quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Coelho é bom para o prato!



O "avistamento" ontem à noite  do desgraçado roedor enforcado, à porta da Faculdade de Direito da UL, lembrou-me  para deixar aqui hoje convosco umas linhas sobre o aproveitamento do dito cujo "4 patas" saltarico na gastronomia.

Sendo bravo - e a única coisa a reter é que , tanto quanto sei, ainda não os fazem de "estufa", como às perdizes - abundam no nosso Alentejo e na nossa Beira os seus arrozes e a sua entrada nas sempre animadas composições de caça , sejam elas a favada ou a feijoada.

Sendo manso, temos a famosa receita do coelho guisado à moda da Porcalhota (Amadora), que aqui deixo em memória desses tempos dos "retiros" , da fadistagem mais que vadia , mas também de uma certa complacência e calma nos afazeres  mundanos que , na minha opinião, muita falta nos faz agora,  para amenizar este vórtice de novidades e de modas em que o mundo se transformou.
O Coelho Guisado à moda da Porcalhota podia comer-se nos finais do século XIX, início do século XX, no que é hoje a Falagueira, na casa de restauração "Pedro dos Coelhos" , pertencente a Pedro Franco, lendário habitante local que chegou a Regedor da feguesia.

Já agora, segundo o roteiro histórico da Falagueira, o nome de Porcalhota tem a ver com o proprietário mais famoso da região, um rico senhor Vasco Porcalho de seu nome, que, em morrendo, deixou todas as suas propriedades ( e eram muitas!) à filha... Daí a pouco já o povo lhe tinha posto a alcunha. E como ela era dona de quase tudo o que se via naquela zona, por generalização do uso ficou a região  que pertencia à Porcalhota conhecida como simplesmente a Porcalhota.

A receita é do Roteiro Gastronómico de Portugal (Felícia Sampaio)

Ingredientes:
·   1 coelho com +- 1,200kg
·   2 dl de vinho tinto
·   1 colher de sopa bem cheia de banha
·   3 colheres de sopa de azeite
·   1 cebola grande
·   1 bom dente de alho
·   4 tomates médios
·   sal q.b.
·   pimenta q.b.
·   1 colher de sopa de salsa picada
·   2 dl de caldo de carne
Confecção:

Corta-se o coelho aos bocados.
Põe-se ao lume uma caçarola com o azeite e a banha (a caçarola tem que ser grande para que os bocados do coelho não fiquem uns em cima dos outros).
Assim que as gorduras estejam a fumegar, deitam-se os bocados do coelho para alourar virando-os para alourar por igual.
Depois de alourado, põe-se o lume brando, adicionando o vinho, a cebola picadinha, o alho picado, o tomate pelado e sem grainhas cortado aos bocadinhos, sal e a pimenta.
Tapa-se bem a caçarola continuando a cozedura por +- 1 hora, conforme a dureza do coelho, mas convém verificar.
Depois de cozido rectifica-se os temperos, polvilha-se com a salsa picada e serve-se bem quente.
Acompanhe com batatas fritas, cozidas ou arroz branco.

A diferença entre esta Receita e a do Coelho à Caçadora parece estar no facto do segundo obviamente ser bravo, e para além disso, levar cravinho e louro, e estar algum tempo a marinar em vinho tinto antes de ser alourado e depois lentamente guisado.

Bon appétit!

E não se esqueçam que enforcar um coelho em nada contribui para lhe melhorar o paladar...pelo contrário! Seca-o!!

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Os sapatos papais

Começo esta "charla" fazendo referência ao anúncio oficial da "retirada papal", onde  o funcionário do Vaticano para além da informação sobre o título que vai ter -  "Papa emérito" ou  "Pontífice romano emérito" - dava também outros detalhes sobre a fatiota: Batina branca sem sobrepeliz e...sapatos castanhos.

Toda a gente que me conhece sabe que sou perfeitamente indiferente àquilo que visto ( e que calço). Por várias vezes as minhas companheiras tentaram treinar-me em relação a essas matérias, mas sem qualquer sucesso e, hoje com 57 anos, não me parece que vá mudar e de repente "dar uma" de metrosexual entradote...

Bem sei que  o futuro não é nosso para se conhecer antecipadamente, e já Voltaire aconselhava que até morrer há que experimentar... Acredito piamente,  todavia, que não experimentarei algumas coisas colocadas ao alcance dos vis mortais como tentações da carne e do espírito. Entre elas a tal questão das preocupações com "marcas", com "modas", com coloraturas e sobreposições, com largura de bandas ou calças reviradas, enfim , com casacos de 2 ou 3 botões, trespassados ou de aperto singelo...

Para aconselhar nessas matérias existem blogues em barda e revistas especialistas, tanto para homens como para a nossa contraparte  (e vice versa).

Para mim o mais importante na escolha de uma camisa é ter a certeza que aperta à frente e no colarinho. E quanto a fatos, desde que deixem abotoar um dos botões (pares ou ímpares) já me dou como satisfeito. Sapatos são pretos ou castanhos escuros e (muitíssimo importante!!) desde que não magoem os delicados pézinhos!  Podem andar a navegar à  bolina perto dos dedos dos pés, o que interessa é que não apertem os artelhos!

Parece que na sua vida ativa Benedito XVI adorava calçar sapatos vermelhos...

Os famosos "múleos" feitos à mão por um conhecido sapateiro de Novara, Adriano Stefanelli. 
Agora, no ato da renúncia troca o vermelho pelo castanho. E nisto, finalmente,  está comigo Sua Santidade! Ou deverei escrever : Sua Santidade , o Papa Emérito.

