Recordo-me mal das consequências que sofri (pessoalmente) no caso da crise de 1979\1980 (choque petrolífero).
A política dos países produtores - OPEP - que consistiu em subir os preços do barril quase 8 vezes (!!) desde 1973 , viria a criar enormes problemas de inflação nas nações industrializadas. Governos e bancos aumentaram as taxas de juro, agravando o problema de pagamento de dívidas, que ainda hoje atormentam grande parte dos países em vias de desenvolvimento.
Nessa altura eu já trabalhava.
Dava aulas na Universidade e tinha acabado de entrar para os CTT. Mas como normalmente andava de transportes públicos (comboio e metro) não me recordo de grandes perturbações. Lembro-me do meu pai ir com o FIAT 1600 de noite para a fila do combustível, lembro-me de haver alguma contenção nas deslocações "à terra", que normalmente demoravam 5 horas e tal , e quase dois depósitos, pois o FIAT bebia como um alemão na Feira de Munique. Mas pouco mais.
Era novo, tinha acabado de casar, o mundo parecia "porreiro"...
Tenho por isso mesmo, alguma dificuldade em compreender o que espera os nossos amigos gregos a partir do dia de hoje (e em cima da "tareia" que já levaram nestes anos).
Não tomo partido. Compreendo os dois pontos de vista:
Há quem diga que aquela gentinha grega teve anos de vacas gordas em barda e o que está agora a acontecer é o ajustamento inevitável, a caída na realidade. Há quem diga, por outro lado, que são os euro-burocratas que estão a dar cabo do conceito humanista de Europa e que o que vai acontecer é o início do fim do sonho, a derrocada dos ideais de Jean Monet e de Robert Schuman.
Deixando isso para lá da fronteira, uma coisa me parece certa: na Grécia ( como em qualquer país do mundo) houve pessoas que se "safaram" enquanto puderam e que estarão hoje mais ou menos a coberto da tempestade. Mas decerto que a maior parte do povo não teve culpa do que lhe aconteceu e está agora em iminente processo de retroagir dez ou vinte anos no desenvolvimento pessoal e institucional.
Há quem "empoche e ganhe " nestas alturas? Sim. E são muitos. Lembro o que aconteceu em Portugal com os famigerados cursos de formação pagos pela Comunidade Europeia... Não havia bicho careto que não se armasse em "formador da CEE". Quantos andares e casas se compraram à conta disso? E Beamers? E Mercedes?
Mas, e os outros que eram muitos mais? Os que não criaram empresas para dar formação (porque não tinham habilitações). Os que não roubaram dos Fundos Estruturais (porque a eles não tinham acesso). Os que não meteram para dentro os subsídios das cabeças de gado e dos Hectares (porque nem gado, nem terra tinham)?? E desses? Ninguém fala??
Como sempre, desde que o mundo é mundo, serão esses milhões que sofreram, sofrem e vão sofrer.
Infelizmente , nestas ocasiões, só se fala dos milhares que "roubaram, enganaram, vigarizaram, viveram bem à fartazana e melhor do que nós"... Não se fala dos outros.
Dos milhões que não roubaram nem vigarizaram. Dos milhões que viveram como puderam em função das condições que lhes deram para tal. E que actualmente se vão ver aflitos com a falta de dinheiro para farmácia, para a comida, para a escola, para a electricidade, para a água .
E aqui é que a porca torce o rabo ! São milhares os aproveitadores, são milhões os sofredores. Mas as decisões são tomadas em função desses milhares. E que se "prejudiquem" (para não dizer outra coisa) os restantes milhões que vão com a cheia...
Não acho bem.
Como dizia o outro : "Não foi para isto que fizemos o 25 de Abril"!
Nem, digo eu, "Não foi para isto que a Europa travou duas guerras mundiais"!
Nenhum comentário:
Postar um comentário