Os velhos adegueiros, lá na Beira Alta, não gostavam do Verão. Na sua opinião "o calor dava cabo dos vinhos". Refugiados na adega era lá que faziam a tertúlia de Agosto (fazia fresquinho e tinham o "material" à mão de semear). E muitas vezes ali os ouvi a discorrerem sobre estas coisas.
Enquanto se esperava para o almoço (uma horita antes) utilizava-se o clássico método do garrafão atado com uma guita e enviado para dentro do poço. Ali refrigerava até chegar à temperatura considerada adequada. Qual era ela?
Não sei bem. O método era empírico e a medida certa era a do gosto dos bebedores, dos convivas. Lembro-me que no pino de Verão bebia-se o tinto quase que à mesma temperatura do branco, pois o velho poço não tinha termostato nem regulador de temperatura por secções...
A "regulação" era deitar o garrafão do branco lá para dentro meia hora antes do que o do tinto...
Essa era a aventura empírica dos tempos pré-ciência do vinho. Antes de chegarem os enólogos , os estudiosos do tema, acompanhados dos seus engenheiros apologistas das vinificações a temperaturas controladas... Eram os tempos em que o Sr. Nicolau de Almeida mandava buscar gelo à Serra da Estrela para arrefecer os mostos do que viria a ser o Barca Velha clássico, dos anos 50 e 60.
Hoje em dia acho que podemos confirmar que é verdade. O calor estraga os vinhos. Estraga de mais do que uma forma. Diminui o tempo de duração em garrafa, "ofende" o palato na altura da prova.
Já o frio apenas prejudica a prova, sendo até recomendado (sem exageros!) para ajudar a preservar as garrafas boas na adega.
Um tema neste momento bastante discutido é o da "uniformização" da temperatura do vinho a servir (tinto e branco).
Há quem defenda que, independentemente do ambiente ser de Agosto ou de Fevereiro, os vinhos terão que estar sempre à mesma temperatura (14º a 16º para os tintos mais encorpados e velhos; 12º a 14º para os tintos jovens; 6º para os espumantes e champanhes; 8º para brancos e verdes jovens ;10º a 12º para grandes brancos envelhecidos). Em média, está claro!
Mas há outros (onde por acaso eu me incluo) que acham que o ambiente tem influência , sobretudo se a prova se der em meios onde a temperatura não é condicionada. Isto porque o provador não se pode isolar da temperatura que faz, se está muito calor à mesa pode pedir ( e deve pedir) para lhe baixarem a temperatura do tinto para o limite mínimo da categoria. Se está frio , pelo contrário...
Claro que o ideal seria comer em salas preparadas para estarem sempre a 22º, de Verão ou de Inverno... Mas quem as tem lá em casa?
Imaginem uma cena tipicamente portuguesa: a sardinhada de Junho ou de Julho no meio de amigos, ao ar livre. Um assa as sardinhas (é o desgraçado do João...), outros fazem as saladas, outros ainda tiram a pele às batatas cozidas. Algumas "mulas" sentam-se e esperam pelo prato (aqui tusso eu, um bocado embaraçado...).
Estarão debaixo do alpendre uns 32º ou 33º. Como se faz ao vinho? A nossa solução é iniciar as hostilidades com umas garrafas de espumante bruto (ao pé do assador tem de estar sempre um flute cheio!). Continuar com um vinhão de Ponte de Lima (soberbo o de 2013). Até aqui não saímos da fasquia dos 6º a 8º...
Depois, na sossega e quando a adstringência pede um tinto a sério, lá abrimos 2 ou 3 garrafas de um tinto do Dão ou do Douro, mas jovem! Um vinho que aguente bem ser servido a 12º sem sofrer com isso. Lembro aqui dois: Passagem (do Douro , primo do Poeira) ; Vinha Paz ( do Dão). Ambos de 2011.
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