O meu mestre António Mendonça (Beira Mar e Monte Mar) foi um dos que se encarregou da minha "endoutrinação" na prática da cozinha, assim que - mau fado nosso e dela - a minha mulher partiu.
Eu tinha sido criado por tias velhas que sabiam cozinhar muito bem. Meu Pai também se ajeitava à frente dos tachos, fruto dos ensinamentos maternos. A Natália já cozinhava para 10 pessoas lá na quinta, ainda não teria 15 anos... E eu, bem criado e bem casado, aproveitava que me fartava (o que ainda hoje se nota).
Minha Mãe, infelizmente, nunca soube estrelar um ovo e o vosso blogger sempre entendeu que, neste aspecto, saía à mãe (salvo seja).
Na altura da nossa crise familiar Mestre Mendonça ensinava, eu ia aprendendo. O que me preocupava por vezes era a falta de tempo, durante a semana, para me dedicar à cozinha. Quem começa necessita de mais tempo, e apenas a experiência dá desembaraço.
Uma das primeiras coisas que aprendi foram uns ovos mexidos com alguns ingredientes que os faziam destacar do vulgar de Lineu. Mendonça chamava a isto "comida de p****", mas como isto é um Blogue decente, em vez disso chamei-lhes "ovos mexidos à Maluco". Sendo de referir que o maluco sou eu, e não quem mos ensinou a fazer!!
Digo isto e sublinho, para ver se me cabem algumas perdizinhas à Beira Mar ainda este ano...
Os ovos devem estar à temperatura ambiente, bem assim como um pouco de leite gordo.
Cortamos em bocados pequenos uma cebola e três ou quatro dentes de alho. Tomates cherry devem também estar já lavados e cortados ao meio. Deitamos para uma tigela grande os ovos (3 por pessoa) juntamente com sal, pimenta e uma colher de sopa de molho de tomate (gosto de Barilla). Batemos , contando 100 golpes de garfo.
Depois de batidos juntamos a cebola, os tomates cherry e o alho e envolvemos bem.
Numa frigideira de bom tamanho e com bom azeite alouramos um chouriço cortado aos pedacinhos (de porco preto custa 2€ no Tio Belmiro, marca branca).
Em estando o chouriço alourado juntamos o conteúdo da tigela à frigideira e vamos mexendo até os ovos fritarem, mas sem deixar queimar.
Vai na frigideira para a mesa, salpicado de salsa. Onde deve estar bom pão (que será o único acompanhamento). Único, não, porque um copo de tinto faz sempre boa companhia.
Ao longo dos anos evoluí dos ovos mexidos à p*** para outras coisas. Nesta aprendizagem muita gente sofreu, destaco o meu senhorio (coitado) mas também os amigos Alves, que ainda hoje se devem lembrar das "batatas Cabo da Roca" que se viram negras para chegar à mesa do bacalhau...
Depois triunfou o ADN. Minha bisavó Jerónima foi cozinheira de El-Rei D. Carlos, no Palácio de Queluz , e seu marido, meu bisavô João da Cruz, era carteiro no Murtal e no Estoril. Nasceu em 1853, na data de emissão do 1º selo português.
Eu teria inexoravelmente de ser o que sou hoje...
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