sexta-feira, agosto 21, 2015

Para Descansar a Vista...falando sozinho



Não sei se repararam que há cada vez mais pessoas a "falarem sozinhas". Ainda hoje passei por um homem a caminho da Versalhes que falava baixinho para ele próprio. E em ucraniano (segundo me pareceu).

Eu falo muitas vezes sozinho, sobretudo no banho . Tenho a mania de cantar debaixo de água quente. Se for fria só dou berros. A minha canção de hoje foi "I've got you under my skin". Mas a mais normal, a que repito mais vezes,  é o velho clássico "My Way".

Os psicólogos e outros especialistas dividem-se sobre a matéria. Uns dizem que é saudável falarmos em voz alta para nós próprios. Noutros sites aparece este sintoma como um sinal precoce de demência ou psicose...

É um pouco como o tratamento para os ligamentos e lesões musculares. Uns fisiatras aconselham água quente, outros aconselham gelo... A média seria água morna.

Recorro à minha mestra Sophia  para vos "emprestar" o curto mas belíssimo poema desta sexta feira. É, inevitavelmente, sobre as palavras. Haja respeito pelo que dizemos.
Ou uns aos outros ou a nós próprios...

Com fúria e raiva
Com fúria e raiva acuso o demagogo 
E o seu capitalismo das palavras 

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada 
Que de longe muito longe um povo a trouxe 
E nela pôs sua alma confiada 

De longe muito longe desde o início 
O homem soube de si pela palavra 
E nomeou a pedra a flor a água 
E tudo emergiu porque ele disse 

Com fúria e raiva acuso o demagogo 
Que se promove à sombra da palavra 
E da palavra faz poder e jogo 
E transforma as palavras em moeda 
Como se fez com o trigo e com a terra 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas" 



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