Numa Sexta feira de Primavera e antes que a chuva e o vento forte por aí apareçam de novo - o que não deve tardar - aqui vai poema...
Carlos de Oliveira nasceu em 1921 em Belém do Pará, mas já com dois anos de idade regressa a Portugal, estabelecendo a sua família casa em Cantanhede. É considerado um dos maiores poetas portugueses do Neo-Realismo, sendo as preocupações de carácter social sempre presentes na sua obra. Faleceu em 1981.
Este grande "poeta da melancolia lusa" é assim caracterizado pelo ensaísta, poeta e prof. universitário Fernando Pinto do Amaral:
"A poesia de Carlos de Oliveira não hesita em descer ao abismo de si mesma, fazendo-o sem a religiosa tensão de um Régio, mas descobrindo ao longo desse caminho o fascínio e o terror de um panorama submerso e infestado por uma sombria e luxuriante fauna e flora repleta de imagens informes ou viscosas (...).»
Soneto da Chuva
Quantas vezes chorou no teu regaço
Quantas vezes chorou no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço?
Virá abril de novo, até a tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita em que fores
carregada de cinza como a lua.
Porque bebes as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas.
Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que chuva e lama nas estradas
és tu, poesia, meu amargo rio.
Carlos de Oliveira, in 'Terra de Harmonia'
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