terça-feira, agosto 23, 2016

Culpados



Estejam descansados que não vou falar do episódio de Ponte de Sôr, o qual já cheira mal em todos os sentidos.

Aqui os "culpados" têm a ver com os incêndios,  a propósito do último grande fogo de ontem e hoje, andando lá por cima, muito perto da nossa quinta, na zona de Seia.

O meu cunhado chegou a fazer parte das equipas camarárias que faziam prevenção de incêndios florestais no parque natural da Serra da Estrela. Eram pagos pela autarquia, com ajudas governamentais , no tempo "daquele primeiro ministro" que todos ( ou muitos) querem agora fingir que nunca foi eleito (e duas vezes).

Nesses anos havia fogos na zona, claro, mas eram menos e mais controláveis no chão. Porventura as condições de temperatura e de vento ajudavam, mas havia algum cuidado em prevenir.

As equipas de ajudantes  camarários assinalavam as principais áreas de risco, iam lá, falavam com os proprietários, ajudavam na limpeza da floresta. Trabalhavam 8 ou 9 horas por dia, entre Abril e Setembro. Sempre no jipe (era um velho UMM) enquanto houvesse luz do sol.

E traziam de lá "estórias" fantásticas. Daquelas que não gostamos muito de ouvir mesmo que sejam verdade. Como por exemplo, o facto de que muitos dos incêndios se deviam aos proprietários, que continuam a fazer queimadas quando e onde não deviam.

Não é apenas por deixarem as matas sem limpeza! É por queimar restolho nos meses de Verão...

Porque são criminosos? Não!! Porque são velhos e velhas, de mais de 80 anos, que não têm outra forma de limpar os terrenos para  plantarem algumas batatas, cebolas ou feijão .

Porque são mais do que pobres . E dependem do que cultivarem para sobreviverem. E porque não sabem fazer melhor, nem têm dinheiro para pagar, se soubessem. E mesmo se tivessem dinheiro, quem iria desbastar mato para esses locais perdidos nos vales? Onde habitam 3 ou 4 tristes?

Devem ser castigados e multados! Diríamos todos com razão derivada do código civil.

Mas onde estaria o dinheiro para pagar essa multa? Nem que fosse em géneros... Se pagassem 200 euros de multa os velhotes não iam à farmácia durante 6 meses.

O país não é Lisboa, nem sequer as plantações tipo "jardim" das modernas empresas agrícolas. Muita da área "cultivada" (entre aspas)  é destes pequenos proprietários que já não podem fazer o que faziam.

Porque, e esta será talvez a mais importante preocupação, nem só de SPA's, Quintas de Lazer e Resorts turísticos é feita a nossa ruralidade... É feita de idosos cada vez mais sozinhos e cada vez mais velhos... E quem não entende isto não entende o país onde vive.

Claro que depois há os "outros", os incendiários que deitam fogo por vingança, psicose, ou outro transtorno ligado ao diagnóstico de piromania. Mas o  deserto em que se vai transformando o país rural também tem por consequência a cada vez maior probabilidade dos incêndios florestais. E essa parece ser uma raiz do problema. Talvez a mais importante.

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