A desgraça do terremoto no centro de Itália lembra que - contrariamente aos que muitos pensam, na sua arrogância de espécie supostamente dominante - a humanidade ainda não controla o planeta onde mora.
Estragar pode estragar e tem estragado, tal e qual como algum grupo de holligans pode dar cabo de um bar no hotel onde pernoitam.
Mas quanto ao resto, ao mais importante, somos quase como os cachorros dentro do laboratório do Dr. Pavlov. Salivamos quando toca a campainha, mas nem fazemos ideia da motivação do célebre cientista russo para essa experiência.
Entrego a todos , in memoriam das vítimas, um poema belíssimo sobre a perda. É de Florbela.
A Minha Dor
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
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