Já se sabe que as idiossincrasias do português são muitas e nem sempre relacionadas com comportamentos ditos "racionais".
Apreciamos extremidades no prato (cabeças, pezinhos, joelhos) , "desportos" antigos e politicamente incorrectos (touradas, "chegas" de bois), temos alguma irresponsabilidade ambiental firmada nos nossos genes, adoramos o mar e a natureza, o que não nos impede de os sujar e maltratar quando a ocasião se proporciona.
Somos um povo de contrastes, nem melhor nem pior do que os outros.
Vem esta conversa a propósito de mais uma vez ter observado a convivência - num mesmo espaço e no mesmo tempo - de paixões tão aparentemente contraditórias como a política de esquerda ortodoxa, o amor à festa brava e o respeito pela tradição católica.
Entre a saudade por Mestre David Ribeiro Telles, a reverência à Nossa Senhora do Castelo e o abraço aos princípios do Partido ( sim, desse mesmo!) faz-se a vida pública neste Ribatejo a meio caminho entre Évora e Lisboa.
Estranho? Porquê? Só a malta da direita "tem direito" a gostar de touros? Quem disse que a festa brava é propriedade só de alguns? E quanto à Igreja católica estamos conversados...Por cada Monsenhor enfeudado à oligarquia do momento ( seja ela qual for) temos um Francisco de Assis, um D. António Ferreira Gomes ou um D. Hélder da Câmara.
Para já não falar do Papa atual.
Duas das pessoas que mais respeito , pela qualidade intelectual e pelo assumir sem qualquer tipo de preconceito os seus ideais de esquerda, são adeptos da capeia raiana (um deles) e o outro do toureio apeado. Aliás, foi este último que escreveu a mais sentida homenagem a Manolete que tive ocasião de ler na minha vida, no Expresso, em Agosto de 1997.
A expressão "gauche caviar" dos gauleses foi cunhada para denegrir: Une fausse gauche qui se donne bonne conscience sans rien risquer, qui parle de la justice mais ne la pratique pas, Une gauche qui dit ce qu'il faut faire, mais ne fait pas ce qu'elle dit...
Aqui em Portugal e para o caso em apreço não se trata de nada disso! São homens e mulheres que vivem de acordo com as suas ideias, equilibrando com argúcia as preocupações legítimas de cariz social com o respeito pelas tradições da sua terra.
Bem hajam elas, e eles!
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