Nota retirada do DN:  Bento XVI recuperou acessórios medievais e ritos pré-Vaticano II
"O Papa não usa Prada, usa Cristo", garantiu o Osservatore Romano. O jornal do Vaticano pôs assim fim a três anos de especulação sobre a origem dos sapatos vermelhos que Bento XVI nunca dispensa. No artigo, o jornal cita Guido Marini, que desde Outubro de 2007 é o responsável pelas celebrações litúrgicas do Vaticano, para esclarecer que as escolhas do Papa em termos de acessórios não são uma questão de vaidade. Bento XVI pretende assinalar "a continuidade com as celebrações que marcaram a história da Igreja", explicou o padre cuja figura esguia se perfila sempre por trás do Papa durante as celebrações religiosas.
Este artigo no Osservatore Romano foi a resposta dos responsáveis pela liturgia do Vaticano aos comentários sobre o estilo do Papa alemão. Desde que sucedeu a João Paulo II, em Abril de 2005, Bento XVI tem surpreendido ao exibir acessórios há muito esquecidos no fundo dos baús, alguns deles desde o Concílio de Trento no século XVI. No Inverno foi o camauro, um gorro vermelho com pele branca que ninguém via desde os anos 1960. E já este Verão, o Papa voltou a surpreender ao surgir com o chapéu Saturno, assim chamado devido à semelhança com os anéis daquele planeta.
Eleito pela revista Esquire como o homem que melhor escolhe os acessórios, Bento XVI não se limitou, contudo, a recuperar os chapéus e as capas (como a Mozzetta, cujo material muda de acordo com a estação) entrados em desuso após o Concílio Vaticano II, que durou de 1962 a 1965 e lançou a Igreja Católica na modernidade. Em três anos de pontificado, Joseph Ratzinger também reintroduziu a prática da missa em latim e, recentemente, a comunhão dada na boca com os fiéis ajoelhados.

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Em Itália canta-se de Grilo....

As últimas notícias:

"Segundo resultados preliminares das eleições para o parlamento italiano, ao que parece, ambas as suas casas - Câmara Baixa e Senado -  estão divididas entre direita e esquerda, o que causa uma preocupação crescente nos países da zona do euro.
O bloco de centro-esquerda liderado por Pier Luigi Bersani, está à frente por uma pequena margem na câmara baixa, enquanto a centro-direita, liderada por Silvio Berlusconi, têm a vantagem no senado influente. O "Movimento 5 stelle" (5 estrelas) protestante contra todos os políticos, do comediante Beppe Grillo, está em terceiro lugar.
Especialistas dizem que o resultado destas eleições pode complicar ainda mais a situação política no país e torná-lo de facto ingovernável."

O que comentar neste momento?  São as pedras no sapato dos regimes democráticos...Quem se sujeita ao voto sujeita-se a estas conclusões...
E se o Povo é quem mais ordena, quem somos nós, ainda por cima aqui de fora, para estar a mandar palpites sobre a escolha ( a não-escolha será melhor dito) dos amigos transalpinos?

É mau para a Europa? Talvez seja. Mas a Europa ainda não é uma Federação... E mesmo nas melhores Federações , com anos de treino, acontecem de vez em quando umas "Flóridas" aos incautos.

Haja calma e lembremo-nos que a Itália sempre foi mais ou menos assim.  Países novos onde existiram velhas civilizações têm destas coisas: é maior o peso da história e das corporações do que o peso do nacionalismo...

Vem ao caso talvez lembrar aquela história sobre a democracia, a frase de Sir Winston Churchill proferida na Câmara dos Comuns em 1947:

 "Democracy is the worst form of government, except for all those other forms that have been tried from time to time."


segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Tá Frio, o que é bom para o queijo e para o vinho!

Sem frio não há bom queijo nem bom vinho. Essa a verdade das serranias da Estrela, desde sempre habituadas a conviver com o "cortante gelado" que sopra de Dezembro a Março dos cumes da mais alta cá para baixo para as courelas onde as ovelhas pastam as as ervas e flores da estação.

Este queijo  é sempre produzido a partir de leite de ovelha  da raça Bordalesa (o ideal!!)  e a  ordenha era antigamente  feita ao cair da noite e de manhã, sendo  o leite transportado em vasilhas de lata, as ferradas.

A seguir, amornava-se o leite e passava-se por um coador de pano que continha cardo moído com sal. A presença do cardo  coagula o leite. A coalhada resultante é transferida gradualmente para uma forma circular de lata, com furos, denominada acincho,  que se  coloca em cima de uma mesa inclinada conhecida como francela.

Por prensagem manual, vai-se extraindo o soro da coalhada que se torna firme e consistente. Nesse ponto, retira-se o acincho e envolve-se o queijo com um pano branco, a empesga. O acincho é recolocado e a massa novamente espremida.

Finalmente deita-se uma pedra sobre o acincho para dar forma, devendo assim permanecer por um dia, após o que se retira definitivamente o acincho.

Permanecerá, a partir de então, cerca de 30 dias em processo de cura.

Por lei, o queijo Serra da Estrela é de "fabrico artesanal». A sua produção decorre normalmente entre os meses de Novembro e Dezembro, altura em que as ovelhas deixam de amamentar os jovens borregos, e prolonga-se até Maio, época do acasalamento.

Mas quem percebe do assunto diz que em Janeiro e Fevereiro é quando o leite é melhor, devido a um conjunto de características alimentares e ambientais.  E entre outras coisas importantes,  desde que também faça bastante frio! Mesmo as mãos das queijeiras têm de estar a uma temperatura baixa!

E os peritos sabem distinguir: Quando comemos um queijo, conseguimos perceber se o leite usado vem de animais que pastaram mais na Primavera ou no Outono. Aquilo que comem está presente no sabor...

Por outro lado, e olhando agora para os "liquidos",  a necessária estabilização do ácido tartárico e dos seus sais no vinho tem sido  sempre feita à custa do arrefecimento das cubas abaixo da temperatura de cristalização do hidrogenotartarato de potasso, mas obviamente acima da temperatura de congelação do próprio vinho.

