Quem lesse alguns dos comentários europeus à vitória de Portugal no campeonato da Europa de Futebol (sobretudo franceses, mas sem exclusividade gaulesa) leria que "Portugal teve sorte".
Teve "sorte" no resultado dos jogos, teve "sorte" no sorteio, e teve "sorte" por ter ficado em 3º lugar na sua série, antes dos quartos de final. Enfim, teve "sorte" do princípio até ao fim, mesmo na final, quando a França não ganhou apenas por ter enviado uma bola ao poste a encerrar o tempo regulamentar.
Ao contrário, diríamos nós que Portugal teve "azar" na final de 2004 contra a Grécia, que o Benfica teve "azar" na final da Liga Europa contra o Sevilha (em 2014, Turim). E ainda mais "azar" contra o Chelsea em 2013 (Londres).
Esta manhã, ao ouvir na TSF o relato angustiante da situação no Funchal, dei pelo jornalista a afirmar que dois prédios - na localidade da Penha, alto do Funchal - tinham sido consumidos pelas chamas , à esquerda e à direita de outro que não ficou afectado... Foi "azar" de uns proprietários e "sorte" do outro?
Apaixonei-me pelo cálculo de probabilidades na universidade. E é interessante notar que a sua génese (devida a Blaise Pascal) foram os chamados "jogos de azar" que deram origem a uma célebre troca de cartas entre Fermat e Pascal.
Esta possibilidade de quantificar os resultados aleatórios de experiências (controladas em laboratório) pode dar a ilusão de que é possível também prever o resultado de acontecimentos do dia-a-dia, sejam eles fenómenos naturais ou ocorrências sociais provocadas pela intervenção humana.
São exemplos de previsões hoje habituais: os resultados eleitorais, o grau de aceitação de produtos novos, o tempo que vai fazer no futuro próximo, até a ocorrência de desastres naturais em determinadas circunstâncias ( alertas de tsunamis, prevenção de terremotos).
Mas infelizmente são menos os tipos de ocorrências que se podem "prever" do que os outros, que não têm (ou não a conhecemos ainda) bases de análise que permitam aplicar os tais "modelos de previsão".
Podemos ter uma ideia sobre os fenómenos de causa e de efeito: fogo posto criminosamente, tempo quente, terrenos sem desbaste e vento, potenciam o perigo dos incêndios em floresta. Num meio ambiente como o da Madeira e Funchal seria expectável que o fogo na montanha, empurrado pelo vento, e também devido ao efeito de "funil", chegasse à cidade e se propagasse pelo casario.
Agora em que termos se poderia "adivinhar" que seria neste ano, naquela noite e com estes efeitos terríveis?
Nesse sentido, e como escreveu Emanuel Kant, "Só podemos pensar as coisas numa relação de causa e efeito porque a causalidade está no sujeito, não nas circunstâncias".
Foi o "sujeito" Gignac que enviou a bola ao poste de Rui Patrício, foram os "sujeitos" Oscar Cardoso e Rodrigo que falharam os penalties do Benfica contra o Sevilha, e foi um "sujeito" que terá ateado o fogo na Madeira que levou ao actual descalabro.
Mas, se não é possível prever com exactidão, é (sempre foi) possível actuar de forma profiláctica.
E o tal "sujeito" dado a brincadeiras com fósforos na Madeira estava registado e sabia-se da sua inclinação...Nos meses de Verão não se podia pôr o homem a ajudar na preservação das Ilhas Selvagens?
Digo eu, que não sei.
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