O camelo de três pernas regressou de Rabat.
Não devem supor os leitores que a terceira perna seja uma referência despudorada e algo exagerada de um gajo à beira da terceira idade, referindo-se ao próprio corpo com traços de ironia (ou oculta função publicitária subliminar). Nada disso malta! A "terceira" perna é mesmo a velha bengala que me acompanhou na viagem tendo regressado ao lado do dono.
E que jeito me deu! Logo nos aeroportos tinha prioridade em tudo. Chegava à sala de embarque e toda a gente se levantava para me dar lugar... Em Rabat mal me viram os c**** dos meus colegas parisienses, perdidos de riso, começaram todos a gritar "Place! Place! Place pour l'invalide!!".
Mas foi engraçado. Dorzinhas à parte. Eu já não falava francês em público há mais de 5 anos. Imaginem ter de aguentar duas conferências de uma hora e meia cada uma, na maioria das vezes falando de improviso. E sem esquecer a resposta às questões...
O que me valeu foi que a linguagem de muitos colegas era o árabe e o tempo que levava a tradução sempre me dava mais uns minutos a mim para ir preparando o "français de valise de carton" com que me apresentei.
Na altura em que já estava a falar outra vez "comme il faut", arrumei a mala e vi-me embora. É sempre assim...
Da conferência - dedicada ao mundo árabe de influência francesa - guardo a tremenda apresentação do colega do Líbano, onde os serviços postais e a filatelia tiveram de ser montados outra vez de raiz depois da guerra civil que trucidou todas as infraestruturas do país.
Do ponto de vista das "novidades" temos que reconhecer que a Realidade Aumentada está a conquistar todas as filatelias do mundo. Nós, aqui em Portugal, desenvolvemos os primeiros algoritmos de reconhecimento de imagem bidimensional em 2012, logo depois do Reino Unido e os Países Baixos, mas hoje em dia já quase toda a gente por ali anda.
Na gastronomia de Marrocos deixo um apontamento breve (comi fora por duas ou três vezes apenas, e em locais sempre escolhidos pelos anfitriões).
Parece-me haver um certo abuso do açucar e da canela em tudo - mesmo na confecção dos pratos principais. A mais conhecida preparação de origem berbere é a "Tajine", uma espécie de guisado lento feito com carnes de vaca ou de carneiro e com legumes locais (lentilhas, feijão). Muitas vezes acompanhada por alperces secos, tâmaras ou figos. A "Tajine" pode (ou não) incorporar "Couscous" (grãos de sêmola de trigo duro).
As batatas assadas são servidas à parte e parecem ser um "frete" que é feito aos estrangeiros que perguntam pelo acompanhamento.
As saladas de entrada são obrigatórias e muito variadas. Legumes crus partidos em juliana e bem temperados com azeite e vinagre: palmitos, pimentos, pepinos, tomates pequenos, passas de uva, amendoas e avelâs. Encontramos a nossa salada de atum de conserva e falaram-me de sardinhas, fritas ou assadas como prato típico do Magreb (costeiro) também. Mas essas não as vislumbrei...
Uma coisa é certa e ficou comprovada: a afamada hospitalidade do Magreb não é conversa fiada. Mesmo dando de barato que estávamos entre pessoas do mesmo ofício, e que todos nos conhecíamos , a esplendorosa recepção dos amigos marroquinos ficará na memória.
Chucran! Salaam Aleikum Nadeem!
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