Hoje em dia tudo isto se consegue na Adega através da tecnologia. Mas antigamente era o saber intuitivo dos lavradores que lhes dizia que "sem frio o vinho não presta!"

Vamos então aproveitar o tempo gélido e dar de dente no queijo e no vinho. Está caro o queijo da Serra certificado?  Está  sim, senhores... Mas um dia não são dias.

E aproveitemos as "Feiras do queijo, vinho e enchidos " que por aí começam a proliferar nos "Hiperes".

Duas sugestões:
- Para um Serra da Estrela amanteigado, a escorrer pela borda do prato, tentem um Tinto da mesma  Região, o Quinta dos Roques Touriga Nacional de 2005.

- E para um Serra da Estrela curado, pungente de gosto e de odores tentemos uma pequena heresia: um Moscatel Rôxo de Setúbal...

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Para Descansar a Vista

Nem sei bem porquê lembrei-me hoje de manhã do grande Jean Gabin e da canção maravilhosa que  Jean Lou Dabadie escreveu para ele, canção essa onde se cunha a frase, mais que verdadeira, autêntico mandamento escrito em granito:
"Le jour où quelqu’un vous aime il fait très beau."

Neste fim de semana de temporal e chuva faz bem lembrarmo-nos disso e  reconhecer o que de bom e mágico ainda está lá em casa malta!

Maintenant je sais !

Quand j'étais gosse, haut comme trois pommes,
J'parlais bien fort pour être un homme
J'disais, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS, JE SAIS

C'était l'début, c'était l'printemps
Mais quand j'ai eu mes 18 ans
J'ai dit, JE SAIS, ça y est, cette fois JE SAIS


Et aujourd'hui, les jours où je m'retourne
J'regarde la terre où j'ai quand même fait les 100 pas
Et je n'sais toujours pas comment elle tourne !


Vers 25 ans, j'savais tout : l'amour, les roses, la vie, les sous
Tiens oui l'amour ! J'en avais fait tout le tour !


Et heureusement, comme les copains, j'avais pas mangé tout mon pain :
Au milieu de ma vie, j'ai encore appris.
C'que j'ai appris, ça tient en trois, quatre mots :


"Le jour où quelqu'un vous aime, il fait très beau,
j'peux pas mieux dire, il fait très beau !


C'est encore ce qui m'étonne dans la vie,
Moi qui suis à l'automne de ma vie
On oublie tant de soirs de tristesse
Mais jamais un matin de tendresse !


Toute ma jeunesse, j'ai voulu dire JE SAIS
Seulement, plus je cherchais, et puis moins j' savais


Il y a 60 coups qui ont sonné à l'horloge
Je suis encore à ma fenêtre, je regarde, et j'm'interroge ?


Maintenant JE SAIS, JE SAIS QU'ON NE SAIT JAMAIS !

La vie, l'amour, l'argent, les amis et les roses
On ne sait jamais le bruit ni la couleur des choses
C'est tout c'que j'sais ! Mais ça, j'le SAIS...


Vejam aqui o video sff:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=orDR4JA91F4

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Reminiscências sobre a Liberdade

Acordei ainda um bocado azoado com as notícias da eventual "indiscrição" do Bispo mais mediático que por cá tínhamos no sentido mais metrosexual  da aparência física, porque na desbunda verbal - e honra lhe seja feita!! - é o D. Januário das tropas.

Como se assassina um perfil público através de uma notícia destas é algo que me perturba. Bem sei que "quem anda à chuva expôe-se e ...molha-se" e que quem escolheu a vida pública já sabe que tem de levar com estas perseguições em cima.

Mas mesmo assim repito que me impressiona a rapidez com que se passa de "bestial" a "besta" - para usar uma expressão futebolística que me parece ter sido cunhada pelo grande capitão Toni (agora a fazer carreira de animador noturno no Irão, onde, como sabem, o álcool é assim "como que a modos" mal visto, ou era,  antes da chegada do nosso treinador...).

Conheci o então Sr. Bispo Auxiliar de Lisboa quando lançámos o Livro "Pedras Preciosas na Arte Sacra",  tendo sido ele o orador convidado pelo autor - Prof. Rui Galopim de Carvalho (filho do "dinossauro" )- para apresentar a obra  no palácio da Ajuda. Foi em 2010.

Dele o que posso dizer é que me pareceu que tinha uma  cultura enciclopédica e que  falava bem e com graça. Agora, podem ter a certeza que  não me "pus a espreitar lá para baixo" para ver se o que fazia mexer o homem era a carne ou era o peixe...

Se é que isso interessa alguma coisa à luz da lei dos homens, digo eu, porque em relação à "outra" lei mais elevada que o Sr. D. Carlos seguia,  já o tear fia mais fino. Finíssimo! 

Enfim, esperemos pelos novos capítulos, porque decerto que esta novela vai apenas no intróito.

Entre o Sr. Ministro Relvas a ser apupado na minha Alma Mater e este caso de denúncia mediática do Bispo Azevedo há alguma semelhança: é a flexibilidade das margens que ladeiam o rio da Liberdade de Expressão, e até que ponto é que essas margens  devem, ou não, restringir os ímpetos das águas tumultuosas.

E enquanto bastas cabeças  (até eu) sorriram e aprovaram a "praxe" que os alunos aplicaram ao "caloiro Relvas" no ISCTE, e  que o impediu de falar, suspeito que essas mesmas cabeças se vejam agora pressurosas a aprovar os princípios gerais da denúncia\exposição feita pela Visão, em nome da mesmíssima Liberdade de Expressão. 

Dois pesos, duas medidas? Não amigos leitores, apenas  uma questão de oportunidade jornalística. Relvas a sair cabisbaixo , sob escolta,  e Bispo acusado de assédio sexual,  são "excelentes" notícias  que vendem jornais, e com esta crise...  

É uma chatice quando um gajo de esquerda como eu não se pode deitar a dormir descansado...

