Não sei se repararam que há cada vez mais pessoas a "falarem sozinhas". Ainda hoje passei por um homem a caminho da Versalhes que falava baixinho para ele próprio. E em ucraniano (segundo me pareceu).
Eu falo muitas vezes sozinho, sobretudo no banho . Tenho a mania de cantar debaixo de água quente. Se for fria só dou berros. A minha canção de hoje foi "I've got you under my skin". Mas a mais normal, a que repito mais vezes, é o velho clássico "My Way".
Os psicólogos e outros especialistas dividem-se sobre a matéria. Uns dizem que é saudável falarmos em voz alta para nós próprios. Noutros sites aparece este sintoma como um sinal precoce de demência ou psicose...
É um pouco como o tratamento para os ligamentos e lesões musculares. Uns fisiatras aconselham água quente, outros aconselham gelo... A média seria água morna.
Recorro à minha mestra Sophia para vos "emprestar" o curto mas belíssimo poema desta sexta feira. É, inevitavelmente, sobre as palavras. Haja respeito pelo que dizemos.
Ou uns aos outros ou a nós próprios...
Com fúria e raiva
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"
Nenhum comentário:
Postar um comentário