quarta-feira, outubro 20, 2010

Coisas estranhas na Beira Interior

Não se assustem que a cerimónia na Câmara Municipal da Guarda correu muito bem. O Livro das Judiarias foi apresentado pela Autora, na presença do Sr Embaixador de Israel, e muitos foram os recados políticos que se deram nos discursos de circunstância (neste caso, nem por isso). De salientar que esta "política" de que falo não é a Grande, do Orçamento e da P...da Crise, mas sim a das Regiões Interiores, a Política (ou a falta dela) de apoio cultural e de protecção do património, seja ele constituído pelas pedras vetustas de Judiarias ou pelos usos e costumes ancestrais....

Não Leitores, as coisas "estranhas" deram-se mesmo no capítulo dos "morfes", dos comes e bebes que rodearam a deslocação à velha Guarda da "Ribeirinha"...

Chegando na Segunda à noite, dia de encerramento das moradas de comer mais aprazíveis - Caçador e Belo Horizonte, este já aqui referenciado - aconselhados pelo gerente do Hotel metemos pés ao caminho para um tal Restaurante alcunhado de "Casa Mexicana"...

Ao chegar o ambiente era pouco menos que  téctrico: Televisão aos berros na sala, esta ataviada de panejamentos vermelhos escuros, carta mais que simples, abundante de grelhados, apenas com oferta carnívora de gado vacum  onde se misturavam sorrateiramente uns "Secretos" de porco preto... isto na Cidade da Guarda Amigos! Cabrito, nem vê-lo... E depois, os acompanhamentos das carnes pressagiavam o pior: Frutas estorricadas à mistura com os grelhados, império da batata frita...

Para entrada uns pratos de salada de orelha de porco (aqui...), de bacalhau desfiado á mão com cebola e salsa (mauzinho) e de uns cogumelos de lata estufados.

Pediu-se a medo um vinho local. O melhor - segundo o "patrão" -  seria um Touriga nacional de 2005, da Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo. O Vinho estava morto e delgado. Foi recambiado. Em substituição um Dão  Vinha Paz do ano, de 2008. Muito bom.

Já à espera de ser este um jantar para esquecer vimos chegar  os nacos das  Vitelas grelhadas. Os acompanhamentos metiam medo ao susto: ananás de lata "grelhado"; rodelas de banana e de Kiwi... batata frita mole...

Mas a carne... Quem diria que neste local se comia tão boa carne de vitela? Em quantidade mais do que suficiente para quem come muito bem, melhor do que em muitos restaurantes de Trás-os-Montes! Tenríssima, suculenta, de seda, a desfazer-se na boca...
"Ele há" Mistérios...

E o Preço? 4 transeuntes, nacos de Vitela para todos, Uma garrafa de Dão Vinha Paz (14 euros): 4 cafés ; aquelas entradas ..., tudo isto por ...67 euros.

Muitíssimo estranha aventura gastronómica, como têm ocasião de comprovar. A dar razão a um meu grande amigo portuense  que, quando era obrigado, normalmente pela mulher,  a ir ao Casino Estoril ver o espectáculo e jantar, pedia sempre uns "moletezinhos quentinhos" com duas doses de queijo da serra e uma boa garrafa de Barca Velha para acompanhar... e mandava às malvas o Jantar da Ordem...

Ora bem, no dia seguinte, depois da cerimónia, escapuli-me para a Covilhã, onde tinha encontro marcado com os colegas da Universidade local. Parando na berma da Estrada Nacional nº 18 (uma sua variante) deparei com um Restaurante de passagem: "Restaurante Pimenta".

 De novo a TV aberta e a dar uma inenarrável coisa que depois percebi ser a "A casa dos Segredos"  (en passant desejo sinceramente que os espectadores dessa bosta recuperem o mais depressa possível as suas capacidades normais. De facto, apenas por se encontrarem momentâneamente paralíticos e impedidos de se levantarem é que devem estar obrigados a ver e ouvir aquilo...).

Olhando para a carta, praticamente só Grelhados e um Prato do dia: Joelho de Porco com Arroz (tal e qual). Já muito desconfiado pedi umas Febras Grelhadas , bem passadas, pensado para comigo próprio que não seria possível ninguém maltratar demasiado tal simplicidade culinária.

Não só tinha razão como a travessa que me apresentaram era de um gosto e de uma apresentação fora do normal. Então num simples Restaurante de Estrada parecia quase "milagre":  magnífico arroz (que devia ser o do acompanhamento do Joelho de Porco) com couve tenrinha bem segada, ervilhas, uns grãos de feijão e pedacinhos de carne de porco frita. Batatas fritas das "verdadeiras", às rodelas estaladiças. Boa salada de temporada, com alface, tomate, cebola e cenoura. Febra magnífica de tenra,  grande, bem temperada e bem grelhada, sem pinta de gordura a escapar pelos bordos da travessa...

Com um café e uma mousse de chocolate acabadinha de fazer,  paguei tanto como ...15 euros. E ainda bebi meia garrafita de Branco "Conde Julião" da Cova da Beira...

E esta hein?  Não julgues o cavalo só pelo pêlo!

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