segunda-feira, agosto 22, 2016

O espelho das almas


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Os meios sociais, embora se ponham a jeito, não devem ser espelho das almas de quem neles colabora. Esta , obviamente, é a minha opinião. Há quem não concorde, o que também é respeitável.

Gosto de partilhar aqui momentos engraçados, as minhas omnipresentes "comidas e bebidas", os prémios que vamos ganhando no "boulot", e até faço comentários políticos e desportivos ao correr da pena.

Mas o que nunca lerão neste espaço são as minhas tristezas. Também as tenho, mas essas são do foro privado.

Esta lenga-lenga veio em reflexão por um comentário de uma boa amiga, que reparava na perpétua boa disposição dos meus textos: "Que boa vida e alegre deves ter!"

Quero dizer que faço os possíveis, mas não devem acreditar que só tenho dias bons e óptimos... Chuva e granizo também comparecem na ementa, nem só sol radioso e brisa de mar.

O meu Pai dizia que a alegria é para compartilhar, enquanto que os momentos de tristeza são privados. E essa filosofia sempre me orientou e continuará a orientar.

Este assunto recorda-me mais uma narrativa do Tio Santidade, personalidade da minha Serra muitas vezes aqui evocada  e que - como se devem recordar - tinha ódio profundo à água canalizada ( para beber e para se lavar).

Quando andava mais sóbrio (o que era raro) contava "estórias do tempo da miséria". Segundo aquela autoridade,  naqueles tempos um pobre devia andar sempre com duas coisas no bolso da jaqueta surrada: um copo de madeira ou de alumínio (para não partir) e ...um ossito de borrego. O copo era para beber à espicha nalguma adega que encontrasse com a porta encostada. E o osso era para cheirar antes de beber.  Com o cheiro da carne do borrego (já "falecida") o vinho  sabia-lhe melhor.

E o Tio Santidade gostava de terminar a parábola com a frase -"Hoje já não há pobres! Ainda bem, porque as portas das adegas já não são de madeira velha e têm todas fechaduras de jeito..."

A vida do homem "rico" da aldeia, que criava dois ou três porcos para vender, comprava queijo aos pastores para comercializar em Viseu e tinha algumas terras para batatas e vinho,  devia parecer aos pobres de então tão "opulenta" como hoje nós consideramos "excessiva" a vida do CR7 a passar férias ao largo de Ibiza num Iate "Ascari" alugado com tripulação por cerca de 100 000 euros por semana...

É a distinção entre o "relativo" da vida (das vidas) que nos faz ser mais optimistas ou pessimistas.

Uns (equipa de que faço parte) dirão sempre nas circunstâncias mais chatas: "podia ser pior..."

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