A nossa Amiga Fátima Moura, escritora especializada em assuntos de gastronomia e blogger notável (Conversas à mesa com...) acabou de nos entregar o texto completo do nosso próximo Livro temático CTT "Sabores do Ar e do Fogo" , um levantamento de enchidos e presuntos tradicionais portugueses, e ao fazê-lo, depois de largos meses de trabalho, deixou cair o lamento:
-"Raul, até deito chouriças pelas orelhas!"
Vem esta história a propósito daquilo que muitos sentimos no final de um trabalho que, por muito tempo, nos encheu as medidas e que finalmente levamos a bom porto. E o que sentimos é um misto de alívio e de tristeza.
Esta "entrega final" do trabalho criativo tem que se lhe diga. O escritor, o designer, são normalmente "agarrados" às suas coisas e vão dilatando os prazos de entrega dos textos ou dos desenhos, sempre à conta de frases do tipo: "Ainda precisa de uns melhoramentos", ou "Ainda não estou bem satisfeito com o resultado", ou ainda "Gosto de deixar repousar o trabalho por uns dias antes de lhe voltar a pegar...."
É um axioma da área de edição que qualquer criativo arranja sempre pretextos para continuar a mexer nos seus trabalhos enquanto estes não lhe são arrancados da frente, por vezes quase à força.
A Fátima Moura nesse aspeto, por acaso (ou não) , até foi 5 estrelas ! Mas será a tal conhecida exceção que confirma a regra geral.
Não é de agora. Todos sabemos a irritação papal de Sisto IV com Miguel Ângelo - o verdadeiramente Buonarroti Simone, não confundir com o vocalista dos Delfins! - por causa da capela sistina, o que o obrigou em desespero de causa a mandar a guarda papal levar o grande pintor à força para fora do local, para que este fosse, finalmente, inaugurado.
Deixar um texto (de qualquer tamanho) na posse do escriba mais do que o tempo que lhe foi indicado para o executar é um perigo. O escriba dá-lhe polimento até quase o estragar, arranja de novo os parágrafos, pela 5ª vez valida as referências, e ainda altera alguns adjetivos para que a frase "soe melhor se for lida em voz alta" ...
Quando finalmente o texto ou o desenho são arrancados das mãos do "impetrante" este acaba por suspirar de alívio - depois de lhe passsar a irritação do momento. E não devemos estranhar que dê azo aos seus sentimentos com a tal frase "libertadora" com que começei esta crónica : "Deito chouriças pelas orelhas!"
Carago! (acrescento eu, porque a Fátima, sendo uma senhora , não o deve fazer).
Obviamente que ao longo de 33 anos de edições já passámos por tudo. Desde o Perfecionista Metódico que até está bem na vida e que não precisa dos maravedis que lhe pagamos para nada (são os piores de todos, do ponto de vista dos prazos de edição) até ao Rápido Eficaz, que está mais ou menos à rasquinha para pagar a prestação da hipoteca neste mês (de longe o melhor autor com que se pode trabalhar , sempre do ponto de vista do cumprimento dos prazos!).
Ms um deles é sempre (pois ainda hoje - e bem - trabalha para nós) uma caixinha de surpresas no que trata aos prazos de entrega dos trabalhos. A surpresa tem a ver com a constatação a posteriori se "desta vez" atrasa a entrega dos originais pouco, o normal ou muito, está claro.
Uma vez, já muito instado que "Tinha que enviar os bonecos ou não havia emissão! Porra! Da-se, carago! C**** de alentejano! É sempre a mesma M****"
Nota: este linguarejar meio pitoresco era típico do nosso Diretor de Arte reformado, e não do atual , nem tão pouco meu!
Pois o dito ilustrador, assim veementemente instado, não deixava de responder:
"- Oh Sr. Duran, encomendaram-me umas águias, tenho vindo todos os dias para aqui para debaixo do mesmo chaparro a olhar para cima. Mas as gajas não têm passado ... Qué que vomecê quer? Que as vá enxotar para aqui? "
O homem estava no gozo, até porque as águias tinham habitat nas zonas costeiras (eram a Rabalva e a Pesqueira propriamente dita) e não consta que pescassem lá para Évora, nalguma poça de rega...
Mas esteve bem na tirada e tivémos que nos rir. Rir e esperar, está claro!
E lá esperámos....Mas saíram!
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