuro da evolução europeia - obscuro para alguns, luminoso para outros, dependerá das perspectivas...
Também - e embora seja adepto assumido de J.R.R. Tolkien - não penso divagar sobre a "Midlle Earth" onde o Senhor dos Anéis fazia a vida negra aos heróis do nosso encanto.
Não senhor, "Meia-Idade", neste contexto, significa mesmo a meia idade do cronista, aquela transição que se quer infindável dos 50 anos para os 70 anos, o período de tempo em que se fazem - por norma - balanços de vida e se deitam as contas ao que nos faltará ainda fazer e ao que foi já feito.
Nesta altura da vida há Homens que reagem de forma distinta.
Para os americanos (ou europeus) bem de vida e metidos no (ou que gravitam ao redor do) Show Business e das artes em geral estará na altura de comprar um Porsche. De preferência descapotável.
Porquê? Penso que é um dos mistérios insondáveis da ficção ocidental, milhares de vezes repetido em filmes, séries de televisão e na literatura.
Admito que o Porsche tenha um apelo juvenil e viril, muito James Dean (que como sabem se matou ao volante de um) .
Admito até que essa aquisição possa também ter a ver com vontade de fazer a "grande jornada" ao modo de Jacques Kerouac (lembram-se do livro "On the Road", da Beat Generation, da contra-cultura norte-americana dos anos 60?). Embora nesse caso, e dada a relativa limitação da autonomia do Porsche, melhor seria comprar-se um Volkswagen Passat a Diesel que garantiria pelo menos 1000Km sem abastecer (obviamente que com muito menos glamour...)
Outros Homens menos afortunados financeiramente ( e não sei se levados a esse extremo pelo mesmo tipo de motivação) em vez do Porsche comprarão uma Bicicleta de Montanha.
Outros ainda inscrevem-se num Ginásio - de notar que há dúvidas sobre se será para melhorar o "tónus muscular", se para espreitar o corpo das companheiras de infortúnio modelado pela Lycra dos maillots de treino.
Muitos divorciam-se, ou então optam pela saída mais cobarde: arranjam um caso com alguma colega de escritório ou com a "vizinha" da máquina de musculação.
Ouvi dizer que existem até alguns - provavelmente poucos, mas não há estatísticas fiáveis como podem imaginar - que aproveitam esta época outonal da sua existência para "mudar de clube" , "sair do armário" , o que quer dizer na prática " modificar a respectiva inclinação sexual".
Outros ainda desatam a comprar lingerie ousada para as mulheres legítimas, marcam fins de semana românticos a dois, insinuam comportamentos na intimidade que não passavam pelo "estreito" da "cara metade" há mais de 30 anos e que a fazem até marcar de imediato uma consulta no psiquiatra para ele, suspeitando - e com alguma razão- que o querido sofrerá de senilidade precoce.
Os que têm famílias estruturadas, com mulher e filhos e alguns até já com netos a caminho, parece que - contra o que seria de esperar - serão os mais afectados por estas alterações "espirituais" que precedem a andropausa mas que com ela muitas vezes se interligam.
Poderá estar em causa o "último assomo do leão ferido de morte" ou a "Carga da Brigada Ligeira", o que lhe quiserem chamar para indicar este último levantar (salvo seja) do ego masculino, da virilidade e da "Ombridad" antes da morte do libido e da atenuação da tendência predatória pelo sexo oposto (seja ele qual for).
Não sou psicólogo nem sexologista (God forbid!) mas de todas as formas e depois de estudadas estas tendências entre amigos e conhecidos chego à conclusão que estas atitudes à primeira vista " anormais", serão no fim de contas bem normais e até saudáveis, apenas um prólogo para o inevitável "prestar de contas" de nós para nós mesmos que é comum na velhice que se respeita a si própria e que é respeitada.
Deixemos brilhar no céu pelas últimas vezes o fogo de artifício da juventude gloriosa e preparemos o terreno para o jogo das memórias dos anos mais maduros.
Como dizia o meu Amigo Rodrigo: "o ideal seria trocar a mulher de sessenta por três de vinte, mas depois tínhamos de comprar um manual de instruções para reaprender o que fazer com elas..."
E, acrescento eu, "vários baraços de corda para as prender e um aumento do pé-direito da casa onde habitássemos , por motivos óbvios..."
Jean-Anthelme Brillat Savarin, clérigo e gastrónomo (Rei de todos os gastrónomos) postulava que era nos "anos de ouro " da sua existência que o erudito dado aos prazeres da mesa tinha as suas horas de glória: pela experiência acumulada que lhe permitia escolher mais sensatamente, pela bolsa mais recheada que lhe permitia gastar mais com produtos de primeira qualidade e pela educação do gosto, que lhe permitia comer e beber apenas o que verdadeiramente lhe agradava.
Ora estes conselhos, se pensarmos bem, não só se aplicam à gastronomia como a quase todos os aspectos da nossa vida.
Aos 50, ou aos 60, a vida começa a ser demasiado curta para se beber mau vinho, para aturar pessoas de quem não gostamos, para ver e ouvir o que não queremos Amigos!
Provavelmente é a altura das nossas vidas em que seremos mais Livres. Já pensaram nisto assim?
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