P.S - Recado amigável a todos os políticos afetos ao atual regime: vão aprender a letra do "Grândola Vila Morena" porque está cada vez mais "de moda" e ainda lhes vai dar um jeito do caraças! Podem ter a certeza!

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Abadia de bom acolhimento

Como já tive ocasião de aqui escrever, os locais onde costumava ir comer com meu Pai ao Porto eram apenas dois ou três: O Abadia das Tripas, o Montenegro da famosa Mamuda, a Adega Vila Meã.

Estando ontem na capital do Norte em azáfama filatélica, aproveitei para "revisitar" uma dessas locandas antigas e felizmente ainda aberta. Aberta e com sucesso! O que nos tempos que correm é obra! Trata-se da "Abadia".

No velhinho Restaurante da baixa portuense - aberto faz agora 75 anos - continua a comer-se bem. Sólida comida nortenha , poucos floreados e devaneios provocados por estômagos mais delicados, quase nenhuma abertura aos novos canônes da gastronomia metrosexual que vão desde o arremedo mal feito da "nouvelle cuisine" (hoje a cheirar completemente a môfo) até às delicadas composições de empratamentos minimalistas  à moda do Japão e seus Sushis característicos.

Neste Abadia a comida vê-se, cheira-se e ...come-se.  Para isso é que serve um restaurante (acho eu).

Restaurante Abadia
Rua Ateneu Comercial do Porto 22/24
Porto
Telefone - 222008757


As Salas continuam, como antigamente, divididas entre a galeria e a sala de baixo. Mas fora isso, tudo o resto foi completamente renovado! Bons panejamentos nas mesas, bons talheres e bons copos, boas casas de banho, boa decoração e ambiente geral  (tudo foi melhorado desde a minha última visita).

Todos os pratos tradicionais, ou pelo menos a grande maioria do receituário tradicional da cidade invicta , se encontram ali. Desde logo as Tripas, ex-libris do Porto, mas também as carnes de novilho,  o Cozido à portuguesa, e os Bacalhaus nortenhos, seja o clássico à Narcisa, de Braga,  como o proverbial  à Gomes de Sá, nome de um honesto comerciante da Cidade.
Ora leiam sff um apanhado do "dia", pois a lista propriamente dita é gigantesca::

Sopas: Creme de Legumes; Caldo verde e Canja de galinha.
Peixe: Bacalhau à Gomes de Sá; Polvo à bordalesa; Bacalhau à Narcisa; Maionese de pescada; Bacalhau assado e Pataniscas de Bacalhau com arroz de feijão vermelho.
Carne:Tripas à moda do Porto; Costeleta de vitela com esparregado; Entrecosto de Boi laminado  com salsichas frescas; Cozido à portuguesa; Feijoada à transmontana; Bifes de Boi de cebolada.
Doces: Queijo da Serra; Toucinho do Céu; Leite creme.

No dia de ontem 4 almas  dirigiram-se a este  local do crime e nele tornaram a pecar valentemente.

Como entradas os fritinhos nortenhos: bolinhos de bacalhau, croquetes, rissóis, todos excelentes. Um prato de presunto (apenas serrano, mas satisfatório pelo preço de 6,5€); Polvinho em salada.

Depois é que foi : Dose e meia de Entrecosto de Boi laminado (deu e sobrou para 3 pessoas); meia dose de Tripas (idem , idem, aqui para o "Je", o que não é tarefa fácil).

Com duas garrafas de verde da casa (Quinta do Minho a uns amáveis 9€ cada) e uma Quinta de la Rosa tinto de 2009 ( a 19€ );  4 cafés,  mas mais nadinha para postres ( já nada cabia nos interstícios abdominais) ficou esta aventura portuense por menos de 120€. Para 4 impetrantes.

Uma nota final para a excelente broa de milho feita lá em casa, mesmo nos fornos da Abadia. É de cair para o lado!

Recomendadíssimo!!

Nota: tenham apenas o cuidado de escolher um dia onde não "apanhem" com metade da cidade de Málaga aos saltos, a cantar e aos berros dentro do restaurante... Que foi o que sucedeu ontem...

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Amanhã na Torre (dos Clérigos)

Amanhã não passo por aqui. Vou direto à Invicta falar com a Irmandade da Torre dos Clérigos sobre o Postal Inteiro previsto para este ano.

O "tabuleiro das pressas"

Nestas vidas de "dono de casa" a que fui obrigado nos feriados e fins de semana  é preciso recorrer a alguns truques sob pena do almoço dos Sábados só se realizar lá por alturas do lanche.

O melhor seria fazer como antigamente: manhã de Sábado para as mércolas, almocinho fora com o senhorio e etc...Mas com a Santa lá "de casa e pucarinho", e sem se poder deslocar,  todas estas exéquias tiveram que se alterar. Para já não falar da redução orçamental "à la mode de Monsieur Gaspar", a qual não permite abrir nem metade das portas dos restaurantes que dantes se abriam.

Desta forma,  normalmente  faço tudo para  ter os "avios semanais despachados" antes das 10h da manhã, o que dá ainda algum tempo para meter mãos aos tachos, sobretudo se alguns dos trabalhos preparatórios estiverem adiantados de véspera - como as batatas descascadas dentro de água, no frio.

Mas se tal não for possível,  uma das alternativas à Pizza ou ao Frango assado do "galego" é a realização do meus famosos "tabuleiros de 1 hora"!

Tenham sempre em casa salsichas frescas de boa proveniência ( as melhores compravam-se no Corte Inglês e eram de porco preto); uma ou duas embalagens de batatas Primor pequenas da Vitacress; uma embalagem de lombo de porco preto cortado em fatias; uma embalagem de couves de Bruxelas (na sua ausência, uns  cogumelos ditos de Paris, aqueles brancos pequenos).

