segunda-feira, agosto 01, 2016

O Galo do Campo



Está na moda ( ou devo escrever "de moda") todo o restaurante arvorar o termo "pica-no chão" para descrever o arroz de cabidela de galo (ou de galinha) que apresentam na sua carta. Naquelas casas só se serve galo da quinta alimentado a milho e "andante". Quanto muito alguma galinha criada à mão e na "província"  também.

Recorda-me com saudade os tempos em que o que estava na vanguarda era o "porco preto". Não sei se se lembram, mas não devia haver em toda a Península Ibérica porcos pretos suficientes para tanto "secreto", "pluma" ou "lombinho". De porco...preto...

Obviamente que como o animal depois de esfolado e de se lhe cortarem as unhas é mais ou menos igual ao primo pobre (o branco) na carnadura, era difícil, para já não dizer impossível, ter mesmo a certeza do que estávamos a comer... Por isso e porque a imaginação tem muita força, podiam estar os comensais a banquetear-se com umas febras do Montijo retiradas de algum porco "chino"  alimentado a ração, que pagariam por "porco preto de montado" e - pior ainda - deveria saber-lhes ao mesmo.

E era bem feito.

Lá "montado" o "chino" poderia ter sido, em pequeno, pelo irmão que do lado mamava... mas fora isso nada.

Mas voltando à vaca fria, que por acaso é galináceo. Existirão galinhas, galos, galarós, ou até galetos do campo (campo mesmo, não me refiro à quinta da Marinha) em número suficiente para tanta panela citadina?

Duvido.

Mas então, perguntarão os mais crédulos, como arranjam estes senhores o sangue que entra neste tipo de confecção??

Já se compram animais  com sangue nos supermercados, a chamada "galinha do campo", que por lei tem de ser criada  ao ar livre e que leva 90 dias de criação face aos 30 dias do frango de aviário. Para terem a certeza saibam que são aquelas galinhas que se vendem com patas e cabeça nas embalagens.

E na falta de sangue, ou quando este é pouco? Avança o de porco, que é pau para toda a obra... Tanto aqui nas cabidelas como no arroz de lampreia.

E calo-me porque já escrevi de mais hoje. Pôrra que ainda me fazem a folha. E não me dá jeito nenhum emigrar nesta idade.

Galos de 2 anos e meio, criados à mão quase como se fossem da família? Isso é para quem tem avós na terra e (já agora) dentes sãos e sem mácula. Porque os gajos são mais rijos que os cornos dos bois.

Nenhum comentário: