sexta-feira, novembro 08, 2013

Descansar a Vista com O'Neill

Depois do Passado existe o Presente e logo de seguida o Futuro. Tão logo de seguida que há quem pense que não existe Presente.

Matematicamente não está mal pensado… O Presente é tal e qual um ponto na infinidade dos pontos que existem num segmento de recta, que apesar de ser mensurável, ter início quando nascemos e fim com a nossa morte, não permite que se saiba quantos pontos nele se perfilam.

Cantor , um dos criadores da teoria matemática do transfinito, chamava a esse número (infinito levantado à potência de outro infinito)  um Aleph de 1ª grandeza, e não sei se foi daí que retirou meu Mestre Borges o título da sua obra homónima notável.

Costuma ser nesse Presente que o Futuro nos assombra. Digo “assombra” porque infelizmente, nos tempos que correm, é de fantasmas e de outras assombrações nefastas que os portugueses enchem as suas visões do Futuro.

Venha de lá então um iconoclasta dos maiores que houve em Portugal, um espírito livre e mordaz, crítico maior da nossa sociedade e dos nossos costumes, para dar uma “pantufada” amistosa nessa lúgubre filosofia com que hoje acordei.

Avante Amigo Alexandre!

E, já agora,  Avante tu também grande Álvaro, que em 10 de Novembro, próximo Domingo, fará 100 anos que nasceste!

Aos Vindouros, se os Houver...

Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;


que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;


computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;


que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.


Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço'


 

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