terça-feira, abril 18, 2006

A Páscoa no Prato


A tradição manda que a Páscoa (até mais do que o Natal) se passe na Casa da Serra da Estrela, na pequena Quinta que pertence à família de meus Sogros há já muitos anos, pelo menos há cinco gerações.

O Cascavélico não deixou de trazer para a Serra o bom peixe da costa Atlântica para os dias magros da quadra pascal: Corvina e Garoupa para cozer; raia, cação, tamboril e safio para uma caldeirada feita “à pescador” com tudo posto em crú e apurando cerca de uma hora em tacho forrado de cebolas.

Nesses dias – Quinta e Sexta Feira Santas – bebeu-se o excelente branco da Casa, já de 2005, simplesmente refrescado à temperatura da Adega onde repousa em garrafas empinadas.

No Sábado de Aleluia largaram-se os fastios e guisou-se para o almoço uma Feijoca à Pastor da Serra – puxada de carnes de vaca (chambão) , pé de porco e chouriço caseiro da matança que é misturada ao Feijão branco grosso (feijoca) que esteve previamente de molho, cozeu e refogou-se em seguida. Segredo só a lentidão da execução ao lume, com as carnes a embeberem no molho grosso largado pela feijoca em lenta cozedura que leva bem umas quatro horas sempre no mínimo do bico do fogão.

Para acompanhar um tinto da Casa, também de 2005 e que se foi tirar directamente do pipo. Deste não gostei tanto como do Branco , dá boa prova mas com acidez; pode ser que ainda melhore com mais uns meses de barrica...

Para o Domingo de Páscoa começaram as preparações logo no Sábado: Agriões, alfaces e tomates foram muito bem lavados para as diversas saladas (de agrião com cebola, de tomate com cebola e de alface também com cebola). O Pastor que anda este ano a pastar as suas ovelhas no prado da Quinta, em frente à Casa, matou e ofereceu um borrego com quase 8 Kg - um pouco grande para os hábitos das nossas cidades, onde o pouco tamanho é indicador de carne mais tenra, mas aqui na origem é esta a carne mais saborosa.

Faz parte da “renda” que o Pastor nos paga, para além dos borregos, uma certa quantidade de Queijo da Serra feito pela sua mulher. Logo no mesmo Sábado à noite, enquanto esperávamos para jantar todos, lá chegou uma canastra com 7 queijos. Um deles foi logo “apartado” para o Almoço do dia seguinte.

Temperou-se o Borrego ainda na véspera com massa de pimentão, sal, louro, alho, azeite e vinho branco.

No dia seguinte o forno ligou-se às 8.00h da manhã e começou a assar. Descascaram-se as batatas para fritar (não cabem no forno por causa do tamanho do borrego) e ajudou-se a fazer Leite Creme e Arroz Doce enquanto se esperava.

Para acompanhar fui à Adega retirar uma garrafa Magnum da minha reserva particular: um Tinto Dão de 1990 (!!) engarrafado pelo Dr. Rodrigo Santos Lima na sua Quinta da Passarela (em Silgueiros).

Este vinho foi ainda comprado ao saudoso Dr. António Chambel, Presidente do Fórum Prior do Crato e em boa hora comprei todas as garrafas Magnum (1,5 Litros) que existiam, a meias com o meu Amigo Álvaro Alves. Está ainda um espanto de vinho, se o decantarmos e lhe dermos três horas para respirar. É claro que não podemos esperar um Vinho cheio de força juvenil, tal como os Douros ou Alentejos da moda actual, mas é um assombro de elegância para quem sabe apreciar as características que só a idade e o cuidado trazem aos grandes vinhos. Devo dizer-lhes que valeu a pena ter guardado umas tantas garrafas destas.

O Borrego assado deu o melhor de si próprio, como seria de esperar quase depois de 3,5 horas de forno lento e só a prova do Queijo de entorna nos levou (por excesso) a acompanhá-lo com um Porto Vintage Fonseca Guimaraens de 1967 (também comprado ao Fórum Prior do Crato).

Este Porto Vintage está – na minha opinião e dizendo desde já que aprecio pouco os generosos – um autêntico néctar.

Só um aviso para os Leitores mais atentos. A Adega que fizémos nas Lojas (Rés do Chão) da Casa da Quinta está virada a Norte e revestida a pedra. Tanto de Verão como de Inverno mantém uma temperatura relativamente baixa e constante e o Sol nunca lá entra... Esta sem dúvida a razão dos meus vinhos velhos se irem ainda aguentando...

Um comentário:

Anônimo disse...

Vi no seu blog um comentário aos vinhos do Dão da Quinta da Passarela em Silgueiros.Aa Quinta da Passarela é em Vila Nova de Tazém (e não Silgueiros) e pertencia em 1990 a Àlvaro Santos Lima (e agora a seu sobrinho Manuel Santos Lima); Em Silgueiros é a Quinta do Loureiro de Rodrigo Santos Lima, irmão de Álvaro S. Lima e agora pertence a sua viuva Virginia Santos Lima.