Deitem num tabuleiro de forno: uma boa mão de  sal, azeite, uma cebola grande às tiras, dois ou três bons dentes de alho aos pedaços. Por cima as salsichas encostadas às bordas do tabuleiro, as batatas com a pele (apenas lavadas) e couves de Bruxelas ao meio, e os escalopes de porco preto entalados entre estas, podendo ser cortados às tiras para facilitar. Eu ainda gosto de salpicar de massa de pimentão, pimenta preta e mais um golpe de azeite por cima.

Acendam o forno nos 250º e quando estiver quente metam-lhe este tabuleiro por uma hora.

O tempo que o forno leva a aquecer é o tempo que V. levam a preparar os ingredientes no tabuleiro. E ainda sobra.

Acompanhem  com uma garrafita de Monte da Ravasqueira Tinto de 2011. E vão ver que gostam.

Um Comentário "à point"

Um dos nossos Leitores comenta o Post sobre a renúncia de Bento XVI:
Como sempre oportuno e bem informado...os argumentos do cansaço e nao so deveriam poder ser invocados por todas as ovelhas do rebanho, coisa que nao acontece! A história do desistente PR foi outra, mas nao vale a pena puxar temas delicados.
Abraço
PC


Nota: A questão do nosso Teixeira Gomes e da sua renúncia tem a ver com assuntos que naquela altura eram pouco mais ou menos tabu, mas que hoje fazem parte do "politicamente correto vigente". Penso que adivinham o que fosse...

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Para Descansar a Vista

Vamos lá falar de Esperança neste poema de Fevereiro Quaresma:

"Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA..."


Mario Quintana ofereceu-nos esta jóia.
Apreciem antes que o céu nos caia (outra vez)
em cima da cabeça...

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Papa abandona a Empresa... Já não há nada sagrado pôrra?

Antigamente, no tempo em que os animais falavam, existiam  empregos que eram para a vida toda: Professor de Liceu ou Professor Universitário, Médico, Padre, Trabalhador dos Correios, Militar ou Polícia, Juiz ou Procurador...

No tempo do Sr. Doutor Oliveira Salazar até se dizia que "ele" velava pessoalmente para que os ordenados das 3 cúpulas do funcionalismo público nunca fossem muito diferentes uns dos outros: Generais de 3 estrelas, Juizes do Supremo e Professores Catedráticos.

Nota: Acho que embora fosse amigo do Cerejeira nunca se terá metido no ordenado dos Cardeais... Penso eu.

Dentro desse "equilíbrio" de forças se ia mantendo o imobilismo económico de que todos ouvimos falar e alguns apenas experimentaram. Já para não falar dos Direitos, Liberdades e Garantias...

Já a malta que trabalhava nas Finanças normalmente saía do Estado  e estabelecia-se por conta própria depois de ter aprendido a "confundir" o sistema. O mesmo se dizia  - naquele tempo - dos funcionários que labutavam nas secretarias de alguns Ministérios mais dados ao convívio com os donos do  dinheirito, como por exemplo o das Obras Públicas...

Agora, aparecer um Papa a dizer que se vai aposentar no fim de Fevereiro, tal e qual como se fosse um amanuense das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade?

O Tempore, O Mores! Como dizia o meu colega blogger (avant la lettre) Cícero,  lá por Roma, ainda antes da fundação da Católica.  A Igreja, não a Universidade!

Um Papa não se aposenta. Quanto muito um Papa cisma (torna-se cismático) quando o caldo verde lá no Vaticano não lhe agradar. Já tivémos uma altura de fartura eclesiástica com 3 Papas ao mesmo tempo! Aquilo é que era, entre 1378 e 1409 ! Urbano VI, Clemente VII e Alexandre V.

A maior vantagem, como se imagina, era a facilidade de substituição do capitão da equipe no caso de gripe, férias ou de  haver sinais de  algum cansaço físico ou intelectual.

Não amigos, não concordo com o anúncio nem com a intenção! Se a moda pega ainda vem por aí algum político em exercício dizer que se retira?  Algum Primeiro Ministro preocupado com a galopante Taxa de Desemprego?

Gulosos! Isso queriam Vocês!!

Nota: Por acaso já cá tivémos um caso . Na 1ª República Teixeira Gomes resigna a 11 Dezembro de 1925.  Eram tempos de homens honrados...

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Mais uma complicação? Não, a Apple TV merece estar em nossa casa!

O Senhorio continua a árdua tarefa de me "converter" à galáxia de Santo Steve Jobs o qual, se fosse papa,  já estava a caminho da canonização.

A última aventura dá pelo nome de "Apple TV".  Mas esta geringonça convenceu-me mais rapidamente do que as outras, com relevo para o Iphone , cujas teclas virtuais ao fim de cerca de 2 meses de experiências ainda parecem demasiado elegantes e fininhas para os meus salsichões de dedos. Problema meu, já sei...

Agora a Apple TV é "Porreira Pá!". 

A malta liga aquilo por um cabo decente HDMI e\ou EtherNet  a uma TV grande (quanto maior melhor) e depois tem acesso a uma quantidade de coisas boas, com relevo para mais de 150 estações de radio FM  grátis de todo o mundo, com streaming audio de muita qualidade, filmes (estes a pagar...), Podcasts com programas de radio e de TV (documentários, notícias, música)  gravados, etc... 

E pode ainda ver e ouvir (teoricamente) na TV e através do sistema de som ligado à TV,  tudo o que existe em casa armazenado nos dispositivos PC (ou Mac), Iphone, IPad, e similares. Sejam fotos, videos caseiros, apresentações de projetos de empresa ou da faculdade, filmes e séries  cujo download mais ou menos pirata já foi feito anteriormente e , obviamente, toda a música nas listas previamente existentes.

A única chatice é que a velocidade e qualidade da rede de internet em casa influenciam a velocidade da "descarga" da informação dos aparelhos citados para o écran.

E ainda, que quanto melhor for o sistema Audio ligado à TV melhor a qualidade da reprodução. Não queiram milagres através dos mesquinhos altifalantes que vêm incorporados nos Plasmas ou LCD's ou LED's!

