A não ser que alguém possua meios para criar perús livremente no campo, alimentados a milho, alfaces e couves, vadiando alegremente pelos prados?
Não têm desses? Então façam um favor a toda a gente lá de casa e atravessem-se pelo Cabrito...
Dito isto, por motivos que se prendem com a necessidade das minhas anciãs cá de baixo ("velhas" nesta quadra parece mal, e "santas" não lhes chamo enquanto me lembrar da última partida que me fizeram) viverem em boa harmonia comigo e com o senhorio, este ano terei de assar um perú... A decisão foi tomada por ambas, tendo em atenção que:
- "Tu (eu) depois vais-te embora para a quinta e do cabrito não sobra nada! Ao menos com perú ficamos com sandes para vários dias!".
Lógica inatacável...
Para assar um perú (conhecido nos meios entendidos como o McDonald's circulante) que tenha nos pratos um mínimo de sabor e que disfarce tanto quanto possível a ração e a farinha com que foi alimentado, há apenas duas opções.
Ou compramos no El Corte Inglês (encomendando) um perú de criação biológica, segundo parece oriundo da Herdade alentejana do Freixo do Meio:
http://www.herdadedofreixodomeio.com/pt/component/content/article/70-perus.html
Ou então há que utilizar a imaginação (com resultados as mais das vezes sofríveis, mas melhores do que nada).
Assim, aqui vai uma proposta que parte do princípio que temos um perú inteiro, com os seus miúdos.
Depois
do peru arranjado e bem limpo, esfrega-se com vinho branco e cortam-se as extremidades das patas e o pescoço.
Coloca-se o peru num alguidar coberto com
água fria, sal (1kg) , laranjas e limões ás rodelas. Deixa-se ficar assim de um dia
para o outro.
No dia seguinte, escorre-se e enxuga-se com um pano de modo a
ficar bem enxuto.
Temos entretanto já preparada uma pasta de barrar feita com massa de pimentão, alhos, cebola , pimenta preta, sal e azeite. Os alhos e as cebolas são levados à máquina de triturar (1,2,3) e depois temperados com os outros ingredientes numa tigela funda. Com a mão passa-se esta pasta por todo o peru.
À parte, partimos para outra tigela 250g de pão alentejano de trigo em bocados, que se envolve em 3 ou 4 ovos inteiros. Juntamos 150 g de presunto cortado em pedacinhos, um patê de foie gras que tenha pelo menos um "arremedo" de trufas , os miúdos que foram alourados em azeite, picados ou partidos finos . Mexam bem com o molho que ficou na frigideira de alourar os miúdos, de forma a ficar um preparado homogéneo.
Enche-se o peito do peru
com este preparado, calcando para que fique bem cheio, e fecha-se a a abertura com
agulha e linha .
Vai ao forno quente por umas 2 horas a 2 horas e meia. Na altura de tirar deve ser "apresentado" a uma corrente de ar fria para se "constipar", ficando a pele crocante.
Costumo acompanhar este Perú com batatas fritas aos cubos e grelos salteados de nabo.
Mesmo que o sabor final não seja entusiasmante para gastrónomos exigentes, ajuda muito se o acompanharmos com um Tinto "à maneira"!
Três opções "capitalistas":
- Quinta da Leda 2011 (magnífico Tinto do Douro de um ano excepcional! Cerca de 37 euros...)
- Dão Quinta da Pelada , Álvaro Crasto, 2011 (idem, idem para o Dão, cerca de 28 euros...).
- Quinta do Mouro Tinto de 2008, alentejano de Estremoz. Custará cerca de 35 euros.
Baratas são carochas? É bem certo...
Mas ainda há outras possibilidades, com relevo para uma, que descobri por acaso e me entusiasmou. O Vinha do Mouro 2011 (também ele do Dr. Miguel Louro) que não chega aos 6 euros! Muito bom!
Nota: quem não gosta de perú mas é obrigado a tê-lo na mesa, faça como eu. Coma pouco da ave e passe logo para um pratinho de queijo da serra a escorrer, com pão quente. Tem é que manter perto de si um vinho tinto em condições! Isto não é negociável!
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