Houve tempos em que muitos cafés clássicos de Lisboa e do Porto passaram a agências de bancos.
Em retrospectiva foram esses bons tempos, apesar dos pontapés na gramática do ordenamento urbano que essas transformações causavam... E do ranger de dentes de muito cronista na imprensa de referência. Mas pelo menos o consumo privado ia-se fazendo, e os bancos iam angariando clientes e dinheiro.
Mais tarde viu-se que tanto dinheiro à solta lá dentro das casas-fortes deu volta à cabeça de muito banqueiro e de muito bancário, desatando a emprestar a quem quer que fosse e sem qualquer critério. Mas isso foi depois.
A crise de 2008 causou (também) que o fenómeno da mutação das fachadas comerciais nos centros das cidades se tivesse invertido: fechavam agências de bancos, fechavam estações de correios, fechava o comércio tradicional de bairro, fechavam restaurantes familiares. E abriam lojas dos chineses, abriam "hamburguerias", abriam lojas de compra e venda de ouro.
Um dos últimos baluartes da restauração popular na zona da Praça D. Luis, em Lisboa, acabou por não resistir à voracidade destes tempos.
A "Adega dos Macacos" vai ser transformada em mais uma "Hamburgueria"...
Depois de estoicamente ter sabido suportar as obras infindáveis do parque de estacionamento subterrâneo (em primeiro lugar) em frente ao mercado da Ribeira e ( a seguir) as obras da sede megalómana da "chinesa" EDP, não conseguiu enfrentar o aumento astronómico dos preços do aluguer.
O senhorio conteve as rendas durante uns 8 ou 9 anos, enquanto que o ordenamento das ruas e dos jardins esteve adiado, mas logo que a situação finalmente se recompôs afinfou-lhe a receita completa, não se esquecendo de ter em linha de conta para agravar as verbas os tais anos de contenção.
O problema é que o pouco pé-de-meia dos gerentes do restaurante foi-se esgotando nos tempos das vacas magras, quando apenas sobreviviam ao encerramento das ruas ao tráfego e à falta de estacionamentos, e não houve como esperar pela possível recuperação.
Temos assim mais uma casa de Hamburgers! Era aquilo que mais faltava em Lisboa, como concordarão...
Uma palavra de simpatia e um abraço de amizade para o Sr. Luis que levou mais de 40 anos a atender-me.
Comecei por lá ir quando meu tio Joaquim era gerente do Fonsecas e Burnay da Rua de S. Paulo, e por vezes convidava o sobrinho universitário para almoçar com ele na Adega dos Macacos. E continuei depois, com mais frequência quando trabalhei em frente, no paradigmático edifício cor-de-rosa dos CTT , com torre de relógio.
Era uma casa honesta, onde por um prato do dia bem confeccionado e abundante, de tradicional cozinha portuguesa, se pagava cerca de 8 € e onde uma refeição completa, com vinho, queijo fresco, café e sobremesa, raramente excedia os 17 €...
Faziam por encomenda o arroz de línguas de bacalhau, o bacalhau assado e lascado à ribatejana e a carne do alguidar bem frita à portuguesa (sem a ameijoa). O peixe fresco ali da Ribeira (mesmo em frente) podia também ele ser encomendado e muitas "cabeças" lá comemos... De Cherne, de Garoupa, de Pescada, de Pargo...
Paz à sua Alma! Bom descanso para empregados e gerente!
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