Agora, se tiverem uma Sound Bar de qualidade  ou um sistema Hi-Fi decente ligado a essa mesma TV, o resultado é muito bom! Perfeitamente aceitável para um audiófilo como aqui o "moi"!

No meu caso, com dezenas de estações de Jazz e de Música Clássica à escolha, 24h por dia, o mais que vos posso dizer é que quase deixei de meter CD's no leitor... Não vale a pena.

Por cerca de 100€, temos direito a isto tudo dentro de uma caixinha pequenina e discreta, que ainda traz um comando remoto perfeitamente minimalista mas muito eficiente.

Mas vejam aqui mais detalhes sff:

http://www.apple.com/pt/appletv/

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Introduções...

O Senhorio prepara a entrega final da tese nesta semana (já amanhã! Imaginem o gozo que dará poder mais tarde dizer que "entregou a Tese na 3ª Feira de Carnaval"...).

Ultimamente as discussões têm sido à volta da "Introdução" e da "Conclusão". Tudo o resto, as mais de 300 páginas do texto base,  está mais que pronto há semanas atrás...

Será estranho ser assim? Quem percebe da poda acha que não é nada estranho, antes pelo contrário!! É pela Introdução e pela Conclusão que se mede atualmente o sucesso de um trabalho desta natureza... E a razão é simples: apenas quem se sente tentado pela Introdução se dará ao trabalho de desfolhar a "maçada" das centenas de páginas... E nunca o fará sem ter antes lido as conclusões.

O Prof. Carlos Fabião ensinava-me na passada Quinta Feira esta matéria, do alto da competência da sua posição na Universidade Clássica, enquanto provávamos um Carrossel 2008 de altíssimo nível na Horta dos Brunos, fazendo jus à arte do Engº Álvaro de Castro.

Para se documentar sobre estas matérias e não meter água em alturas importantes , há quem vá ao texto do Prof. Carlos Ceia - retirado da sua obra EDTL (E-Dicionário de Termos Literários). Podem ver aqui sff:
http://www.edtl.com.pt/

O assunto da Tese do Senhorio?

"Democratization and Foreign Policy" : Um estudo  sobre a mudança da política externa de vários países causada pela democratização da respetiva sociedade.

Podia já dizer-lhes qual a conclusão... Mas é melhor lerem a tese malta! :):):)

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Para Descansar a Vista ... A ver o Carnaval passar...

Sempre abominei esta quadra. Apesar de ser do Estoril e dos meus pais (mais ideia da  santa, coisa que nunca lhe perdoei) me obrigar a mascarar nos meus verdes anos para "irmos ao corso".

Nessas alturas Teodoro dos Santos tinha uma verdadeira indústria "de Entrudo" montada nos seus barracões lá para Alcoitão, local de onde desciam os carros alegóricos para fazerem por diversas vezes o contorno do jardim do Casino Estoril nas tardes de Domingo, Segunda e Terça-Feira gorda.

Depois dessas lides - que a mim, pessoalmente,  ainda  me causaram psicoses tardias -  e na altura em que ainda havia dias Feriados (!!) lembro-me bem que os CTT trabalhavam na Terça Feira de Carnaval, a troco da véspera do Natal , combinação essa que estava inscrita em AE. A "malta" que via o carteiro fardado a entregar correspondência nesse dia,  para gozar com o triste ainda por cima  lhe chamava  "mascarado".

Nós, que tínhamos de vir trabalhar mas pouco fazíamos nessa Terça-Feira, distraímo-nos de outras formas. A Manuela andava pelos corredores da Casal Ribeiro  a correr atrás do Sr. Novo para o maquilhar, alguns dos outros colegas ( a Jú, a Isabel Galrito) não deixavam de aparecer com caraças , bigodes ou barbas, cenouras a aparecer no meio das carcelas das calças,  e etc...

Havia uma tradição em relação ao almoço nesse dia. Normalmente eu e mais uns colegas ( o Carlos Bernardo, a Fátima) pirávamo-nos para o Gambrinus para almoçar a  Cabeça de Porco com Feijão, prato emblemático de Terça-Feira gorda naquela casa , encerrando o ciclo da folia e avisando pelo exagero das doses e pela matéria prima um bocado excessiva, que a Quaresma estava próxima.

Por isto tudo, mal feito fora que o tema do poema de hoje não fosse mesmo o Sr. Entrudo.

 O Capitão do Mato Vinicius de Moraes dá-nos aqui  um soneto - aliás admirável! - mas que  de carnavalesco só tem o nome.

Eu bem os avisei que não gostava de Carnaval!

Soneto de Carnaval

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado é uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'





quinta-feira, fevereiro 07, 2013

"Deito chouriços pelas orelhas!"

A nossa Amiga Fátima Moura, escritora especializada em assuntos de gastronomia e blogger notável (Conversas à mesa com...) acabou de nos entregar o texto completo do nosso próximo Livro temático CTT "Sabores do Ar e do Fogo" , um levantamento de enchidos e presuntos tradicionais portugueses, e ao fazê-lo, depois de largos meses de trabalho,  deixou cair o lamento:

-"Raul, até deito chouriças pelas orelhas!"

Vem esta história a propósito daquilo que muitos sentimos no final de um trabalho que,  por muito tempo,  nos encheu as medidas  e que finalmente levamos a bom porto. E o que sentimos é um misto de alívio e de tristeza.

Esta "entrega final" do trabalho criativo tem que se lhe diga. O escritor, o designer,  são normalmente "agarrados" às suas coisas e vão dilatando os prazos de entrega dos textos ou dos desenhos, sempre à conta de frases do tipo: "Ainda precisa de uns melhoramentos", ou "Ainda não estou bem satisfeito com o resultado", ou ainda "Gosto de deixar repousar o trabalho por uns dias antes de lhe voltar a pegar...."

