Foi meu Pai que me introduziu ao Gambrinus, lá pelos idos da Revolução, 75 ou 76.
Trabalhava no Ministério das Obras Públicas e - devido às funções que desempenhava - nem sempre gostava que o vissem ali por causa da frequência de gente endinheirada onde já se encontrariam alguns "patos bravos" que o conheciam bem, e dos bem "anafados" monetariamente falando...
Depois do 25 de Abril diminuiu essa frequência "aviária" e fui lá almoçar com o meu Pai algumas vezes.
Nunca mais deixei de lá ir, embora a frequência possa ser mais ou menos espaçada, dependendo do conforto momentâneo da bolsa e do local onde trabalho.
É engraçado - noto hoje à distância de 30 anos - que os velhos burgueses de Lisboa, sobretudo grandes advogados e médicos, mas também representantes do que se chamou mais tarde "old money", nunca deixaram de frequentar o Gambrinus. Quem se pôs a milhas (por algum tempo) foram mesmo os ricos mais ricos há menos tempo. Mas já regressaram, podem ficar descansados...
O Gambrinus é uma Instituição de bem servir em Lisboa. É um Restaurante que nem ouve falar de modas e que as despreza, embora abrace paulatinamente os novos Clientes que essas modas provocam. Nunca a ninguém - desde que relativamente sóbrio e apresentável - foi recusado serviço no Gambrinus, nem à mesa nem ao Balcão - o mais importante do País, barra respeitabilíssima pelo cuidado com o Cliente, antigo ou moderno, e pelas mordomias a que este tem direito.
Vi lá Presidentes da República e líderes do PCP. Estive ao lado (na barra) de grandes intelectuais deste País, mas também de ilustres desconhecidos que pediam um "gambrinus" (imperial mista) e dois croquetes fritos ao momento, no fim da tarde.
Tudo isto a propósito de uma visita mais recente que me deu ocasião para falar pela primeira vez deste Restaurante aqui no Blog:
Gambrinus
Rua das Portas de Santo Antão 23-25
LISBOA
Telefone - 21 342 1466
A casa tem duas entradas, um balcão enorme e duas salas. A principal que é a da fotografia acima e onde gosto menos de estar, tem uma mezanine e é dominada pela imponente lareira do fundo. A outra sala - identifico-a pelo retrato a óleo pendurado por cima da minha mesa favorita - é mais recatada e dá para aqueles almoços que começar começam, mas nunca se sabe quando acabam...
Gosto de entrar pelo Largo dos bombeiros, nas traseiras do Teatro Nacional, o que permite chegar à mesa praticamente anónimo. Claro que quem pretende ver e ser visto escolherá a entrada pela Rua do Coliseu e passará ao longo do comprido balcão podendo "cuscar" quem lá está sentado.
O tipo de refeição depende do local onde nos sentamos.
Ao Balcão impera Mestre Brito, um dos mais conhecedores escanções da nossa praça e profissional de grande mérito (ainda por cima quase nosso vizinho lá na Beira Alta) aí, nesse Oásis de conforto, gosto de começar pela Imperial branca com as famosas torradas de pão de centeio com manteiga e presunto pata negra.
Em apetecendo manda-se vir umas gramas de camarão de Espinho ou de Gambas de Cascais, só com sal grosso.
A seguir pede-se uma sandwich de rosbife frio com pickles, em pão de centeio torrado na altura e dois croquetes quentes.
Aviamos depois um prego do lombo grelhado e terminamos com uma dose de Queijo de Serpa meio curado.
Tudo isto com cerveja mista ou branca (a €2,20 cada copo de imperial).
Uma boa alternativa é passar do pata negra e das gambas para uma "Omolete aux fines herbes" com umas batatas fritas feitas como desejarmos (aos palitos finos, aos grossos, às rodelas finas, às grossas, etc...)
Na Mesa temos os chefes Dias ou Octávio e embalados pelas seus conhecimentos podemos ( e devemos) ir para uma cozinha um pouco mais elaborada. Tenham atenção que todos os dias há Pratos fora da Carta (na minha última visita eram pastéis de Bacalhau com o arroz a gosto) e que estes merecem quase sempre prova.
Se estão "numa" de impressionar a garota (enfim, "the significant other" para ser politicamente correcto) lembrem-se que os Crêpes Suzette do Gambrinus, feitos à mesa pelo Sr. Dias , são um espectáculo de encher o olho... É claro que os habitués do velho restaurante olham para essas "exéquias de circo" um pouco de lado, mas no Amor vale tudo...
O Gambrinus, sendo uma Casa de Restauração com a classificação "Luxo" , é de facto caro, mas talvez nem tanto como poderíamos pensar.
Ora vejamos:
Dois "Grand Old Dad" (bourbon que deve estar naquela casa desde a Revolução) a 5€ cada.
Duas Gambrinus e uma garrafa de Alvarinho Soalheiro (a 24€).
Um Prato pequeno de Pata Negra com torradas de centeio (a 13€)
Duas doses de Pastéis de Bacalhau com arroz de grelos (para um "malandrinho, para o outro mais seco) a 22€ cada uma (aqui o preço é mais "puxado", mas convém dizer que vão servindo pastéis e arroz até o Cliente mandar parar).
Duas doses de Queijo Serpa a 8€, dois cafés de Balão a 1,50€.
São preços que só nos permitem lá ir de vez em quando - está claro - mas como que em obrigação de manter esta grande Casa sempre aberta e aproveitar para tomar "banho de civilização", pois não conheço casa tão civilizada e praticante de tão excelente serviço ao Cliente como esta.
E olhem que já estive em muito lado.
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