sexta-feira, dezembro 12, 2014

Para Descansar a Vista

Recorro mais uma vez a meu mestre Eugénio de Andrade. Esta sexta feira de nevoeiro lembrou-me o primeiro tema. Ao qual acrescentei um belíssimo poema de solidão, também ele adequado a este Inverno do nosso descontentamento.

E é Natal... Mas só a 24. Talvez esse seja o problema.

Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos como animais envelhecidos;
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos:
como frutos de sombra sem sabor
vamos caindo ao chão apodrecidos


Eugénio de Andrade

As palavras que te envio são interditas

 As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma  regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

 

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