É um axioma da área de edição que qualquer criativo arranja sempre pretextos para continuar a mexer nos seus trabalhos enquanto estes não lhe são arrancados da frente, por vezes quase à força.

A Fátima Moura nesse aspeto,  por acaso (ou não) ,   até foi 5 estrelas ! Mas será a tal conhecida exceção que confirma a regra geral.

Não é de agora. Todos sabemos a irritação papal de Sisto IV com Miguel Ângelo - o verdadeiramente Buonarroti Simone, não confundir com o vocalista dos Delfins! - por causa da capela sistina, o que o obrigou  em desespero de causa a mandar a guarda papal levar o grande pintor à força para fora do local,  para que este fosse, finalmente, inaugurado.

Deixar um texto (de qualquer tamanho) na posse do escriba mais do que o tempo que lhe foi indicado para o executar é um perigo. O escriba dá-lhe polimento até quase o estragar, arranja de novo os parágrafos, pela 5ª vez valida as referências, e ainda  altera alguns adjetivos para que a frase "soe melhor se for lida em voz alta" ...

Quando finalmente o texto ou o desenho são arrancados das mãos do "impetrante" este acaba por suspirar de alívio - depois de lhe passsar a irritação do momento. E não devemos estranhar que dê azo aos seus sentimentos com a tal frase "libertadora" com que começei esta crónica : "Deito chouriças pelas orelhas!"
Carago! (acrescento eu, porque a Fátima, sendo uma senhora , não o deve fazer).

Obviamente que ao longo de 33 anos de edições já passámos por tudo. Desde o Perfecionista Metódico que até está bem na vida e que não precisa dos maravedis que lhe pagamos para nada (são os piores de todos, do ponto de vista dos prazos de edição) até ao Rápido Eficaz, que está mais ou menos à rasquinha para pagar a prestação da hipoteca neste mês (de longe o melhor autor com que se pode trabalhar , sempre do ponto de vista do cumprimento dos prazos!).
Ms um deles  é sempre (pois ainda hoje - e bem - trabalha para nós) uma caixinha de surpresas no que trata aos prazos de entrega dos trabalhos. A surpresa tem a ver com a constatação a posteriori se "desta vez"  atrasa a entrega dos originais pouco, o normal ou muito, está claro.

Uma vez, já muito instado que "Tinha que enviar os bonecos ou não havia emissão! Porra!  Da-se, carago!  C**** de alentejano! É sempre a mesma M****"

Nota: este linguarejar meio pitoresco era típico  do nosso Diretor de Arte reformado, e não do atual , nem tão pouco meu!

Pois o dito ilustrador,  assim veementemente instado,  não deixava de responder:

"- Oh Sr. Duran, encomendaram-me umas águias, tenho vindo todos os dias para aqui para debaixo do mesmo chaparro a olhar para cima. Mas as gajas não têm passado  ... Qué que vomecê quer? Que as vá enxotar para aqui? "

O homem estava no gozo, até porque as águias tinham habitat nas zonas costeiras (eram a Rabalva e a Pesqueira propriamente dita) e não consta que pescassem lá para Évora, nalguma poça de rega...

Mas esteve bem na tirada e tivémos que nos rir. Rir e esperar, está claro!

E lá esperámos....Mas saíram!

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

As lindinhas dos almoços

Bons Ares, Valado, Crasto, Duas Quintas e Aneto. Passadouro se o encontrarem...

Uma meia dúzia de garrafas satisfatórias para os almoços com os amigos e que não levam a "firma" a dar em quebra.  falo de Colheitas e não das Reservas, obviamente!

Estas colheitas estão  todas no patamar dos 20's euros nas cartas de vinhos , são de Tinto (o que poderia ser?) e aparecem com mais ou menos frequência nos restaurantes de eleição do vosso Blogger.

Alguns dados acessórios: se encontrarem Bons Ares de 2007 , atirem-se a ele como leões. Idem, idem para o Crasto 2009... Do Passadouro - que (com o Aneto) é o mais caro, o mais próximo da faixa dos 30€  - já aqui falei um destes dias. E são ambos Aneto e Passadouro fora de série!

Pode-nos parecer mal uns vinhos de supermercado a 10 e 11 euros estarem a mais de 20 euros no restaurante, mas não vale a pena refilar. É este o mundo onde vivemos.

Parece estranho serem estas marcas de tinto todas de vinhos do Douro?

Assim é. Claro que o Dão e a Bairrada cada vez aparecem menos nas cartas de vinhos - fruto de um fenómeno conhecido pelo jogo da procura e da oferta - mas estranharemos não ver alguns alentejanos naquele lote dos que eu recomendo?

Os bons alentejanos - no meu entender - "chutam" mais para cima em preço. Talvez  haja por vezes a sorte de encontrar um Borba "rótulo de cortiça" de algum ano recomendável e que nos satisfaça também de igual modo, mas por norma e em relação ao célebre binómio qualidade\preço, não há dúvida que são estes Douros que estão a dar cartas nesta escala de preços.

De novo, digo e repito, na minha opinião!! E a opinião tem a ver com o meu gosto em vinhos.

Na escolha possível de vinhos do Dão - em prateleira de retalho - há marcas de preços aceitáveis e muito boas, como o Vinha Paz colheita, o Quinta da Falorca colheita ou mesmo o Reserva. Mas para  provarmos um Dão na sua plenitude de raça e de elegância já temos de ir para os lados de Pinhanços, e do Engº Álvaro de Castro, com o seu Quinta da Pellada . E este sai da forquilha de preços dos tais 10's euros em prateleira e 20's euros em carta de restaurante.

