sexta-feira, novembro 28, 2014

Para Descansar a Vista

Os dias estão cheios de incertezas. Estava eu a apoiar o meu Estoril (viro-me sempre mais para o Estoril-Praia quando os vermelhos me dão desgostos) e a vibrar com as recuperações de resultado face aos alemães, quando já não houve segunda parte por causa da chuva...

Vão ver que hoje, com o solzinho a brilhar, os alemães ainda nos ganham, apesar do nome do nosso clube ser bem solarengo, acima como a cor das camisolas.

Existe também incerteza em relação a coisas mais sérias, de onde destaco obviamente a evolução do Desemprego. Sem dúvida a maior chaga social e a mais importante consequência da crise que assolou o mundo ocidental. Depois do Verão e do trabalho temporário como se evolui?
Para trás, como seria de esperar.


Por isto tudo aqui vos deixo um poema que bem poderia ilustrar estes novos tempos.
Poema de um grande, enorme, poeta alentejano, pois nesta data importa louvar o "Cante" e a sua subida a Património Imaterial da Humanidade! (obviamente com direito a selo postal comemorativo!).

Dona Abastança

"A caridade é amor"
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"


Um comentário:

Fernando Bernardo disse...

Caríssimo,
Esse desgosto vermelhão é tão grande, que o leva a confundir holandeses com alemães. :-)

Abraço e um bom fds.