E a Bairrada? Pois simplesmente desapareceu das cartas... A não ser os vinhos de Luis Pato ou da filha Filipa ou  algum Quinta da Dona, sendo que o preço destes aponta lá mais para cima , em tintos está claro.  A casa Campo Largo tem fama e proveito de apresentar bons vinhos bairradinos para todos os preços, mas infelizmente ainda não está bem "entrosada" nos caminhos de muitos restaurantes. Tinha um Pinot Noir de 2007 excelente, mas a 20€ em loja...E segundo parece a colheita de 2008 baixou o preço para metade, mas arrastou a qualidade do vinho igualmente para baixo...

Se desejarem um branquinho para "limpar o dente" ou "espevitar a glote" , de entrada, para juntar depois ao tinto, tentem algum verde Loureiro .

Os de casta Alvarinho - como o excelente Soalheiro - já se aproximam mais dos preços destes vinhos tintos referidos. Claro que o Soalheiro é sempre uma hipótese única e completa para um almocinho mais leve, de peixinho grelhado ou cozido... tal como aliás, o Esporão branco duas castas ( ambos a cerca de 8€ nas prateleiras).


Não existirão vinhos tintos que o restaurador compre a 10 € e possa vender a 20€,  das outras regiões, e que nos satisfaçam tanto ou mais do que aqueles citados do Douro?

Estou sempre disposto a aprender.

terça-feira, fevereiro 05, 2013

O "Franquelim" e a "Fraude" hoje na SIC

As mulheres  de César eram 3 (oficialmente):  Cornélia, Pompeia e Calpúrnia.

Da 1ª vez diz-se que César casara com o dinheiro (embora fosse talvez essa a mulher que mais amou e respeitou, morrendo muito novinha ao dar à luz antes do tempo).

Da segunda vez foram motivos políticos que levaram ao casamento com Pompeia e ao posterior divórcio.

E da terceira vez teria procurado mais uma mão protetora e boa gestora daquilo que era seu, do que propriamente uma mulher no sentido carnal do termo, envolvido que já andava com Cleópatra, com Servillia ( a mãe de Brutus) e etc...

Vem tudo isto à colação para dizer que foi no caso grave e escandaloso do divórcio de Pompeia que terá surgido aquela frase lapidar:

- À mulher de César não compete apenas ser honesta, mas também que o pareça!"

O Dr. Franquelim será decerto honesto. Não está arguido nem foi condenado por ter feito alguma coisa de errado no exercício da sua profissão...

Mas...Quem não desconfiará da virtude do homem depois de ver as companhias que partilhou e os locais por onde andou??!!

Mandaria então a prudência dos antigos que não fosse nomeado para Secretário de Estado, pois o Governo da República , é uma "Coisa Pública" e não a empresa particular dos Senhores Passos , Gaspar&Cia Lda...

Mas foi. E mal. Acho eu.

Não deixem de ver hoje no Jornal da Noite das 20h , na SIC,  o 1º de uma série de programas sobre esta palhaçada do BPN que nos custou ( e está a custar) muito caro. Caríssimo...

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Poleiro de Galo

O regresso a um restaurante que estimamos mas que circunstâncias da vida - sobretudo o afastamento do local de trabalho - nos levaram a ignorar por vários meses, é sempre gratificante.

Os proprietários recebem-nos como a filhos pródigos! Mandam logo matar o bezerro mais gordo, isto é,  pôem na mesa os "mimos" todos que por lá possuem, na fundada esperança que o Cliente assim bem tratado não deixe de voltar mais rapidamente.


No Poleiro (Telefone - 217 976 265) do Sr Aurélio, ali à Rua de Entrecampos, quase pegado com o edifíco da PT, sempre comi bem, e nesta última vez não foi excepção.

Alheira no barro, bolinhas de vitela, presunto fatiado à mão, pataniscas. Seguiu-se uma Vitela Barrosã no forno e uma Barriga de Porco grelhada com arroz de favas. Soalheiro para entrar ( já o de 2011, muito bom a 23 euros) ) e Passadouro tinto de 2009 para sair ( excelente como vinho de colheita, a 26 euros). No final e para fazer "cama" em substituição do queijo , mais um mimo: uma chouriça de porco alentejano grelhada nas brasas.

3 criaturas comeram por 130 euritos , com os habituais cafés e um Jameson.

Há que referir que os enchidos de porco alentejano são todos da mesma proveniência, um recente produtor artesanal que apresenta produtos de muita qualidade, embora ainda à espera da certificação oficial:   Soledo de Mértola.

Vejam aqui sff que vale bem a pena: 
http://www.soledo.pt/pt/retalhista.php

O que não valeu nada a pena foi terem estado naquele dia de semana, ao almoço, 8 ou 9 pessoas apenas na casa...

P**** da Crise!

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Ainda a Antena 2: Wagner e Verdi

Uma das nossas leitoras pergunta qual o programa onde estivémos a falar de Wagner e Verdi em direto.

Foi no "Império dos Sentidos" de Paulo Alves Guerra. Entre as 7,00h e as 10,00h.

Para Descansar a Vista

Ontem não passei por aqui, suponho que adivinham que estive lá para os lados do último jardim, o das flores murchas.

Voltando à tradicional boa disposição deste Blog , já que para mim a melhor maneira de nos lembrarmos  de alguém é com recordações boas de tempos passados juntos, aqui deixo um poema de memória. Mas memória feliz.


De António Gedeão, o bom sábio, físico e poeta, uma belíssima  reflexão:

Poema da Eterna Presença

Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)

O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e não o esgote.

O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.

Se eu tivesse a memória das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memória da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram
continentes,
a minha pele lembrar-se-ia da temperatura das geleiras que galgaram sobre a
Terra.

Mas não esqueci tudo.
Guardei a memória da treva, do medo espavorido
do homem da caverna
que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;
guardei a memória da fome;
da fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez estender os lábios sôfregos para mamar quando cheguei ao mundo;
guardei a memória do amor,
dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;
guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.

Tudo se passou defronte de partes de mim.
E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,
porque os átomos da minha carne não foram fabricados de propósito para mim.
Já cá estavam.
Estão.
E estarão.

António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'